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segunda-feira, maio 29, 2023
ÂNGULOS DE WINDHOEK
domingo, maio 28, 2023
EM BUSCA DE ARTESANATO EM MONA QUIMBUNDO
segunda-feira, maio 22, 2023
ATÉ JÁ, SAMBA-CAJU!
SAMBA-CAJU
Bem, é de Samba-Caju que me propus escrevinhar.
No sentido Wiji-Ndalatandu, fica entre a comuna de Kyangombe e Lukala. A vila, erguida numa elevação recortada por regatos que se espraiam no sopé, projectando-se caminho abaixo, é invisível aos olhos apressados. Apenas a igreja se faz anunciar imponente ao lado do caminho grande por onde deslizam os carros velozes.
É preciso parar e adentrar para ouvir o falar das gentes e beber da História.
A guerra movida pela unita tem em Samba-Caju as suas marcas muito presentes.
Ante a beleza estética e robustez das edificações, a força voraz do tempo foi clemente. Nem tudo foi ausência de restauro.
_ Quem mais partiu foram esses aí. _ Apontava Miguel da Cruz a uma bandeira bem conhecida.
Citou o tempo de um famigerado Kavulandunge como "o de maiores destruições".
- Parecia que era brincadeira deles. Quando lhes apetecesse, vinham e dinamitavam, quando não ficassem por mandar obuses de RPG-7 e dilagramas contra os telhados. _ Conta, expressando ainda revolta, a cada imagem que a sua memória recupera.
Miguel anda na casa dos 50 anos e diz "ter sido raptado para servir os kijibanganga", de onde "escapou por um triz", fazendo-se a pé até Kapanda.
Decidi deixá-lo caminhar, desta vez, em direcção à sua lavra e com a promessa de voltar à vila para, quiçá, voltarmos a pôr a História em dia, pois ficou por desvendar o sentido etimológico do topónimo Samba-Caju.
Até breve!
quinta-feira, maio 18, 2023
DOMINGOS: O ARTESÃO AMBAKISTA
_ Quanto é? _ Questionei.
_ Espera. Vamos chamar o dono.
Antes mesmo que o dono chegasse, alguém se apressou em apreçar os banquinhos que ajudam as mamãs batedoras de funji (em minha casa são as minhas filhas Evelise e Princesa quem fazem o principal alimento caseiro do papá).
_ É 300. _ Ouviu-se uma voz colada a uma palmeira. O teeneger nem sequer mostrou a cipala.
_ Faz duzentos e cinquenta, jovem, e levo os quatro banquinhos.
_ Não dá. O dono não está. _ Retorquiu, sempre com o rosto ausente.
Não tardou, chegou o Dimingos, alegre e comunicativo. Mostrou a "montra toda": um conjunto de sofás e mesa de centro e outro sem a mesinha que custava quinze mil Kwanzas. A "mobília completa da sala de visitas" custava cinco mil a mais.
Doeu não possuir espaço suficiente na viatura para levar o artesanato do Domingos que aprende com o seu mano a reprodução dos sofás, usando material local.
_ É tudo com bordão, mano. Não entram pregos nem parafusos de metal _. Explicou.
Não podendo levar o conjunto, acabamos consolados, ele e eu, com a compra dos quatro banquinhos distribuídos, posteriormente, entre a casa da minha mãe e a minha. Um saco de fuba de milho amarelo, comprado no aldeamento do buta muntu Mawete, e uma lebre comprada nas proximidades de Ndalatandu completaram as oferendas à Nga Madya que fechou setenta e seis kixibo (cacimbos) no décimo terceiro dia de Maio.
sexta-feira, maio 12, 2023
ADEUS, MANGODINHO!
O nome dele de nascença, na aldeia de Mbangu-yo'Teka, era Katumbila, filho de Godinho. Na puberdade, atribuiu-se o de Zequeno (José pequeno) e assim ficou conhecido por toda a família e aldeias envolventes ao seu Kuteka. Exímio pescador por "tarrafa", "kikoyona" (rede de raspagem) e caçador de kambwiji, Zequeno ganhou outro nome que o eterniza enquanto "actor" da prosa para-literária e literária.
Um primo bricalhão e contista passou a tratá-lo por mano Godinho ou MANGODINHO, nome que lhe ficou ajustado como pele por cima de um boi bem nutrido, ficando assim conhecido além Lubolu nos últimos sete anos de sua passagem terrena.
A entrada de Mangodinho nas crónicas e contos de Soberano Kanyanga aconteceu em uma situação de óbito, em Luanda. Saído da sua aldeia de Kuteka para emprestar ombro aos que lamentavam a partida prematura de sua prima, 22 anos e quase doutora médica Cici, para Zequeno tudo era espanto. A piscina que lhe parecia "kizenga" (pequena represa em um rio e local para pesca); o andar e falar das pessoas sempre apressadas; a ausência do "bom dia" entre vizinhos; a solidão no quintal murado (dizia é cadeia); a comida farta, embora não tenham lavras; o vinho abundante, entre milhentas coisas.
O soprar do vento e a passagem de carros eram tormento que o fez verter, internamente, rios de lágrimas, maiores do que as externalizadas quando da sua chegada ao velório da prima perdida. Assim surgiu o personagem Mangodinho "artista" de muitos relatos sucedâneos (ficção, realidade e mistos), ocorridos em inúmeras partes do mundo geográfico real e imaginário, trazidos por Soberano Kanyanga.
Mangodinho, acometido por uma doença pulmonar, foi levado às pressas à capital da "terra grande" para cuidados médicos especializados. Esboçou sempre simpatia e sorriso meio rasgado, mesmo respirando a custo.
Deixou-nos, desprovidos de chão, ao fim da tarde de 12 de Maio, num dos hospitais de Lwanda.
Adeus, Mangodinho!