Lembrei-me, mais uma vez, do meu primo Zito ou Sabalu Kambota. Era o mais intrépido do seu tempo, na minha família. Foi à tropa aos 18 ou 19 anos, participando de encarniçados combates no Munyangu, rota Vye-Moxiku, ao longo da ferrovia que, ao tempo (anos 80) era o ex-libris da Unita.
Atingido no tornozelo direito, na batalha que eliminou o temível comandante kwacha Tembi-Temji, foi gozar uns dias de repouso em Lwanda. Estávamos no ano da Conferência dos Países Não Alinhados e os que eram jovens sabem.
Foi feita uma apertada rusga. No Kwandu nyi Kuvangu havia uma tarefa patriótica de grande importância histórica.
O meu primo Zito ou Sabalu Kambota foi apanhado na esquina da Rua 10 da Comissão do Rangel, sem a Licença Militar que estava em casa. Não teve tempo de escapar e nem lhe foi dada a oportunidade de pegar e apresentar os documentos.
- Sube na quintal nda jeep, num suja peneu! - Ordenaram apenas os homens do PCU que eram de poucas palavras.
Apercebendo-se, depois, que ele era um militar já muito "cacimbado", foi compulsivamente levado ao KK, onde continuou a sua valentia, não se acobardando perante o poderio do fogo inimigo das SADF e seus lacaios da Njamba.
Esteve em todas as frentes e batalhas de Mavinga e Kwitu Kwanavale. Falou-me de ter voltado a atravessar o Rio Longa que tinha conhecido no Moxiku. Na simbiose entre "guerra e virilidade", disse ter deixado um rebento no Kwitu Kwanavale a quem atribuiu o nome de Adriano (seu irmão mais novo).
Quando já ninguém contava com o seu regresso, vimo-lo chegar, em 1992, desmobilizado e animado para uma nova vida, ostentando várias medalhas militares (outorgadas pelos governos de Angola e de Cuba) por ter participado heroicamente nos mais importantes momentos da História Militar da década de 80 (Se. XX).
Desmobilizado, sem kit de sobrevivência, sem formação adequada, sem apoio para a reintegração social, emhora contando com o apoio dos familiares em Lwanda e Lubolu, Sabalu Kambota "Zito" fazia o negócio de compra e revenda de macroeira entre o Kuteka (Lubolu) e a Praça das Corridas, em Lwanda, vivendo a sua vida de pacato cidadão que apenas pretendia viver o tempo que lhe fosse possível, sem mais ouvir explosões e ver homens despedaçados.
Uma vez, saindo do seu Kuteka e a caminho de Lwanda, o camião em que seguia capotou. Perdemos o nosso militar mais intrépido, o soldado mais condecorado de então na minha familia.
Apesar de assinar Sabalu Kambota, era o 1° neto do Soba Ñana Ñunji Kitinu ou Kanyanga, sendo o sobrinho mais velho da minha mãe. É dele, primo Zito, que me lembro e homenageio quando se assinala e festeja o 23 de Março (de 1988).
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Texto publicado no Jornal de Angola de 02.04.2023
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