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domingo, novembro 25, 2018

NA PRAÇA VERMELHA

Já tinha tido antes uma pequena experiência de tentar pôr o coiso na coisa, com cuspo, e, entalado entre os músculos, gritar "ai, xta doce! ", mas sem que algum efeito estranho, prazeiroso ou de acelerar o coração, bombear o sangue e avolumar os músculos fosse verificado. Era apenas uma brincadeira de papá e mamã e foi há muitos anos.
A caminho da adolescência e juventude, o tempo é curto. O sonho é ser mais velho e livre, fazer coisas proibidas pelos makota e ser como eles. Surrar os dikotas malaikes, namorar as moças mais vistosas, mesmo sem o lado lidiminoso apurado ainda, deixar os cocoritos e, às vezes, a porrada de "cagar bichos" que os mais valho nos infringiam com a sua doutrina militarista de "forjar o ferro no fogo do sofrimento" e desgraça. E diziam vaidosos:
_ Sofrimento forja. O suor que se gasta no treino é sangue que se poupa no combate.
Foi nesses termos que atingi o ano 12 da minha existência.
A minha prima Fátima estava casada com um tropa da FAPA-DAA. Vivia no bairro popular e ele no Huambo onde pilota a helicóptero. A sua mãe, acometida de uma patologia que me escapa, vivia na rua 10 da Comissão do Rangel. Momentos após ao seu passamento, meu tio foi cuidar da casa que se achava desocupada. Anro 5-A, junto ao beco longitudinal que cortava a urbanização em quatros blocos, pois a escola ocupava o quarteirão todo e interrompida o beco. A moradia de dois quartos é sala, construída em placas de betão pré-fabricadas, tinha anonácea pequena, trepa deitas de flores vrrmelha à volta do quintal, goiabeira pequena e uma mangueira já grande e que dava fruta duas vezes por ano. Verdes ou maduras, a árvore tinha sempre mangas. Era nela que me divertia, quando não tivesse aulas ou antes delas. Imitando simios, pulava de ramo em ramo, provando se as mangas estivessem ou não prontas para a colheita.
Na parte traseira da nossa casa vivia um casal de Nguengo. O pai era ausente. A mãe, cabelos longos e muito simpática, era nossa mana mais velha. Tratava-a por tia Helena, mãe do Feito e outros irmãos, duas eram gémea. O "ti- Fausto", contemporâneo de meus primos já jovens era tio do meu amigo Feito.
A Amélia era vizinha da casa dianteira, casa colada ao beco. A mãe trabalhava na ODP que ficava na ponta da rua, na perpendicular com a Comandante Cantiga e início da Rua de Bissau.
A menina devia ter a minha idade, um ou dois anos mais velha no máximo. Frequentava com regularidade a nossa casa onde o arroz-doce o feijão e as mangas não faltavam. Também fazia pequenos serviços. Ora me ajudando, a meu pedido, ora a pedido do meu primo Zito que era FAPLA em licença de saúde, depois de ter levado uma bala encravada no tornozelo, na célebre batalha que apagou o temível Tembi Tembi.
A amizade entre Zito e ela, Amélia, embora pequena, era muito próxima que a minha amiga deixava de me dar confiança quando ele estivesse em casa.
Pior, foi quando o tempo de licença terminou e decidiu não voltar ao Moxico. Tornou-se caseiro e as minhas brincadeiras com a Amélia mínguaram.
Uma vez estava eu com a panela de arroz-doce no fogão primix (a petróleo com injecção de oxigénio), decidi trepar à mangueira do quintal e colher duas mangas que se mostravam amarela. Entre eu e os passarinhos alguém tinha de chagar primeiro. A Amélia viu-me pela rua e anunciou.
- Posso antrar, não vais me bater?
- Podes.
- Teu primo não está aí?
- Não.
Meu tio e o meu outro primo (a quem até hoje trato por mano Arnaldo) eram trabalhadores. Um na autoprotecção da Enatel e outra na CPPA. Só o Zito, que passou a fugir das rusgas, ficava em casa, mas nesse dia havia saído.
A Amélia entrou e propôs um pacto.
- Vou te ajudar a lavar a loiça e varrer o quintal, desde que partilhes o teu Matabicho, arroz doce, comigo.
Não titubiei. Arroz cozido, arroz partilhado. Depois da refeição outra sugestão.
- Quero descansar. Podes estender o teu luando e dormirmos juntos no vosso quarto?
Eu partilhava o quarto com o meu irmão polícia que não podia saber que uma miúda estranha o adentro. Na inocência, estendi a lona militar, e lá nos metemos.
-Pega também o lençol. - Sugeriu para acrescentar: "Apaga a luz e fecha as portas e janelas".
Obedeci. Momentos depois, ela já percorria toda minha inocente biografia.
- Tira a roupa.
Tirei sem perguntar por quê.
- Vem por cima de mim.
Comecei a sentir estranheza, mas obedeci.
Pegou a minha pistola. Demorou carregar e tal só aconteceu por causa de umas manobras perigosas da inimiga.
- Põe a pistola na trincheira funda da revolução.
Pu-la. Porém, a relva que circundava a trincheira foi um incómodo.
- Faz assim, assim, assim. Mete tua língua na minha boca.
Tudo novo. Cumpri as ordens entre desconforto e curiosidade. Uns passos e vozes conhecidas fizeram interromper a operação. Era o Zito e o Fausto, dois fugitivos da vida militar.
- Amanhã Virei mais. Faz de novo arroz-doce.
Dia seguinte, fui às bombas compara petróleo, acarretei água, preparei o fogão, a panela do feijão que se seguiria ao arroz-doce e, com o arroz a enxugar, trepei a árvore para controlar os movimentos da Amélia e fazer-lhe o convite.
- Podes vir.
Não demorou. Comemos o arroz e momentos depois, na mesma Praça Vermelha, com a cor da revolução, fui comido como no dia anterior. Desta vez, de forma gostosa, pois já sentia algum sangue bom a correr em mim.
Ao terceiro dia, já possuído de lídimo, fiz o convite. Mas na hora dos vamos ver, o meu primo Zito, com dinheiro na mão conseguido num kadyenge qualquer, e talvez farto de arroz com feijão daquela época, manda-me à Praça das Corridas comprar peixe. Fui e voltei a correr, fazendo vênia ao nome do mercado que ficava ao pé do Supermercado Nzala ikola de António Silvestre.
Como manga doce tem sempre pretendentes, ao chegar à casa não vi nem a Amélia, nem meu primo Zito.
Procurei estudar os movimentos dela e nada. Decidi ficar na parte dianteira do quintal que me ajudaria ver a Amélia a passar. Qual meu espanto?
Receoso de que eu descobrisse e eventualmente contasse ao tio ou ao mano, o primo Zito faz a Amélia pular pela janela frontal do quarto, exactamente no sitio onde eu me encontrava. Só tive tempo de falhar-lhe uma galheta, ganhando uma valente sova do primo kwemba filipado, de muitas batalhas militares no leste de Angola, e rebarbado.
Assim fui "deflorado" na praça Vermelha!

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