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sábado, setembro 22, 2018

PELAS ESTRADAS DA TERRA

Bem o título podia ser "pelos estradas rebatidos da vida" ou "neve de poeira". Cada viagem é única, singular, prenhe de descobertas. Luanda ao Dondo já deu azar e prazer. Curto prazer nos poucos dias em que se aproximava à via expressa com separador no eixo central. Sol de pouca dura. Voltaram ao "ais" do antigamente. Gritos de homens torturados pelos equilíbrios e desequilíbrios da máquina resmungante e "ais" do carro que se bofoca e tritura. Até a terra, triturada pela passagem sem fim de viaturas, também solta seus gritos em busca de socorro. E me vem à memória o motorista filipado das FAPLA que ignorava o buraco na precaução de evitar um explosivo. Felizmente, já não se cantam nem contam minas. Foram apagadas do vocabulário politico-mediático. Apenas as estradas sugadoras de dinheiro nosso e vidas nossas.
Outro troço digno de anotação é o que nos leva de Kalulu à Kibala, paralela à EN240. Maior inteligência teve quem o traçou e quem decidiu, nos tempos de vacas hordas, alcatroá-lo, conferindo-lhe dignidade de via secundária de grande utilidade. Facilitaria a vida de que se fizesse do Sul ao Norte, sem ter de passar pelo Dondo. Kibala-Kalulu-Kabuta-Ponte Filomena-Ndalatandu-Etc. Uma boa agropecuária demanda estradas, uma circulação segura e rápida também. As estruturas metálicas para as pontes ganham ferrugem. As bases prontas para receber alcatrão ganham buracos. O tráfego que já foi fácil é sacrilégio. E, como poucos decisores por lá passam, nem o recado da estrada aos gabinetes chega.
Foi adentrando tal "atalho" entrecortado, "kabucado asfalto, resto poeira, se revezando", que matei a curiosidade de há já quarenta anos, quase. Sempre me fiz à pé ou em meio rolante do Limbe (aldeia hoje inexistente) ao Lussusso (12 km) e do Limbe ao Desvio para Munenga - Kalulu (26km). O que há em comum são os 42 km que separam o desvio da Munenga e o do Lussusso para Kalulu.
- Mas os brancos, quando construíram a vila, medida as distâncias e meteram no meio a aldeia que cresceu para Vila ou foi mera coincidência?
A pergunta dos tempos de undenge persiste na cabeça de outros tundenge de hoje. A idade e a possibilidade apenas permitiram-me conhecer a estrada na qual (Lussusso-Kalulu) nunca havia circulado. E deu para aferir quanta serventia tem e virá a ter quando ela for valorizada e concluída. Há dinheiro apodrecendo à beira dos rios!


Publicado pelo Jornal Nova Gazeta, Agosto 2018
 

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