No território de Angola, os sobas coabitaram com a colonização que os esvaziou de seu poder ancestral, remetendo-os a meros expectadores e servis dos chefes-de-postos, aos quais tinham de fornecer "peças", quando solicitadas, para as empreitadas rígidas nas estradas, pontes e até mesmo em fazendas de colonos recém-chegados ou já há muito instalados. A recusa em fornecer homens "pagos com a entorpecente água-dente e cobertor e alimentados com peixe e fuba podres" podia resultar em valentes e impiedosas chicotadas, à frente de seus súbditos, ou mesmo a morte por desobediência ao branco-colono.
Chegada a revolução, o soba continuou a coexistir diminuído nos seus poderes. Surgiu uma nova figura na gestão dos assuntos comunitários que foi a do comité que era o dirigente político-revolucionário da sanzala/aldeia tomando as decisões em nome do povo. E assim foi da independência às guerras que se lhe seguiram.
Um dia, quando os valorosos combatentes pela liberdade, aqueles que correram com os colonos exploradores de nossas riquezas, deixaram de se entender, os que optaram pela mata, guerreando seus ex-companheiros de causa, chegaram à aldeia fardados, armados, e diziam-se "chateados com o nguernu e o enduartu". Organizaram, já aurora, uma fogueira com batuque e kisaka (chocalho). Beberam do que encontraram e uns até entraram em xingilamento (transe). Chamaram o povo para falar sobre o que lhes acorria e pedir comida que, no fundo, era o que mais pretendiam. O resto era pretexto.
No final do discurso do chefe deles, um homem alto e fininho como lombriga, alguém quis mandar o povo aplaudir. Lá na parte traseira em que se encontrava, ordenou autoritário e em bom som:
- Mbate simão!
Alguém, dentre os populares era Simão. Todos o conheciam pelas ideias que defendia, pois era o comité da aldeia. Quando não viessem os de verde-oliva, eram os de farda malhada que governavam, os da equipa do Simão. Destarte, foi vítima.
Afinal era para bater as mãos!
Texto publicado pelo jornal Nova Gazeta a 14/09/2017
Chegada a revolução, o soba continuou a coexistir diminuído nos seus poderes. Surgiu uma nova figura na gestão dos assuntos comunitários que foi a do comité que era o dirigente político-revolucionário da sanzala/aldeia tomando as decisões em nome do povo. E assim foi da independência às guerras que se lhe seguiram.
Um dia, quando os valorosos combatentes pela liberdade, aqueles que correram com os colonos exploradores de nossas riquezas, deixaram de se entender, os que optaram pela mata, guerreando seus ex-companheiros de causa, chegaram à aldeia fardados, armados, e diziam-se "chateados com o nguernu e o enduartu". Organizaram, já aurora, uma fogueira com batuque e kisaka (chocalho). Beberam do que encontraram e uns até entraram em xingilamento (transe). Chamaram o povo para falar sobre o que lhes acorria e pedir comida que, no fundo, era o que mais pretendiam. O resto era pretexto.
No final do discurso do chefe deles, um homem alto e fininho como lombriga, alguém quis mandar o povo aplaudir. Lá na parte traseira em que se encontrava, ordenou autoritário e em bom som:
- Mbate simão!
Alguém, dentre os populares era Simão. Todos o conheciam pelas ideias que defendia, pois era o comité da aldeia. Quando não viessem os de verde-oliva, eram os de farda malhada que governavam, os da equipa do Simão. Destarte, foi vítima.
Afinal era para bater as mãos!
Texto publicado pelo jornal Nova Gazeta a 14/09/2017