Lucala, aldeia que dista dezanove quilómetros da vila de Kibala, no Kwanza-Sul,
é uma comunidade que *sorri todos os dias*, apesar da poeira e do frio que fazem
dos corpos de seus aldeões autênticas telas de arte pictórica.
-Aqui, o cieiro não tem dia e se você põe creme, ainda é mais pior. - Desabafa Rosa José, visitante em situação de óbito de um irmão, mas também ela natural daquelas cercanias.
Apesar do frio, que dizem se ter acentuado desde que a Fazenda Mbumba-Alunga construiu um dique de contenção de água que propicia a rega de enormes campos agricolas que fornecem batata do reino e outros agroalimentos ao mercado luandense e a algumas indústrias transformadoras, segundo o morador José António, o povo anda *muito satisfeito*.
- É que o povo já tem trabalho aqui perto e os empresários portugueses e brasileiros que cuparam as antigas fazendas também meteram cacusso no dique que já vai ajudando na alimentação. - Afiançou o camponês José António.
Quem se desloca a Lukala não precisa dos dados do censo de 2014 para se aperceber que mais de 70% da populaçao são crianças menores de 16 anos. Os agregados são compostos, em média, por 06 a 08 pessoas, não se contando aqueles que migraram para a vila (sede municipal) e Luanda em busca de estudos e ou melhores empregos para os homens que tentam a sorte nas construtoras ou negócios para o caso das senhoras.
- Aqui, o emprego é só mesmo na fazenda, onde o salário varia entre 10 a 12 mil Kwanzas. - Explica Nhange Manuel, empregado na Fazenda Mbumba-Alunga para acrescentar que, às vezes, uma pessoa com 05 filhos na escola, o dinheiro não chega para comprar os cadernos e os livros. Isso faz com que apesar de a Aldeia possuir uma escola com três salas de aulas que funciona em dois turnos, ministrando aulas a alunos da primeira à sexta classe, haja ainda uns que nao se trajem de batas brancas.
Em Lukala, enquanto uns se ocupam dos trabalhos na fazenda, outros tantos se ocupam da agricultura familiar, de onde provêm excedentes para o comércio. Os "kapuqueiros" também abundam e nao se coibem de o afirmar depois de umas canecadas, esfarrapadamente justificadas pelo excesso de frio julino.
- Nós, aqui, quando a frio aperta, a vida é mesmo essa: você passa num "katrungungo" e o frio bate
recochete. - Exibe-se Nhange, seis horas da manhã, já "katrungungado".
A pesca na albufeira da fazenda e outros biscates como o derrube de árvores para a queima de carvão, estiva de cargas diversas ou fabrico de adobes sao as fontes de rendimento dos lukalenses que optam pela queima da vida no vício alcoólico.
Fruto do surgimento de pequenos empregos agricolas e pequenos "negócios à beira da estrada" ja se vêem alguns sinais de consumismo e modismo. As antenas parabólicas vao substituindo os seroes à batucada e "xirimina" (folguedos com cançoes acompanhadas de guitarras). Os geradores de electricidade roncam teimosos noite adentro aos fins de semana e os jovens se inspiram nos mesmos herois e vilões das grandes cidades do pais e do mundo. A "lampiagem" também faz morada em Lukala, não se aconselhando que o visitante se distraia, mantendo as portas da viatura abertas ou os pertences expostos aos olhos dos "amigos do alheio".
Quase que a copiar o verde dos talhões cobertos de batata do reino, regadas por pivots um campo para os trumunos se apresenta a escassos metros da escola do primeiro ciclo do ensino primário. Os jovens com vivência luandina que para aí se deslocam, chamam-no de "capinzado" em alusão ao capim selecionado para substituir a relva habitual nos campos de futebol. Para as balizas, três paus, sendo dois verticais e um pregado horizontalmente, completam o "imobiliário. Não há demarcação com cal mas os caminhos trilhados para além do "capinzal" fazem as fronteiras entre a área onde a bola é jogável e onde se considera "bola morta".
Os ngulos, os cabritos e os bovídeos partilham a mesma água da albufeira o que torna vulnerável a saúde dos aldeões que precisam de percorrer cinco quilómetros até ao Posto Médico de Mungango ou os 19 quilómetros que separam Lukala ao Hospital Municial de "Kipala kya Samba".
Mesmo entre o que há e o que ainda falta ter, o povo sorri, porque afinal de contas há um bem supremo que é um facto incontornável.
- A paz que estamos com ela já nos faz viver com tranquilidade e construir nossas casas
sem medo de ser forçado a mudar para outra zona. Agora é só mesmo adobe e chapas que estamos a usar na construção. - Rematou António Katumbila, o soba da aldeia.
-Aqui, o cieiro não tem dia e se você põe creme, ainda é mais pior. - Desabafa Rosa José, visitante em situação de óbito de um irmão, mas também ela natural daquelas cercanias.
Apesar do frio, que dizem se ter acentuado desde que a Fazenda Mbumba-Alunga construiu um dique de contenção de água que propicia a rega de enormes campos agricolas que fornecem batata do reino e outros agroalimentos ao mercado luandense e a algumas indústrias transformadoras, segundo o morador José António, o povo anda *muito satisfeito*.
- É que o povo já tem trabalho aqui perto e os empresários portugueses e brasileiros que cuparam as antigas fazendas também meteram cacusso no dique que já vai ajudando na alimentação. - Afiançou o camponês José António.
Quem se desloca a Lukala não precisa dos dados do censo de 2014 para se aperceber que mais de 70% da populaçao são crianças menores de 16 anos. Os agregados são compostos, em média, por 06 a 08 pessoas, não se contando aqueles que migraram para a vila (sede municipal) e Luanda em busca de estudos e ou melhores empregos para os homens que tentam a sorte nas construtoras ou negócios para o caso das senhoras.
- Aqui, o emprego é só mesmo na fazenda, onde o salário varia entre 10 a 12 mil Kwanzas. - Explica Nhange Manuel, empregado na Fazenda Mbumba-Alunga para acrescentar que, às vezes, uma pessoa com 05 filhos na escola, o dinheiro não chega para comprar os cadernos e os livros. Isso faz com que apesar de a Aldeia possuir uma escola com três salas de aulas que funciona em dois turnos, ministrando aulas a alunos da primeira à sexta classe, haja ainda uns que nao se trajem de batas brancas.
Em Lukala, enquanto uns se ocupam dos trabalhos na fazenda, outros tantos se ocupam da agricultura familiar, de onde provêm excedentes para o comércio. Os "kapuqueiros" também abundam e nao se coibem de o afirmar depois de umas canecadas, esfarrapadamente justificadas pelo excesso de frio julino.
- Nós, aqui, quando a frio aperta, a vida é mesmo essa: você passa num "katrungungo" e o frio bate
recochete. - Exibe-se Nhange, seis horas da manhã, já "katrungungado".
A pesca na albufeira da fazenda e outros biscates como o derrube de árvores para a queima de carvão, estiva de cargas diversas ou fabrico de adobes sao as fontes de rendimento dos lukalenses que optam pela queima da vida no vício alcoólico.
Fruto do surgimento de pequenos empregos agricolas e pequenos "negócios à beira da estrada" ja se vêem alguns sinais de consumismo e modismo. As antenas parabólicas vao substituindo os seroes à batucada e "xirimina" (folguedos com cançoes acompanhadas de guitarras). Os geradores de electricidade roncam teimosos noite adentro aos fins de semana e os jovens se inspiram nos mesmos herois e vilões das grandes cidades do pais e do mundo. A "lampiagem" também faz morada em Lukala, não se aconselhando que o visitante se distraia, mantendo as portas da viatura abertas ou os pertences expostos aos olhos dos "amigos do alheio".
Quase que a copiar o verde dos talhões cobertos de batata do reino, regadas por pivots um campo para os trumunos se apresenta a escassos metros da escola do primeiro ciclo do ensino primário. Os jovens com vivência luandina que para aí se deslocam, chamam-no de "capinzado" em alusão ao capim selecionado para substituir a relva habitual nos campos de futebol. Para as balizas, três paus, sendo dois verticais e um pregado horizontalmente, completam o "imobiliário. Não há demarcação com cal mas os caminhos trilhados para além do "capinzal" fazem as fronteiras entre a área onde a bola é jogável e onde se considera "bola morta".
Os ngulos, os cabritos e os bovídeos partilham a mesma água da albufeira o que torna vulnerável a saúde dos aldeões que precisam de percorrer cinco quilómetros até ao Posto Médico de Mungango ou os 19 quilómetros que separam Lukala ao Hospital Municial de "Kipala kya Samba".
Mesmo entre o que há e o que ainda falta ter, o povo sorri, porque afinal de contas há um bem supremo que é um facto incontornável.
- A paz que estamos com ela já nos faz viver com tranquilidade e construir nossas casas
sem medo de ser forçado a mudar para outra zona. Agora é só mesmo adobe e chapas que estamos a usar na construção. - Rematou António Katumbila, o soba da aldeia.
TEXTO PUBLICADO PELO SEMANÁRIO ANGOLENSE A 11 DE JULHO DE 2015.