- Papá, a caminho da escola molhei-me. Sorte é que estava prevenido com outra roupa.
A mensagem enviada por sms carregava alguma preocupação do pai distante no nordeste.
- Filho, coragem - disse-lhe a amansar a dor- o papá também andava à pé do rangel ao IMEL e muitas vezes à chuva. - Concluiu encorajando o rapaz.
- Ok papá. - voltou a teclar o rapaz, treze anos às costas e frequentando a oitava classe.
- Filho, tenho orgulho de ti. Estás no bom caminho e precisas te fazer um homem.
- Ok papoite. Olha papá, dia 30 de Novembro há uma festa. Para entrar serão necessários Kz 700.
O pai liga preocupado com a chuva e a festa. Tudo a fazer-lhe confusão na cabeça.
- Alô Mociano!
- Sim papá.
- Quem organiza a festa?
- São os meus colegas e amigos do bairro.
- Mas que tipo de festa é essa?- Perguntou algo aborrecido pelas respostas secas que ouvia.
- Não papá. Não é REIV.
O pai acalma-se um pouco, suspira, sorve ar puro, mas não fica por ai.
- Qual é a idade?
- De 14 anos para baixo, papá.
- Mas tu ainda só tens 13...
- Oh papá, falta pouco para 2011...
Seguiu-se um silêncio e o pim-pim-pim. As operadoras de telefonia móvel estavam sem cobertura de rede.
A curta conversa e as sm's anunciando a chuva, que por quase inundou a capital angolana a 17 de Novembro, tinham sido registadas às 11h41minutos. Daí em diante nada mais houve de comunicação entre pai e filho. Na memória do pai surgiam agora as más recordações de casas sem tectos, ruas completamente inundadas e um trânsito automóvel insuportável. Pior ainda porque o colégio ficava longe de casa e não se sabia se o menor teria formas de sair da escola para casa.
Em viagem para Luanda, o pai aeroportou pelas 17 horas transportado numa aeronave da Palanca. Os 15 quilómetros de carro foram realizados em 5 horas até Viana. Num percurso de pára-anda-pára e sem contacto com o filho que ao proteger-se da chuva desprotegeu o telefone que encharcou.