Crónica de viagem
Caminhei desta vez com o ouvido colado ao receptor de rádio numa segunda-feira futebolística. Foi numa tarde em que usando das faculdades que lhe são atribuídas por lei, Francisca do Espírito Santos, governadora de Luanda, decidiu decretar uma tolerância de ponto para a função pública, das 13 às 20 horas. Por hábito dos angolanos à fuga ao serviço ou pelo elevado sentido patriótico, muitos funcionários de empresas mistas e privadas acabaram também por fechar os gabinetes para todos, no campo ou fora dele, torcerem para a vitória do 11 nacional, os Palancas Negras, num pasto que se avizinhava difícil diante dos cranes do Uganda.
E assim foi a minha viagem numa Luanda totalmente esburacada, por culpa da chuva, do desgaste e das intermináveis obras. Quem vai à baixa da capital sabe disso. Pára-se mais do que se anda.
Mas voltando ao futebol, dizia que do ponto de vista político e institucional tudo foi feito para que o pasto dos Palancas fosse melhor do que um mísero empate que nos custou milhões ou senão mesmo triliões de Kuanzas.
Num comentário que fiz à rádio cinco, respondeu-me o moderador do “auditório público” que “ninguém perdeu nada por se ter decretado uma tolerância de ponto”. Puro engano do confrade.
Os salários são pagos e o trabalho não é feito. Perdem os patrões que têm de obedecer à ordem institucional, e perde o Estado sempre que os objectivos que norteiam o accionamento da tolerância de ponto não são atingidos, como aconteceu na segunda-feira, 23, no jogo contra o Uganda. Os mais atentos economistas e mesmo os leigos, como eu, disso há muito andam despertos.
E tivemos um empate da selecção nacional que custou milhões de Kuanzas e milhares de lágrimas aos aficionados do “desporto rei”. Agora que está explicado o quanto os angolanos e o Estado perderam com o empate dos Palancas, resta-me também olhar para as contas:
Restam dois jogos para cada uma das selecções, Uganda, Benin, Níger e Angola, só os seis pontos nos servem. Pontos que têm de ser arrancados ao Benin, líder com nove pontos, e Níger com zero.
Vencendo ao Benin em casa ficaríamos com eles empatados pontualmente, e vencendo o Uganda ao Níger voltaríamos à situação da terceira jornada, ou seja, três equipas com nove pontos. Na sexta e última jornada, se Angola vencer o Níger, em Luanda, fará 12 pontos, os mesmos que terá o vencedor do jogo Uganda/Benin.
Atendendo que para a fase seguinte passa o melhor e são repescados mais oito segundos classificados, estaríamos assim na fase seguinte de grupos. Outro resultado que nos facilitaria a vida seria um empate entre o Ruanda e o Benin na sexta jornada. Mas olhando para a produção em campo do nosso combinado nacional, haverá pernas e peito para arrancar três pontos em casa dos beninenses?
Só um apelo se pode fazer. Que os atletas absorvam da melhor forma as aulas do professor e que Oliveira Gonçalves se esmere na transmissão de conhecimentos, porque das duas, uma coisa tem estado a falhar. E se o país investe milhões, inclusive com tolerâncias de ponto, aqueles que traduzem em campo as nossas aspirações têm o dever e a obrigação de nos colocarem no próximo mundial, já que o acesso ao CAN/2010 é automático, por via da organização do mesmo.
E assim foi a minha viagem numa Luanda totalmente esburacada, por culpa da chuva, do desgaste e das intermináveis obras. Quem vai à baixa da capital sabe disso. Pára-se mais do que se anda.
Mas voltando ao futebol, dizia que do ponto de vista político e institucional tudo foi feito para que o pasto dos Palancas fosse melhor do que um mísero empate que nos custou milhões ou senão mesmo triliões de Kuanzas.
Num comentário que fiz à rádio cinco, respondeu-me o moderador do “auditório público” que “ninguém perdeu nada por se ter decretado uma tolerância de ponto”. Puro engano do confrade.
Os salários são pagos e o trabalho não é feito. Perdem os patrões que têm de obedecer à ordem institucional, e perde o Estado sempre que os objectivos que norteiam o accionamento da tolerância de ponto não são atingidos, como aconteceu na segunda-feira, 23, no jogo contra o Uganda. Os mais atentos economistas e mesmo os leigos, como eu, disso há muito andam despertos.
E tivemos um empate da selecção nacional que custou milhões de Kuanzas e milhares de lágrimas aos aficionados do “desporto rei”. Agora que está explicado o quanto os angolanos e o Estado perderam com o empate dos Palancas, resta-me também olhar para as contas:
Restam dois jogos para cada uma das selecções, Uganda, Benin, Níger e Angola, só os seis pontos nos servem. Pontos que têm de ser arrancados ao Benin, líder com nove pontos, e Níger com zero.
Vencendo ao Benin em casa ficaríamos com eles empatados pontualmente, e vencendo o Uganda ao Níger voltaríamos à situação da terceira jornada, ou seja, três equipas com nove pontos. Na sexta e última jornada, se Angola vencer o Níger, em Luanda, fará 12 pontos, os mesmos que terá o vencedor do jogo Uganda/Benin.
Atendendo que para a fase seguinte passa o melhor e são repescados mais oito segundos classificados, estaríamos assim na fase seguinte de grupos. Outro resultado que nos facilitaria a vida seria um empate entre o Ruanda e o Benin na sexta jornada. Mas olhando para a produção em campo do nosso combinado nacional, haverá pernas e peito para arrancar três pontos em casa dos beninenses?
Só um apelo se pode fazer. Que os atletas absorvam da melhor forma as aulas do professor e que Oliveira Gonçalves se esmere na transmissão de conhecimentos, porque das duas, uma coisa tem estado a falhar. E se o país investe milhões, inclusive com tolerâncias de ponto, aqueles que traduzem em campo as nossas aspirações têm o dever e a obrigação de nos colocarem no próximo mundial, já que o acesso ao CAN/2010 é automático, por via da organização do mesmo.
Luciano Canhanga
2 comentários:
Vamos com calma, porque isso de palancas pretas em extinção ou já extintas, isso são as da reserva a sul de Malange, estas de Luanda estão para durar.
A respeito dos milhões de prejuizo, será mesmo? duvido que as plataformas petrolíferas tivessem paralizado.
Caro Septuagenárioo,
Realmente, as plataformas petrolíferas não fecharam naquela tarde, pois laboram em regime de turnos (horas extras que são mais altas do que horas normais)e também pelo facto de não estarem em Luanda onde foi decretada a tolerância de ponto. Não nos podemos, porém, esquecer que a Função Pública de Luanda e as demais empresas públicas e privadas que aderiram ao Decreto Executivo da governadora tiveram ordenados pagos por horas não trabalhadas. Bastará fazer a conta de um cantineiro que factura numa tarde usd 200 e que não os fez porque o trabalhador não apareceu ao serviço. E o salário dele foi(será pago) na íntegra.
Omitir esses dados seria um reduccionismo exacerbado.
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