Tarde de 22 de Fevereiro de 2002. Trabalho à tarde na LAC e peço a Editora Paula Simons que me dispense para resolver um assunto doméstico a partir das 17 horas. Assim acontece. Rumo ao Rangel e depois ao bairro da Cuca com o João Manuel. Deslocamo-nos à casa do Aires, sobrinho dele e agora meu afilhado. Não o tendo encontrado decidimos procurar o Zé Ndonga que tinha ido ver a namorada no Tala Hadi.
Pelo caminho recitamos uma antiga propaganda radiofónica cantada em Umbundo. “Ove a Savimbi etaly tua ku kuata…” continuando com o “Agarra Savimbi, Kuata… agarra…” Era tão alto o sentimento de insatisfação pela guerra que o homem levava a cabo com queima de comboio à mistura.
De repente ouvem-se tiros vindos de todos os lados. Tentamos procurar refúgio e não havia. Multidões invadiam os candongueiros no Zamba I para se esconder dos tiros. Era hora do Angola no Coração, programa da RNA que sucedeu ao Angola Combatente. Não tardou a notícia e o delírio. É Savimbi… O Savimbi morreu! Festa total em Luanda.
O percurso ao Tala Hadi e depois ao Rangel foram feitos em táxis mas sob fortes disparos anárquicos que foram travados com apelos na rádio. Festa sim, mas aos tiros não. O povo estava eufórico e mesmo assim pouquíssimos foram à cadeia.
Ida ao Luena
Uma semana mais tarde sou apontado pelo Editor-Chefe da LAC, Ismael Mateus e pela Editora da Manhã, Paula Simons, para ir ao Luena, capital do Moxico, ver como estava a situação humanitária das centenas de milhares de pessoas que vinham das matas. Homens, mulheres e crianças que viveram à sobra da UNITA e de Savimbi e que voltavam à cidade, muitos pela primeira vez, desprovidos de tudo. Em Luanda havia uma outra UNITA, a Renovada que lutava pelo controlo efectivo do partido mas sem arcaboiço, já que a praxis dita que a paz militar faz-se com os feitores da guerra.
Ao Luena chegavam todos os dias mais de mil indivíduos desprovidos de tudo. Piolhentos, (até Lukamba Gato, secretário-geral da UNITA de então, estava igualmente roto e desnutrido), esfarrapados, diarreicos, enfim. Clima desolador e constrangedor para um ser humano. Foram estas as imagens que reportei, alojado em casa de uns amigos do PAM que arranjei no local. Aliás a boleia ao Moxico foi num avião ligeiro do PAM.
Nas matas, e com Savimbi morto, decorriam os contactos exploratórios entre as FAA que tinham um Estado-Maior avançado no Luena e os sobreviventes militares das colunas rebeldes em que despontavam Abreu Kamorteiro e Gato. Nessa altura a TPA mostra imagens do primeiro encontro entre oficiais superiores da Forças armadas angolanas e Kamorteiro, chefe de estado-maior das forças militares da Unita, a que se seguiu um outro encontro com participação de Lukamba Gato. Um Gato cabeludo e piolhento que falava a um telefone IRIDIUM que lhe tinha sido emprestado por uma alta patente das FAA.
As imagens sonoras emitidas, a partir do Luena, proporcionaram-me conhecimentos sobre a situação dos que vinham das matas, a quantidade de pessoas que viviam à sombra do líder rebelde, como também me conferiram alguma respeitabilidade entre os colegas de redacção, chefias e outros jornalistas. Não eram tantos os jornalistas que tinham tido a minha experiência recente.
Cobertura das negociações FAA/FMUnita
Um mês depois da morte de Savimbi as “negociações” passaram das matas para a cidade do Luena. Algumas roupas usadas (de fardo) foram oferecidas de emergência aos líderes da UNITA provenientes do “Maquis” como Marcial Dachala, Alcides Sakala Simões, Lukamba Gato (secretário-geral), os generais Wambo Kalunga, Samuel Chiwale, Black Power (João Baptista Tchindadi), entre outros, todos rotos e desnutridos. Bem nutrido estava apenas o general Apolo que comandara a frente norte (Bengo, Uige) e tido como o autor do ataque ao Comboio no Zenza do Itombe.
Foi este o clima que encontrei. Uma carta de recomendação do Director de Informação José Rodrigues ao general Nunda, Chefe de Estado-Maior adjunto das FAA para que me fosse dado “apoio informativo”, enquanto fonte. As conferências de imprensa aconteciam na sede do Governo Provincial, porém as “negociações” entre as partes aconteciam no Estado-Maior avançado das FAA, onde ninguém da imprensa tinha acesso, embora se passassem a imagens de que era tudo no governo.
A entrevista com Generais da UNITA
Meio vestidos e meio calçados ou seja, Farda gasta pelas lavagens e caminhadas e calçando chinelos num quarto fortemente guarnecido por uma tropa esfarrapada e desabituada ao tratamento cortês citadino, e sob elevados níveis de alcoolémia, foi neste ambiente que conheci o general Kamorteiro, na pensão Horizonte (?) e outros chefes militares da UNITA como Samuel Chiwale, Wambo Kalunga, entre outros a quem pedi uma entrevista que me foi dada no dia seguinte.
O clima parecia ameno, não fossem aqueles miseráveis deslocados que chegavam todos os dias das matas rebentando até às costuras uma cidade de si já empobrecida.
Naqueles dias de fome para milhares já Kamorteiro se fazia passear num Jeep Hiunday Santa fé entregando-se apaixonadamente ao Wisky e sempre com um filho menor ao lado. Dias depois, numa hora seis da manhã, viria a partir o carro, embatendo contra uma árvore duma rua larguíssima do Luena. Quanto ao consumo desesperado de álcool, os seus subordinados, também generais, não se deixavam ficar atrás. Ao gargalo e muito Wisky. Foi nesse ambiente que fui recebido num dos quartos da pensão pelos generais Chiwale e Wambo para a primeira entrevista à LAC, dos sobreviventes da coluna. Foi um sucesso em Luanda.
Conselho Nacional da Família
Depois da assinatura do memorando de entendimento entre as partes militares, que já estavam em trégua ordenada pelo governo, inicialmente no Luena e depois, a 4 de Abril na Assembleia nacional em Luanda, Luena tornou-se o centro das atenções dos políticos. Em Maio de 2002 o Ministério da família e Promoção da Mulher decide realizar no Luena o seu Conselho Nacional da família em que participaram representantes de todas as franjas da sociedade. Foi a minha terceira estada, por uma semana, na capital do Moxico, aproveitada para outras reportagens sobre a situação humanitária que continuava preocupante.
As “amizades”
Todo o que se seguiu foi apenas um conhecimento sobre a vida política de então, a UNITA e seus dirigentes bem como os contornos que se seguiram à paz. Assistiu-se à luta pelo poder civil na UNITA entre os partidários de Gato (os da mata) e Manuvakola (os da cidade ou Renovada) com vitória dos da mata e depois a batalha pelo controlo da bancada parlamentar que resultou no afastamento “compulsivo” de Filipe Chimpolo e sua substituição por Gerónimo Wanga, bem como o polémico desvio de milhões de dólares por parte de Lukamba Gato já nas vestes de coordenador da comissão de gestão do partido do galo negro que desembocou numa sindicância.
Os desenvolvimentos seguintes foram os congressos, primeiro da UNITA, depois o do MPLA e mais tarde o da FNLA (o dito da reconciliação, mas marcado por cenas de pancadaria entre partidários de Holden e Ngonda).
A província do Moxico ocupa uma área de 223.033 quilómetros quadrados, a maior do país. Está localizado no centro leste de Angola, fazendo fronteiras, a Norte com a província da Lunda-Sul, a Sul com Kwando Kubango, a Nordeste com a República Democrática do Congo, a Leste e Sudeste com a Zâmbia e a Oeste com a província do Bié. Moxico tem um clima tropical húmido com duas estações principais (chuvosa e seca). O seu subsolo virgem com os seus recursos minerais, tais como: cobre, carvão, manganês, diamantes, urânio, volfrâmio, ferro, estanho e o molibdénio, o mel, a acera e a pesca artesanal. A agricultura, piscicultura, apicultura e a exploração de madeira são potencialidades económicas. A população do Moxico subdivide-se por várias etnias, nomeadamente Luvale, Cokwe, Bundas, Luchazes, Umbundo e Lunda-Dembos. A sua população estima-se em 800.820 mil habitantes. A província controla dois mil e 643 autoridades tradicionais, exercendo as suas actividades em conformidade com a realidade político-administrativa do país.
Soberano Canhanga
Pelo caminho recitamos uma antiga propaganda radiofónica cantada em Umbundo. “Ove a Savimbi etaly tua ku kuata…” continuando com o “Agarra Savimbi, Kuata… agarra…” Era tão alto o sentimento de insatisfação pela guerra que o homem levava a cabo com queima de comboio à mistura.
De repente ouvem-se tiros vindos de todos os lados. Tentamos procurar refúgio e não havia. Multidões invadiam os candongueiros no Zamba I para se esconder dos tiros. Era hora do Angola no Coração, programa da RNA que sucedeu ao Angola Combatente. Não tardou a notícia e o delírio. É Savimbi… O Savimbi morreu! Festa total em Luanda.
O percurso ao Tala Hadi e depois ao Rangel foram feitos em táxis mas sob fortes disparos anárquicos que foram travados com apelos na rádio. Festa sim, mas aos tiros não. O povo estava eufórico e mesmo assim pouquíssimos foram à cadeia.
Ida ao Luena
Uma semana mais tarde sou apontado pelo Editor-Chefe da LAC, Ismael Mateus e pela Editora da Manhã, Paula Simons, para ir ao Luena, capital do Moxico, ver como estava a situação humanitária das centenas de milhares de pessoas que vinham das matas. Homens, mulheres e crianças que viveram à sobra da UNITA e de Savimbi e que voltavam à cidade, muitos pela primeira vez, desprovidos de tudo. Em Luanda havia uma outra UNITA, a Renovada que lutava pelo controlo efectivo do partido mas sem arcaboiço, já que a praxis dita que a paz militar faz-se com os feitores da guerra.
Ao Luena chegavam todos os dias mais de mil indivíduos desprovidos de tudo. Piolhentos, (até Lukamba Gato, secretário-geral da UNITA de então, estava igualmente roto e desnutrido), esfarrapados, diarreicos, enfim. Clima desolador e constrangedor para um ser humano. Foram estas as imagens que reportei, alojado em casa de uns amigos do PAM que arranjei no local. Aliás a boleia ao Moxico foi num avião ligeiro do PAM.
Nas matas, e com Savimbi morto, decorriam os contactos exploratórios entre as FAA que tinham um Estado-Maior avançado no Luena e os sobreviventes militares das colunas rebeldes em que despontavam Abreu Kamorteiro e Gato. Nessa altura a TPA mostra imagens do primeiro encontro entre oficiais superiores da Forças armadas angolanas e Kamorteiro, chefe de estado-maior das forças militares da Unita, a que se seguiu um outro encontro com participação de Lukamba Gato. Um Gato cabeludo e piolhento que falava a um telefone IRIDIUM que lhe tinha sido emprestado por uma alta patente das FAA.
As imagens sonoras emitidas, a partir do Luena, proporcionaram-me conhecimentos sobre a situação dos que vinham das matas, a quantidade de pessoas que viviam à sombra do líder rebelde, como também me conferiram alguma respeitabilidade entre os colegas de redacção, chefias e outros jornalistas. Não eram tantos os jornalistas que tinham tido a minha experiência recente.
Cobertura das negociações FAA/FMUnita
Um mês depois da morte de Savimbi as “negociações” passaram das matas para a cidade do Luena. Algumas roupas usadas (de fardo) foram oferecidas de emergência aos líderes da UNITA provenientes do “Maquis” como Marcial Dachala, Alcides Sakala Simões, Lukamba Gato (secretário-geral), os generais Wambo Kalunga, Samuel Chiwale, Black Power (João Baptista Tchindadi), entre outros, todos rotos e desnutridos. Bem nutrido estava apenas o general Apolo que comandara a frente norte (Bengo, Uige) e tido como o autor do ataque ao Comboio no Zenza do Itombe.
Foi este o clima que encontrei. Uma carta de recomendação do Director de Informação José Rodrigues ao general Nunda, Chefe de Estado-Maior adjunto das FAA para que me fosse dado “apoio informativo”, enquanto fonte. As conferências de imprensa aconteciam na sede do Governo Provincial, porém as “negociações” entre as partes aconteciam no Estado-Maior avançado das FAA, onde ninguém da imprensa tinha acesso, embora se passassem a imagens de que era tudo no governo.
A entrevista com Generais da UNITA
Meio vestidos e meio calçados ou seja, Farda gasta pelas lavagens e caminhadas e calçando chinelos num quarto fortemente guarnecido por uma tropa esfarrapada e desabituada ao tratamento cortês citadino, e sob elevados níveis de alcoolémia, foi neste ambiente que conheci o general Kamorteiro, na pensão Horizonte (?) e outros chefes militares da UNITA como Samuel Chiwale, Wambo Kalunga, entre outros a quem pedi uma entrevista que me foi dada no dia seguinte.
O clima parecia ameno, não fossem aqueles miseráveis deslocados que chegavam todos os dias das matas rebentando até às costuras uma cidade de si já empobrecida.
Naqueles dias de fome para milhares já Kamorteiro se fazia passear num Jeep Hiunday Santa fé entregando-se apaixonadamente ao Wisky e sempre com um filho menor ao lado. Dias depois, numa hora seis da manhã, viria a partir o carro, embatendo contra uma árvore duma rua larguíssima do Luena. Quanto ao consumo desesperado de álcool, os seus subordinados, também generais, não se deixavam ficar atrás. Ao gargalo e muito Wisky. Foi nesse ambiente que fui recebido num dos quartos da pensão pelos generais Chiwale e Wambo para a primeira entrevista à LAC, dos sobreviventes da coluna. Foi um sucesso em Luanda.
Conselho Nacional da Família
Depois da assinatura do memorando de entendimento entre as partes militares, que já estavam em trégua ordenada pelo governo, inicialmente no Luena e depois, a 4 de Abril na Assembleia nacional em Luanda, Luena tornou-se o centro das atenções dos políticos. Em Maio de 2002 o Ministério da família e Promoção da Mulher decide realizar no Luena o seu Conselho Nacional da família em que participaram representantes de todas as franjas da sociedade. Foi a minha terceira estada, por uma semana, na capital do Moxico, aproveitada para outras reportagens sobre a situação humanitária que continuava preocupante.
As “amizades”
Todo o que se seguiu foi apenas um conhecimento sobre a vida política de então, a UNITA e seus dirigentes bem como os contornos que se seguiram à paz. Assistiu-se à luta pelo poder civil na UNITA entre os partidários de Gato (os da mata) e Manuvakola (os da cidade ou Renovada) com vitória dos da mata e depois a batalha pelo controlo da bancada parlamentar que resultou no afastamento “compulsivo” de Filipe Chimpolo e sua substituição por Gerónimo Wanga, bem como o polémico desvio de milhões de dólares por parte de Lukamba Gato já nas vestes de coordenador da comissão de gestão do partido do galo negro que desembocou numa sindicância.
Os desenvolvimentos seguintes foram os congressos, primeiro da UNITA, depois o do MPLA e mais tarde o da FNLA (o dito da reconciliação, mas marcado por cenas de pancadaria entre partidários de Holden e Ngonda).
A província do Moxico ocupa uma área de 223.033 quilómetros quadrados, a maior do país. Está localizado no centro leste de Angola, fazendo fronteiras, a Norte com a província da Lunda-Sul, a Sul com Kwando Kubango, a Nordeste com a República Democrática do Congo, a Leste e Sudeste com a Zâmbia e a Oeste com a província do Bié. Moxico tem um clima tropical húmido com duas estações principais (chuvosa e seca). O seu subsolo virgem com os seus recursos minerais, tais como: cobre, carvão, manganês, diamantes, urânio, volfrâmio, ferro, estanho e o molibdénio, o mel, a acera e a pesca artesanal. A agricultura, piscicultura, apicultura e a exploração de madeira são potencialidades económicas. A população do Moxico subdivide-se por várias etnias, nomeadamente Luvale, Cokwe, Bundas, Luchazes, Umbundo e Lunda-Dembos. A sua população estima-se em 800.820 mil habitantes. A província controla dois mil e 643 autoridades tradicionais, exercendo as suas actividades em conformidade com a realidade político-administrativa do país.
Soberano Canhanga
7 comentários:
LIndo texto. Partilho da ideia de que nós devemos escrever mais sobre o nosso trabalho.
MV
Soberano, incentivo os meus amigos e companheiros de profissão a escreverrem com rigor sobre a sua actividade. Esta è uma das formas que temos para colocar o nosso ponto na história recente do nosso jornalismo. Por outro lado, acho eu, que deviamos potenciar este forum que a internet nos confere para incentivar os mais timidos a abrirem-se. O bom é termos começado. Avancemos....
Manuel Vieira
Um abraço. Penso que foi oportuna a sua reflexão, jeito memória, dos momentos que rodearam a assinatua dos acordos de paz. Oportuno também é o momento por se afigurar execelente esta visão dos bastidores da " paz", mesmo cinco anos depois. Incentivo-lhe a progredir nestes escritos que dão um rosto mais jornalistico ao seu muito visitado blog. Que assim seja.
Manuel Vieira
PS: Que haja mais regularidade nos seus posts
Olá,
Visitei o seu site Olho Atento e adorei sua escrita. Diga-me por gentileza, vive em Angola? Eu sou Angolano e vivo na China. Gostaria de saber notícias da nossa maravilhosa terra...
Um abraço
Alberto Simão
Estimado Sr. Soberano Canhanga.
Meu nome é Luís Felizardo
Sou natural do Bembe (Uíge), mas vivi a minha infância no Luso (Luena) até aos meus 15 anos.
Sou o gerente do site www.lusoluena.com e venho por este meio convidá-lo a participar no nosso site e principalmente no Fórum LusoLuena.
Tenho seguido o seu site com atenção e gostava-mos que compartilhá-se connosco a sua experiência por Terras do Moxico e que ao mesmo tempo pudesse dar-nos noticias daquela Terra que tanto amamos.
Atenciosamente.
Luís Felizardo
Execelnte artigo... não haja dúvida.
Já disse mas não me canso de repetir:
São estes testemunhos na primeira pessoa que contam neste mundo onde a informação circula de uma forma vertiginosa!
A visão na óptica de um jornalista faz-me lembrar que um repórter são os olhos do público...
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