Com efeito, a Lei de Moisés recomendava que toda a mulher apanhada a cometer adultério devia ser apedrejada. Ora, aquela mana apanhada em flagrante foi trazida diante de Jesus para o castigo preceituado pela Lei. «De acordo com a Lei de Moisés, esta mulher devia ser apedrejada», sentenciaram, os Fariseus e Escribas a espera que Jesus ratificasse a famosa prescrição!...Até aqui, tudo bem. Só que, depois, o Advogado da adúltera entrou em cena. Sigam o meu raciocínio e atentem à estratégia de Jesus Cristo:
1. Reparai que, com essa história, os Fariseus e os Escribas quiseram colocar Jesus entre a espada e a parede. Eis o grande dilema: Se Jesus dissesse que a mulher poderia ser apedrejada, como perceber a doutrina sobre o Amor ao Próximo que Jesus vinha pregando? Se pedisse que a mulher não fosse apedrejada, os Escribas e Fariseus acusariam Jesus de violar a Lei de Moisés. Foi nesta altura que o Advogado deu a famosa resposta que desconcertou e atrapalhou os juízes: «Quem nunca pecou -disse Jesus- que seja o primeiro a atirar a pedra!». Pois, é! E agora?...
2. Na verdade, o Único a atirar a pedra, seria o próprio Jesus Cristo já que, como sabemos, “nunca cometeu pecado algum”;
3. Quando Jesus disse que quem não tivesse pecado, fosse o primeiro a atirar a pedra, os juízes que montaram o tribunal, passaram a réus! É que depois de um rápido exame de consciência, os homens decidiram retirar-se um por um a começar pelo mais velho (se calhar, é o que mais pecados tinha!), deixando a pobre mulher com o seu Advogado!
4. Com o tribunal em debandada (porque os juízes passaram a réus em fuga), o Advogado Jesus teve Ele mesmo de pronunciar a sentença, depois de um diálogo com a sua “cliente” de ocasião!
5. No novo diálogo com a mulher, Jesus não aprova o pecado por ela cometido; mas manda-a para casa com fortes recomendações de nunca mais tornar a pecar...Eis, um Advogado que veio condenar não o pecador, mas o pecado, ao contrário do que era comum na cultura judaica.
6. Mais ainda: a cultura judaica era profundamente machista. Ora bem: não tendo a mulher cometido adultério sozinha, onde esteve o homem que com ela cometeu tal pecado? Sabemos que, de acordo com a mesma Lei, o homem poderia repudiar a sua esposa infiel, ao contrário da mulher que sofria as mais hediondas sevícias: estava-se, como era óbvio, diante de uma lei opressora, que violava os Direitos Humanos e a dignidade da mulher...
No seu livro “África Renascida”, Dom Francisco da Matta Mourisca diz que as mulheres pecadoras eram desprezadas até por aqueles que as prostituíam, a exemplo da Mulher Adúltera, imortalizada nas páginas do Evangelho. Ora, dizia o Bispo do Uíje, «o único homem que podia atirar pedras à mulher, porque não tinha pecado, foi o único que a salvou das pedras- o próprio Jesus. Retrato comovente da figura de Cristo, que veio salvar o que estava perdido: não só o homem senão também a mulher».
Por Pê. António Estévão