Várias vezes perguntei aos colegas da licenciatura em História se já tínhamos a África dos grandes poetas nacionalistas e dos políticos dos anos 50, 60 e 70 do sec. XX?
Esta pergunta sempre colocada de propósito para criar debate, nem sempre colheu um consenso na turma. Uns dizem que sim e outros dizem que não.
Para mim, a questão principal é que desde os primórdios da presença estrangeira no continente (sec. XV) que o mesmo vem dançando uma música alheia. Eu me explico.
De guerra em guerra, de fome em fome, de golpe em golpe, de catástrofe em catástrofe, assim vai o continente cuja organização de países independentes assinala a 25 deste mês 43 anos de existência. Pior ainda porque o continente se foi endividando ao mesmo tempo em que as suas riquezas foram sendo saqueadas. Primeiro pelos colonialistas, depois pelos mentores da guerra fria, depois ainda por interesses inconfessos de determinadas potências e por fim, por africanos corruptos que se endinheiram com bens públicos enquanto o povo vai minguando dia após dia.
A OUA agora transformada em União Africana que tem a NEPAD (Nova parceria ecónomica para o Desenvolvimento D’África) como escudo de combate à fome e miséria precisa ainda de um empenho maior dos líderes políticos do continente e das sociedades civis organizadas. Graçam-nos ainda a impunidade a corrupção e a ausência de transparência. Muitas são ainda as liberdades cerceadas e grande é o fosso entre os géneros. São ainda desafios da União Africana a pacificação da região dos grandes lagos, do Sudão (Darfur), da Somália e Casamance (Senegal). Permanece ainda o conflito fronteiriço entre a Etiópia e a Eritreia e está ainda por acontecer a autodeterminação do Sahara Ocidental (RASD) ocupado pelo Marrocos.
Faltando dias para o meu aniversário que é também o de África (25 de Maio) abro os livros de História e releio o que diziam W. Du Bois (pioneiro do Panafricanismo), Senghor, Kaúnda, Lumumba, Keniata, Touré, A. Neto, A. Cabral, entre outros africanistas que proclamavam uma África multinacional e multi-etnica que fizesse frente aos estragos causados pela Conferência de Berlim (1884/5) que a dividiu com esquadro e régua para alimentar apetites meramente doministas, expansionistas e exploratórios, dividindo povos, culturas e famílias. Ao continente foi imposto um tráfico negreiro durante séculos que resultou na punção demográfica que se verifica ainda hoje.
Se formos mais profundos e reconhecermos que países houve que propunham nas suas constituições renunciar o próprio Estado-Nação a favor de Uma Grande Nação Africana saída de Adis-a-Beba (Etiópia 1963), então estamos em presença de “Uma união por acontecer(?)”. O que me parece termos, no momento, é a África profetizada por A. Neto que é “um corpo inerte onde cada abutre debica o seu pedaço”.
Perante tal situação, parece-me que o recurso para que os pedaços que restam caiam em nossos pratos é apenas um:
- Estudar, estudar e transformar os bocados que restam em boa sopa que alimente bocas famintas, em mantas que agasalhem milhares e em habitações que protejam milhares da chuva, do frio e doutras intempéries.
Essa é a minha luta, a sua luta, a nossa luta enquanto jovens.
- Estudar, estudar e transformar os bocados que restam em boa sopa que alimente bocas famintas, em mantas que agasalhem milhares e em habitações que protejam milhares da chuva, do frio e doutras intempéries.
Essa é a minha luta, a sua luta, a nossa luta enquanto jovens.
Soberano Canhanga