Ao contrário das duas primeiras visitas, em que foram dias ensolarados e abertos, portanto, sem nuvens, desta vez a nuvens densas confundiam-se com chuva preguiçosa e a sensação térmica andava à volta dos 3° celcius, imprópria para um cidadão que vive regularmente próximo da Linha do Equador.
Mesmo com essa adversidade (frio intenso), e depois de um café e um chocolate quentes, deu para me atrever a uma caminhada pelos andarilhos e pontos de observação cuidadosamente construídos no também Parque Nacional. Chamou-me à atenção a presença do Damão-de-Cabo ou Hyrox, um animal roedor que vive entre pedras, caminhando sobre elas como se tivesse araldite entre as patinhas com três dedos apenas. É o kezu, no nosso Kimbundu, ou canta-pedra, como aprendi no Português Libolense da minha infância.
Confesso. Já andei à caça destes mamíferos placentários e experimentei a missão árdua de os capturar e deliciar-me com o sabor de sua carne, num período de escassez de conduto. Lamento. Foi em uma época de total ignorância e carências, para além do facto de que o animal ainda se apresentava a cantarolar por todos os lados onde houvesse grutas e rochedos.
No Libolo, por exemplo, a deslocação forçada pela guerra civil de muitas pessoas de suas aldeias, deixando para trás os seus meios de subsistência, empurrou-os à caça desenfreada, não só para se alimentarem, mas também para trocarem a carne por outros alimentos e bens. Como consequência, criou-se o vício da caça pelo dinheiro e ficou gravemente acometida a fauna, algo que tende a persistir, demandando mão firme e pesada.
É triste que homens de hoje, alguns mais abastados, do ponto de vista de informação científica e materialmente, continuem a dizimar animais, legando a seus filhos e netos apenas estórias sobre animais (que estejam eventualmente) extintos da nossa fauna que já foi muito rica.
Já nos idos de 1980, o meu pai (de feliz memória) recomendava:
- Só se mata uma fêmea se não puder ser identificada previamente.
É que se não tomarmos consciência agora, pode ser que os nossos netos tenham de ir, daqui a cinquenta anos, pedir à África do Sul um casal de canta-pedras para repovoar os nossos parques como o da Tundavala que, ao que se diz, foi declarado "Local de Interesse" depois de ter sido classificado como uma das 7 maravilhas turísticas de Angola.
Pense nisso!
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