Translate (tradução)

domingo, julho 30, 2023

KINSHASA YA MOKE

Não difere, se de manhã, à tarde ou de noite. Quem se azare em circular pela Rua Luther Rescova (Luanda Sul-Kamama), arrisca-se a perder mais de uma hora para transpor perto de cento e cinquenta metros da zona adjacente à Rotunda do Kalemba II.

"Aquilo está a ser kinshasizado", dizem as "vítimas" e conhecedoras da realidade vivida na capital do país vizinho, a norte. 

Os vendedoiros ocupam o asfalto, reservado a viaturas; os veículos (táxis e moto-táxis) param em paralelo, impedindo a progressão dos que lhes seguem à recta-guarda; as manobras de inversão de marcha, proibidas pelo código de estrada, são feitas à frente de polícias reguladores de trânsito. 

Estive em Kinshasa e pude constatar que o terrível "engarrafamento" automóvel, do aeroporto de N'jili à cidade, deve-se a essa desordem que foi trazida, infelizmente, à Rotunda do Kalemba II.

Alguém do GPL (ou outras instituições vocacionadas) pode prestar alguma atenção àquele lugar?

É um veemente apelo, antes que o "cancro Kalemba II" nos engula.

terça-feira, julho 25, 2023

DE N'DJILI A KEMESHA E A KINSHASIZAÇÃO DO KALEMBA II

Em Junho de 2023 conheci, finalmente, Dakar, a capital do Senegal, cidade que se renova, do aeroporto Blaise Diagne à marginal que oferece ventos e tranquilidade à principal universidade Cheikh Anta Diop. Depois de aplaudir os encantos como a limpeza e higiene, o baixo número de gatunos e bandidos que, em Luanda deviam fazer companhia a Judas, e outros avanços civilizacionais que, em alguns casos, põe Luanda debaixo do chinelo, um dos piores retratos são os congestionamentos que levam a fazer os perto de 50 quilómetros que separam a cidade ao aeroporto Blaise Diagne em não menos de hora e meia, quando se tem sorte (dias nefastos têm outras estórias contadas por pessoas que perderam o voo por se terem atrasado 30 segundos).

 Chegado a Luanda, fiz o trajecto  Kinaxixe-Ponte do Quilómetro 25 (Avenida Deolinda Rodrigues) -Zango IV-Kalemba II-Vila de Viana. Uff!

Notei que a "síndrome" do congestionamento dakarense, no trajecto cidade-aeroporto, pode "contaminar" o nosso novel Aeroporto Agostinho Neto, cuja abertura ao público diz-se que "está mais para acontecer do que prometer". 

O tráfego automóvel de Dakar é afectado pelas paragens desordenadas de taxistas em alguns pontos, estreitando a via, e pelos pontos de pagamento/aferição de portagens que obrigam os condutores a abrandarem ou mesmo imobilizarem as viaturas. Também notei que a via-expressa tem, para além dos pontos de aferição de portagens, muros nos dois lados que impedem as entradas e saídas, antes dos pontos definidos. Por outro lado, a inexistência de transportes públicos, em quantidade e qualidade, na capital senegalesa é motivadora do aumento de táxis colectivos (amarelinhos) que, aliada à deficiente autoridade para os fazer parar em locais que não afectem o normal escoamento das demais viaturas, faz das vias de Dakar autênticos "provadores de paciência".

Quanto à nossa Luanda, a insuficiência de transportes públicos (catamarãs, autocarros e derivações de linhas férreas) aliada à falta de autoridade dos órgãos fiscalizadores e de punição aos taxistas desordeiros, vendedeiras que ocupam faixas de rodagem para expor isso e aquilo, fará, caso não se olhe para estes preocupantes detalhes, do nosso novo aeroporto, um dos menos desejados. 

A adicionar à experiência de Dakar e a sua possível analogia ao que se pode alastrar a Luanda, visitei Kinhasa. Em poucas horas de estada, pude apreciar com enlevo a beleza dos campos adjacentes ao aeroporto de N'djili, assim como o elevado número de universidades e o apego dos congoleses ao conhecimento. Porém, a pobreza estampada nos rostos de gente que se vê sacrificada, a corrupção descarada e o trânsito caótico de N'djili à cidade, pior do que o tráfego rodoviário de Dakar, foi, para mim, uma das nódoas que se aduzirá às minhas   perpétuas más recordações. Só para se ter uma ideia, de N'djili à Kemesha (cidade) demora-se, quando acompanhados por uma patrulha militarizada, uma hora. O engarrafamento é tão apertado que os taxistas andam aos empurrões, uns colados aos outros. Do que pude observar, a falta de paragens, a inexistência de fiscalização e punição dos prevaricadores (taxistas e vendedeiras) assomam-se como causas imediatas. Tal como em Dakar, também se pode concluir que é a falta de transportes públicos (em quantidade e qualidade) que faz proliferar os amarelinhos, e toda a sua subsequente desordem e congestionamento do trânsito.

Regressado de Kinshasa, onde: a corrida de táxi custa 1000 Francos, equivalentes a 1 dólar americano; os motoqueiros cobram em função da distância e levam, normalmente, 3 passageiros; 

o Marché Mariano é o bairro que mais alberga angolanos considerados aqui como "riches"; o bairro N'djili (subúrbios de Kinshasa) é o que mais "exporta" congoleses para Angola;

os chouffers e outros intermediários dizem apreciar acolher delegações "angolaises", porque sabem "gorjetar"; os "sapeurs" se fazem às ruas à quinta-feira, exibindo vidas largas, mesmo com finanças ordinárias parcas; meti-me a reflectir e à busca de eventuais analogias desorganizacionais e comportamentais com a nossa Luanda ou partes dela. Veio-me à memória a Rotunda do Kalemba II. Daquele ponto, quer queira trafegar para Viana, Estádio 11 de Novembro ou Kamama, o automobilista arrisca-se a perder perto de uma hora para desfazer-se de uma tremenda confusão de vendedeiras que ocupam o espaço de viaturas, kandongueiros que param em paralelo, impedindo a passagem para os que lhes seguem atrás e, como se não bastasse, centenas de kaleluyas que desobedecem às mais primárias regras de condução em vias públicas.

Olhando para a composição e origem de grande parte dos moradores de Kalemba II, visto e anotado tudo o que se assiste na Rotunda supra descrita, uma pergunta me persegue: não será Kelemba II o início da kinhasização de Luanda?

Publicado no Jornal de Angola de 13.08.2023

terça-feira, julho 18, 2023

PERDIDOS & PROCURADOS

Oslo, Noruega, 23 de Junho - Sobre o reino escandinavo do Norte, mantinha guardadas parcas ideias sobre os prémios Nobel; sobre Alfred, o mentor das distinções; a exploração contínua e desenvolvida de óleo e gás e sobre a transparência que os noruegueses muito prezam e pregam ao mundo. Ao contrário de Agnalam que já lá esteve por uma vez, Rats vivenciava a sua primeira experiência e, por isso, tudo era novo: os mergulhos alegres num mar com a temperatura a rondar os 9 graus centígrados, as noites sem escuridão, as reentrâncias alternadas entre a água abundante e a terra, etecetera, ponto continuação.
Era já tarde avançada, os serviços públicos tinham encerrado as portas e os privados, sobretudo as superfícies comerciais, preparavam-se para fazê-lo também, quando dois cavalheiros decidiram partir para "um novo normal".
_ Epá, sabes que aqui não usam dinheiro europeu, nê? _ Atirou Agnalam ao amigo que levava os olhos à procurava de um primo de katula mbinza.
_ Ai é?! E se quisermos molhar a garganta, como faremos?
_ Pois é. Acho que temos de caminhar um pouco, até à "Sentralstation". Já estive lá uma vez e sei que tem casas de câmbio. É a única maneira para termos Nok.
Entre comentários sobre isso e aquilo e conversa de entreter e desafiar a distância, lá se meterem a passos, procurando registar na memória as curvas, as cores e as inscrições dos e nos edifícios, contornando, quando possível, a garoa preguiçosa que apontava à protecção encefálica.
Quase teriam logrado, se não se atrasassem os cinco minutos que o relógio marcava acima da hora sete.
- Please! We need change some money. _ Ainda insistiram, quase a suplicar, mas o rigor daquela gente, deixa estar...
Sem Koroas e, por isso, também sem chapéus-de chuva, os dois coroas puseram-se de novo à rua.
- Mano, é em direcção ao mar. Não nos pudemos distanciar da orla. _ Aconselhou Agnalam.
Caminharam. Quadruplicaram os três mil passos da ida e não viam o ponto de chegada. As curvas, os letreiros e até os edifícios que enxergavam eram distintos. Entreolharam-se. _ Agnalam, parece que tomámos a rota incerta. Não vejo o ponto de referência, a sede do Comité Nobel, e já andámos bastante. _ Constatou Rats, consultando a hora e os passos registados pelo relógio.
_ É verdade. Voltemos ao "Sentralstation" para nos reorientarmos. Sugeriu Agnalam.
_ Não. Se o fizermos, vamos andar muito. Precisamos de saber primeiro onde estamos e a que distância fica o nosso destino. É melhor procurarmos por quem nos indique o caminho.
Rats lembrou-se das fotos que fizera ao passar pelo largo Alfred Nobel e dirigiu-se a um agente de segurança e mostrou-lhas.
_ Please, Sir! Can you show me the way to this place?
Diligente, homem alheio, não perguntou quem eram, nem de onde vinham. Escreveu o nome do local no seu celular e falou num inglês de pôr inveja.
_ You are here (mostou o pontinho azul no telefone). You must go straigth agead until the fish market. Then, go right and straigth again.
Agnalam e Rats, puseram mudança de velocidade e força nos pés e, olhos no fish market, marcharam sobre a marginal serpenteante até ao largo Alfred.
Ofegante e quase sem forças, Agnalam, mãos na Ilharga, pediu ao companheiro que actualizasse os passos marcados.
_ Uff! Vinte e dois mil passos. O mano já imaginou se alguém da equipa deu conta da nossa ausência prolongada? É que aqui não se bate lata!
Publicado no JA de 23.07.23

terça-feira, julho 11, 2023

O COMENTÁRIO DELE E O MEU

Viajávamos de camioneta, como chamam, aqui, os machimbombos.

Aliás, nisso de machimbombos já tive uma experiência aziada no Porto, quando me dirigi à vendedora de passagens, perguntando-a "a que hora partiria o machimbombo para Lisboa".
_ Machimbombo? O que é isso?! _Questionou-me a senhora, altura média, magrela, pele acinzentada e cara de poucas amigas.
Fui ao dicionário consultar sinónimos e mostrei-lhe:
_Olhe aqui, minha senhora. Eu sou africano e a língua é vossa.
Mas, voltemos ao comentário dele, um idoso que parecia levar a vida na brincadeira ou deixar que "a vida o leve", e depois será a vez do meu comentário.
O sistema áudio e automatizado do autocarro anunciava a paragem em que o automóvel se encontrava, assim como a próxima. É nisso que surge o idoso, que se sentava atrás de mim e com um sentido de humor assinalável.
"Próxima paragem, Bairro Novo", fez-se ouvir.
- Bairro Novo? Já é velho. _ Divertiu-se o idoso, levando-me a olhar atrás para verificar se ele comentava com alguém de sua laia. Ia apenas ele e a sua vida recheada de alegria.
Não tardou, o equipamento voltou a anunciar: "Próxima paragem, Sete Rios".
- Pois, é. Sete rios que são secos! _ O ancião continuava como que a corrigir o equipamento áudio ou a traduzir para os que se achavam neófitos na urbe lisboeta, levando-me a beliscar-me.
E quando se anunciou a próxima, que era "Bairro Azul/Gulbenkian", o octogenário voltou a emendar:
_ Bairro azul-esverdeado pelas árvores e relva.
Já não vi em que paragem desceu, pois, duas ou três paragens antes do meu destino, deixei de ouvir os seus doces comentários.
Ao descer da camioneta, deparei-me com quatro senhoras, sentadas sobre banquinhos, à entrada da estação de comboios. Eram negras e falavam uma língua que me é estranha. Não é bantu, nem europeia. Mas, isso de línguas há "mil".
Se elas são africanas, também não sei. Não me esforcei, sequer, em buscar esse entendimento, embora tivesse gastado algum tempo a apreciar como elas se vestiam e interagiam. Sei apenas que nem todos os brancos são europeus, de mesma sorte que nem todas as negras são africanas. Chamaram-me, entretanto, à atenção os factos adiante:
1- Não se comunicando coloquialmente em português, significa serem estrangeiras.
2- Saírem de suas terras longínquas para ir fazer "praça de rua" numa estação de comboios em Damaia, Portugal, e vender quiabos, água fresca e outras "miniaturas" que abundam nas lojas, pareceu-me desajustado.
É isso que faz os anfitriões a colocarem "todos os gatos no mesmo saco".
A imigração (entrada) deve ser de qualidade, onde quer que seja!