Translate (tradução)

terça-feira, julho 11, 2023

O COMENTÁRIO DELE E O MEU

Viajávamos de camioneta, como chamam, aqui, os machimbombos.

Aliás, nisso de machimbombos já tive uma experiência aziada no Porto, quando me dirigi à vendedora de passagens, perguntando-a "a que hora partiria o machimbombo para Lisboa".
_ Machimbombo? O que é isso?! _Questionou-me a senhora, altura média, magrela, pele acinzentada e cara de poucas amigas.
Fui ao dicionário consultar sinónimos e mostrei-lhe:
_Olhe aqui, minha senhora. Eu sou africano e a língua é vossa.
Mas, voltemos ao comentário dele, um idoso que parecia levar a vida na brincadeira ou deixar que "a vida o leve", e depois será a vez do meu comentário.
O sistema áudio e automatizado do autocarro anunciava a paragem em que o automóvel se encontrava, assim como a próxima. É nisso que surge o idoso, que se sentava atrás de mim e com um sentido de humor assinalável.
"Próxima paragem, Bairro Novo", fez-se ouvir.
- Bairro Novo? Já é velho. _ Divertiu-se o idoso, levando-me a olhar atrás para verificar se ele comentava com alguém de sua laia. Ia apenas ele e a sua vida recheada de alegria.
Não tardou, o equipamento voltou a anunciar: "Próxima paragem, Sete Rios".
- Pois, é. Sete rios que são secos! _ O ancião continuava como que a corrigir o equipamento áudio ou a traduzir para os que se achavam neófitos na urbe lisboeta, levando-me a beliscar-me.
E quando se anunciou a próxima, que era "Bairro Azul/Gulbenkian", o octogenário voltou a emendar:
_ Bairro azul-esverdeado pelas árvores e relva.
Já não vi em que paragem desceu, pois, duas ou três paragens antes do meu destino, deixei de ouvir os seus doces comentários.
Ao descer da camioneta, deparei-me com quatro senhoras, sentadas sobre banquinhos, à entrada da estação de comboios. Eram negras e falavam uma língua que me é estranha. Não é bantu, nem europeia. Mas, isso de línguas há "mil".
Se elas são africanas, também não sei. Não me esforcei, sequer, em buscar esse entendimento, embora tivesse gastado algum tempo a apreciar como elas se vestiam e interagiam. Sei apenas que nem todos os brancos são europeus, de mesma sorte que nem todas as negras são africanas. Chamaram-me, entretanto, à atenção os factos adiante:
1- Não se comunicando coloquialmente em português, significa serem estrangeiras.
2- Saírem de suas terras longínquas para ir fazer "praça de rua" numa estação de comboios em Damaia, Portugal, e vender quiabos, água fresca e outras "miniaturas" que abundam nas lojas, pareceu-me desajustado.
É isso que faz os anfitriões a colocarem "todos os gatos no mesmo saco".
A imigração (entrada) deve ser de qualidade, onde quer que seja!

Sem comentários: