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quarta-feira, novembro 29, 2017

E ASSIM SURRARAM O SIMÃO

No território de Angola, os sobas coabitaram com a colonização que os esvaziou de seu poder ancestral, remetendo-os a meros expectadores e servis dos chefes-de-postos, aos quais tinham de fornecer "peças", quando solicitadas, para as empreitadas rígidas nas estradas, pontes e até mesmo em fazendas de colonos recém-chegados ou já há muito instalados. A recusa em fornecer homens "pagos com a entorpecente água-dente e cobertor e alimentados com peixe e fuba podres" podia resultar em valentes e impiedosas chicotadas, à frente de seus súbditos, ou mesmo a morte por desobediência ao branco-colono.
Chegada a revolução, o soba continuou a coexistir diminuído nos seus poderes. Surgiu uma nova figura na gestão dos assuntos comunitários que foi a do comité que era o dirigente político-revolucionário da sanzala/aldeia tomando as decisões em nome do povo. E assim foi da independência às guerras que se lhe seguiram.
Um dia, quando os valorosos combatentes pela liberdade, aqueles que correram com os colonos exploradores de nossas riquezas, deixaram de se entender, os que optaram pela mata, guerreando seus ex-companheiros de causa, chegaram à aldeia fardados, armados, e diziam-se "chateados com o nguernu e o enduartu". Organizaram, já aurora, uma fogueira com batuque e kisaka (chocalho). Beberam do que encontraram e uns até entraram em xingilamento (transe). Chamaram o povo para falar sobre o que lhes acorria e pedir comida que, no fundo, era o que mais pretendiam. O resto era pretexto.
No final do discurso do chefe deles, um homem alto e fininho como lombriga, alguém quis mandar o povo aplaudir. Lá na parte traseira em que se encontrava, ordenou autoritário e em bom som:
- Mbate simão!
Alguém, dentre os populares era Simão. Todos o conheciam pelas ideias que defendia, pois era o comité da aldeia. Quando não viessem os de verde-oliva, eram os de farda malhada que governavam, os da equipa do Simão. Destarte, foi vítima.
Afinal era para bater as mãos!


 Texto publicado pelo jornal Nova Gazeta a 14/09/2017

segunda-feira, novembro 27, 2017

COLECCIONANDO PIRILAMPOS

Pe.Dias, S. Canhanga e J. Sipitali
Depois de actividade académico-cultural, em Benguela, regresso a casa (Luanda) alegre, satisfeito, mas ainda com palavras de gratidão na bagagem.
Quis o professor Sipitali do Seminário Propedêutico de Benguela que "Fatosséngola" de Gociante Patissa fosse o livro objecto de estudo na cadeira de Literatura Africana. A boa pena do amigo Patissa fez com que o seu livro estivesse esgotado na loja verde da rede "Desejo", tendo se optado pelo "Coleccionador de pirilampos" que dispunha de "um bom número" de dez exemplares na loja e que serviram os 15O alunos do referido curso.Grato, Patissa, por "me teres, involuntariamente cedido o lugar". Quem te manda ser bom?!
Acto contínuo, o professor Job Sipitali Sipitali, que também tem uma "pena poética" muito afinada, propôs aos estudantes e ao reitor do seminário, o padre Dias, uma conversa presencial entre o autor (eu) e os estudantes, o que veio a realizar-se na tarde de 25.11.17.
 

Haverá como não exprimir palavras de gratidão ao reitor, ao professor e aos diligentes estudantes? Ndapandula calwa!

Outra nota vai para a casa cheia. Epá, 150 é muito. Foi a maior audiência que tive em palestras sobre literatura e afins. E como se estes fossem poucos, ainda recebemos jovens, homens e mulheres, que foram ver e ouvir-nos.

Durante a conversa, intercalada com música e recital de poesia, foram quinze as intervenções/interrogações, todas bem colocadas, sobre o conteúdo, sentido e o alcance da obra.

Entre ficção pura, verdades que serviram de ponto de partida e elementos pedagógicos e reflexivos, fomos explicando sobre a mensagem socio-atropológica e histórica que o livro encerra.
Bem haja e obrigado a todos quantos permitiram materializar tal conversa. Nada anima mais o autor do que obter o feed-back de seus leitores, uma alegria que se agiganta quando se tratem de leitores estudantes de literatura, como foi o caso.
Ndapandula.