Translate (tradução)

quarta-feira, novembro 15, 2017

DE VOLTA AO LOCAL DE "SOFRIMENTO"




Oka pousando com um ex-colega da primária
Desconheço qual das ciências se adiantou no terreno, se a psicologia ou a História. O certo é que "ninguém gosta de voltar voluntariamente a um local onde tenha sofrido". Oka nasceu em Calulo, mas seu "sofrimento" de filho de um agro-comerciante foi no Quissongo, onde voluntariamente se tornou condutor de equipamentos motorizados aos 13 anos, com várias noites perdidas no matagal, sempre que a sua Ford enterrasse. Sofrimento voluntário? Tudo que seja indesfrute é padecer.
Oka estudou, meteu-se na política e fez-se homem. Mas o sofrimento, no campo, a vida no campo é "sofrimento", estava-lhe no sangue. Enveredou pelo comércio, serviços e show bisi. A aventura pela agricultura nasceu aos 46 anos.
Hoje, sexagenário, Oka é agropecuário com largas centenas de bovídeos e milhares de hectares agricultados.
Na fazenda, em Cambau
Em Cambau, terras de Quissongo, onde se fez criança, cresce um pomar com mais de trezentas mil plantas, entre laranjeiras, tangerineiras, mangueiras, limoeiros, mamoeiros e abacateiros a que se juntam outros duzentos mil pés de ananaseiros.
Para os adubos que custam dólares, Oka encontro uma solução local, criando uma unidade de produção de adubo orgânico: caca de galinha, dress (de cevada) e casca de café. É desta forma que poupa dólares ao mesmo tempo que sonha com "as verdinhas" resultantes das vendas além Angola.
- Já temos contactos avançados e em 2020 deveremos atingir a produção plena em centenas de milhares de toneladas por espécie de frutas. O investimento que conta com uma represa e irrigação gota-a-gota, para além da desmatacão, preparação dos campos, compra de equipamentos agrícolas e ordenados, está avaliado em dezenas de milhões de dólares. Mas Oka é optimista.
Caca de galinha sem cheiro peculiar
- Só a idade atrapalha um pouco, mas se os filhos e os netos derem continuidade ao trabalho ficarão felizes. A idade de cada planta vai até aos 250 anos. É um investimento com retorno lento mas contínuo.
É isso que o mantém animado em Cambau, Mulundu (Ndala Kaxibu), Ebo e Assango. Mas Oka não pensa apenas no que os seus descendentes hão-de colher.
Cresce com os povos que o vêem empreender. Colabora intensamente com as administrações locais e, por via da sua responsabilidade social, requalifica aldeias, tomou o desafio de reparar 250 Km de estrada terciária/ ano como emprega os aldeões próximos de seus investimentos agropecuários e turísticos. Em breve, a foz do Queve vai ser valorizada.
Ex-cozinheiro conta peripécias
- Aqui é chapa ganha, chapa gasta. Nem casa em condições temos. Diz confiante no que há-de vir.
- Os retornos são para breve. Mas as necessidades das populações são de ontem. Afirma - Confiante.
Oka é homem do povo e conhecido dos políticos. Com eles colabora e se entrega.
Quissongo, Ebo, Assango, Ndala Kaxibu, Amboim, entre outras paragens dessa imensa Angola que não dorme.
Poucos voltam ao local onde sofreram. Bem haja!






Texto publicado no jornal Nova Gazeta de 09/11/2017, pg 06.

Sem comentários: