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quarta-feira, novembro 08, 2017

LOJAS DO POVO DOS ANOS OITENTA

Eram também conhecidas como Supermercados, mesmo se parecendo mais a cantinas dos tempos de hoje, as lojas do povo vigoraram da independência à abertura do país à economia de mercado (1991). Para quem não viveu e nem podia comparar com o que havia no tempo colonial, nem tinha outras vivências, eram supermercados e ponto final, independentemente da oferta e metragem.
Frequentei o supermercado "Casa Banga" na rua 8 de Novembro (Rangel), o Zé Gordo, rua dos Estudantes (Rangel), o 54 no Palanca (rua do Cavalo branco), o Nzala Ikola de António Silvestre, junto à escola 5 do Rangel, o Kiluanje no largo com mesmo nome, também no Rangel e ainda a Loja 60 do Cazenga, bem como algumas vezes fui à Cimex.
Havia porém outros melhor estruturados como os "Njamba". O Nzamba 3, próximo do Ngola Mbandi, foi o que mais frequentei e ainda lá está. O Njamba 1 também não foi destruído. Sorte diferente teve o Nzamba 4 da Zona industrial do Cazenga. Sobre o Nzamba 2 da Samba nada sei.
O que se devia e podia comprar nos "supermercados" não passava de "ração alimentar mensal", sendo que os produtos essenciais vinham listado num cartão. Todos os meses, a entidade empregadora passava uma declaração, atestando efectividade laboral.
O arroz, óleo alimentar, sabão, vinagre, massa (quando houvesse), açúcar, vinho, leite e outras poucas coisas eram vendidos a preços e quantidades fixas. As "bichas" (filas) estavam na moda e as havia para tudo e nada. Para ser dos primeiros a ser atendido e chegar a tempo de encontrar os produtos menos quantitativos era preciso madrugar e marcar o lugar com uma pedra, lata de leite, bidão, tronco, etc. Não eram poucos os cidadãos assaltados ou esfaqueados pelos bandidos quando se dirigiam à loja, perfurando os becos no escuro da madrugada. Algumas vezes, os "gregos" chegavam a fazer confusão à porta da loja, antes desta abrir, sendo que, frequentemente, os primeiros a marcar lugar acabavam sendo empurrados para trás, tomando-lhes os lugares cimeiros. Os organizadores de bicha, impiedosos com cintos e cacetetes, algumas vezes, os "odepê e bepevês" ou ainda os CPPA, vezes tantas chegavam com autoridade para pôr ordem. Maior organização e pouca "kavwanza" acontecia quando os PCU ou ST passassem por perto. Refractários e desertores eram levados, se não corressem antecipadamente com o pé no ngimbu.
Nos depósitos de pão, onde iam mais as crianças, nos talhos, peixarias e lojas de gás era frequente os gregos passagem à frente de quem tinha aturado a fila.
Já naquele tempo, anos 80 do sec. XX, havia uns "chico-espertos" que possuíam mais do que um cartão de abastecimento. Havia também os que desviavam a "comida do povo", levando-a às praças para a venda na "kandonga". Meu tio Ferreira "gastava" na Casa Banga. O seus papás onde "gastavam"?

Texto publicado no jornal Nova Gazeta de 16/11/17, pg. 4.

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