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domingo, setembro 01, 2013

JORNAL NOVA GAZZETA PERGUNTA

Luciano Canhanga,  jornalista e escritor
·        Depois de “Sonho de Kawia” e “Manongo Nongo”, o que  traz com os “10encantos” ?
·        Com o “10encantos” trago o lado e o grito poético que reside em mim. A fonte de inspiração continua  a ser a mesma: a sociedade e os seus contrastes. Porém, a forma de sentir e de narrar os factos é que mudaram.
·        Quando vai ser lançado e onde?
·        Em princípio, penso em lançar o livro na Lunda Sul, durante a semana do Heroi Nacional, por uma razão muito especial.  A minha produção literária é feita neste território que,  aos poucos, vai também ganhando leitores, sobretudo nas instituições de ensino superior em que colaboro. Temos feito um grande trabalho que visa incutir na juventude o gosto pela leitura e quero reconhecer este esforço e entrega da juventude com o lançamento, em primeira mão, de um dos meus livros.
·        Foi o jornalismo que o levou à escrita?
·        A escrita é anterior ao jornalismo como tal. Porém tenho dúvidas em aferir se seria capaz de chegar aonde consigo enchergar se não tivesse o jornalismo como profissão e vício. Continuo a dizer que a literatura é, em mim, uma extensão do jornalismo.
·        Quanto tempo leva para  escrever um livro?
·        Depende. É variável. Tudo começa como pequenos textos que vão ganhando forma ou que ficam na gaveta. Dos três livros já editados, “10encantos” foi o que durou mais tempo a escrever já que tem poemas do tempo do IMEL, 1993, e outros ainda do Ngola Mbandy, 1990. Sempre que publico um livro começo a escrever enquanto outro livro entra em revisão ortográfica. Isso permite-me ter sempre um em prontidão para entrar em produção, em caso de necessidade.
·        Geralmante onde é que busca inspiração para escerever? Qual é o momento do dia que mais o inspira? E onde é que escreve? Na praia, em casa, no escritório?
·        Todas as manhãs, encho a banheira e fico a meditar 20 a 30 minutos, em silêncio, pensando sempre em um tema do passado, do presente ou do futuro (imaginário). Depois traço os esboços ou as ideias chaves. À noite, depois dos compromissos profissionais com Catoca e com as Universidades em que colaboro, passo os esboços a limpo. Luanda é um território fecundo mas a redacção acontece normalmengte em Catoca, na Lunda Sul. 
·        É um homem de múltiplas actividades. A literatura para si é apenas um hobby?
·        Sim. Ainda não me sinto escritor, embora me sinta preocupado sempre que fique uma ou duas semansas sem escrever uma crónica. Também não tenho obcessão pelas coisas. A escrita acontece de forma espontânea e natural… Sem forçar e sem me sentir pressionado.
·        O que é ser escritor para si?
·        Ser escritor é, para mim, sentir de forma diferente o que sinto. Isto é, viver da escrita ou levar a arte muito mais a sério. Por isso, prefiro considerar-me apenas um contador de cenas.
·        Actualmente, o que o preocupa mais na literatura angolana?
·        Preocupa-me a falta de correcção no uso da língua pelos escritores emergentes, a falta de humildade em reconhecer que pouco se sabe da artes da escrita e do domínio das línguas e noto também a ausência dos mais experimentados para auxiliar os mais novos. Felizmente, não é o meu caso, pois tenho o José Caetano, Armando Graça e o Manuel Ruivo que sempre se mostraram disponíveis em me “puxar à orelha”. 
·        Hoje vão-se colocando alguns receios resultantes de uma aparente ausência de renovação geracional, entre os escritores angolanos. É uma questão real? Preocupa-o?
·        Considero que tudo acontece no tempo próprio. É obvio que se a minha geração estiver mais virada para a fama do que para a transpiração, os mais velhos a considerarão sempre como uma geraçãpo incipiente. Temos de nos aplicar mais naquilo em que nos propomos. Temos de mostrar que somos capazes de fazer a viragem, de continuar e aumentar o respeito que a literatura angolana já alcançou.  A questão que hoje me coloco é como fazer novos Aires de Almeida Santos, novos Agostinho Neto, novos Uanhenga Xitu, novos Viriatos, etc. É essa a questão que me persegue.
·        E o que pensa sobre a ideia comum de que os jovens escritores angolanos não sabem escrever?
·        Acho que não devemos generalizar em demasia. Reconheço que há alguma relutância de uns em se aprimorarem no domínio das línguas e da exposição artística das ideias.  Um texto literário ou para literário não é a mesma coisa que um texto não literário. Os primeiros têm de possuir elementos estilísticos que lhes conferem beleza e arte.
·        Já agora, o Prémio António Jacinto não teve vencedor pelo segundo ano consecutivo, e o argumento evocado pelo júri foi exactamente a falta de qualidade dos candidatos. Como olha para essa questão?
·        É uma pena que estando poucas vezes em Luanda ainda não tive a oportunidade de me candidatar. Vou no terceiro livro e nunca participei de tal prémio. Quero tentar para depois poder fazer um melhor juizo. Pode ser que os juízes tenham razão. A recíproca também pode ser verdadeira.
·        Que escritores angolanos tem como referência? Por quê?
·        Rodferick Neone, Isaqueil Cori, o incontornável Uanhenga Xitu, Jacinto de Lemos, Pepetela, Jofre Rocha, etc. São autores cujos escritos influenciaram a minha forma de encarar o mundo e a realidade. Já os li muito nos tempos do IMEL (curso de jornalismo) e continuo a lê-los.
·        Os angolanos não têm hábitos de leitura. Concorda? Há quem diga ser um falso problema.
·        Faltam hábitos de leitura, sim senhor! Houve um tempo em que os país se tinham demitido da missão de educar os filhos a ler. Já vi livros a serem rasgados para empacotar ginguba… Por outro lado, a carestia dos livros também afugenta quem quer ler mas não tenha dinheiro. No ensino médio, costumávamos emprestar os livros e em finais de anos oferecíamos e recebíamos livros. Também era obrigatório frequentar a União dos Escritores Angolanos. Não sei se a União ainda enche como nos anos noventa.
·        Que mecanismos devem ser usados para incentivar o hábito de leitura nos jovens?
·        Criar bibliotecas infantis é um bom caminho. Os pais devem ler para os filhos e diante dos filhos para que estes se orgulhem e lhes sigam o exemplo.
·        É fácil editar um livro em Angola?
·        Não. Ou se tem dinheiro para pagar ou se arranja patrocínio ou você é excelente e cai nas boas graças de uma editora que assume os custos na totalidade. A última vertente é a mais difícil.
·        Literatura na política, literatura politizada. Estas expressões existem, no contexto angolano? Que lhe dizem?
·        Já li alguns livros evocativos que me deixaram confuso se aquilo era literatura ou propaganda… Sendo apenas um amante da literatura e não um crítico, deixo essa tarefa aos especialistas para julgarem.
·        Que conselhos deixa a quem está à busca de uma oportunidade para mostrar o seu talento e entrar no mercado literário?
·        Que domine antes a língua em que vai trabalhar e leia muitos autores e diversificados estilos. É o que estou a fazer.
·        Tem projectos literários para o futuro?
·        Muitos. Tenho um livro em revisão ortográfica (“Predestinados” que já tinha anunciado com o título “Relógio do velho Trinta). Tenho ainda “As travessuras do Jacinto” e escrevo outras coisas que podem evoluir para esboços de livros. Não paro de escrever uma coisa ou outra.
 

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