Translate (tradução)

sábado, setembro 07, 2013

AS EXECUTIVAS DO PROTOCOLO


 
AS EXECUTIVAS DO PROTOCOLO
São jovens na flor da idade, algumas ainda pubertárias. Estão sempre de salto alto, bronzeadas, cabelo emprestado do Brasil e Índia e unhas sempre em dia. Ao sair de casa, algumas se vestem à executiva, para fingir ser gente. Uma vez na rua, apresentam-se de forma muito ousada: de collants extravagantes, muitas vezes mostrando a natureza genitália, calções curtos e top less que deixam descoberta a “faixa de gaja”. Usam ainda pinturas labiais que as distanciam das demais fêmeas do bicho homem.
Habitualmente, dormem durante o dia, quando não têm trabalho extraordinário, e trabalham à noite. São as “organizadoras” de eventos sócio-culturais e “meninas do protocolo” para os notáveis da alta sociedade.
Apostando no marketing, as executivas do protocolo optaram por elaborar business cards com fotos ousadas e endereço telefónico que entregam a convivas bem aparentados e desacompanhados nos eventos públicos e ou restritos das cidades angolanas. O resto é preço a combinar.
Dessas negociatas das executivas do protocolo surgem os jeeps top de gama com que algumas raparigas, ainda púberes, se exibem, quando não são os famigerados i10 e arredores.
Endinheirados, pseudo empresários, administradores de empresas públicas, altos dignitários do Estado, kamanguistas e generais no activo fazem parte dos preferidos e muito cobiçados pelas “moças do protocolo” que chegam a resolver contendas entre elas com imposição de voz e músculos sempre que uma se antecipe ao cliente permanente de outra. Pena é que já não cantam as kalashenikov e de tanques, tirando os de lavar roupas, já ninguém morre de medo. Nos tempos doutra senhora seriam capazes de resolver as diferenças protocolares a balázios…
Perante outras mulheres, elas são diferentes. Deslizam no gingar. Ciciam como cadela no cio. Usam perfumes com fragrâncias super sex e têm perícias em coçar a barba do idoso ou roçar a zona baixa do “Cabo de Santo Homem”.
Têm também expressões decoradas que lhes conferem uma aparente cultura do bem falar e modos cordatos. Apenas trechos de folhas decoradas, porque o resto são borboletas. O verbo que melhor sabem conjugar é fazer. Sendo “se fazer” o tempo mais empregue.
Uma vez transitadas para a fase posterior, a do emprego com remuneração mensal, não se coíbem em passar pelo “teste do sofá”, galgando como alpinistas. De sofá em sofá e de homo sapiens sapiens ao homo sapiens… Do general ao praça, até que sua volúpia se esfume.
Para os pais, as filhas fazem biscates de protocolo em eventos culturais.
- O emprego está difícil. - Concluem.
Para as puritanas, elas são a nova peste que arrasa a humanidade. As estraga lares e outros epítetos.
– É preciso tomar medidas contundentes e urgentes, antes que o pântano nos engula. - Apregoam.
Para as mães libertárias, elas são coitadas, invejadas pelas más-línguas.
– São trabalhadoras honestas, submetidas a longas horas de labuta, sem tempo para descanso. – Acodem.
Para os músicos da nova vaga, elas são a razão de avultadas vendas, casas de espectáculos cheias e fonte de inspiração para temas prolixos.
– Essas munzúbias me ‘arrebentam’. – Evocam no seu pobre vocabulário.

Texto publicado pelo Jornal de Angola de 10/09/2017


 
 

Sem comentários: