AS
EXECUTIVAS DO PROTOCOLO
São jovens na flor da
idade, algumas ainda pubertárias. Estão sempre de salto alto, bronzeadas,
cabelo emprestado do Brasil e Índia e unhas sempre em dia. Ao sair de casa, algumas
se vestem à executiva, para fingir ser gente. Uma vez na rua, apresentam-se de
forma muito ousada: de collants
extravagantes, muitas vezes mostrando a natureza genitália, calções curtos e top less que deixam descoberta a “faixa de gaja”. Usam ainda
pinturas labiais que as distanciam das demais fêmeas do bicho homem.
Habitualmente, dormem
durante o dia, quando não têm trabalho extraordinário, e trabalham à noite. São
as “organizadoras” de eventos sócio-culturais e “meninas do protocolo” para os
notáveis da alta sociedade.
Apostando no marketing,
as executivas do protocolo optaram por elaborar business cards com fotos ousadas e endereço telefónico que entregam
a convivas bem aparentados e desacompanhados nos eventos públicos e ou restritos
das cidades angolanas. O resto é preço a combinar.
Dessas negociatas das
executivas do protocolo surgem os jeeps
top de gama com que algumas raparigas, ainda púberes, se exibem, quando não são
os famigerados i10 e arredores.
Endinheirados, pseudo empresários,
administradores de empresas públicas, altos dignitários do Estado, kamanguistas
e generais no activo fazem parte dos preferidos e muito cobiçados pelas “moças
do protocolo” que chegam a resolver contendas entre elas com imposição de voz e
músculos sempre que uma se antecipe ao cliente permanente de outra. Pena é que
já não cantam as kalashenikov e de tanques, tirando os de lavar roupas, já
ninguém morre de medo. Nos tempos doutra senhora seriam capazes de resolver as
diferenças protocolares a balázios…
Perante outras mulheres,
elas são diferentes. Deslizam no gingar. Ciciam como cadela no cio. Usam
perfumes com fragrâncias super sex e têm perícias em coçar a barba do idoso ou
roçar a zona baixa do “Cabo de Santo Homem”.
Têm também expressões
decoradas que lhes conferem uma aparente cultura do bem falar e modos cordatos.
Apenas trechos de folhas decoradas, porque o resto são borboletas. O verbo que
melhor sabem conjugar é fazer. Sendo “se fazer” o tempo mais empregue.
Uma vez transitadas para
a fase posterior, a do emprego com remuneração mensal, não se coíbem em passar
pelo “teste do sofá”, galgando como alpinistas. De sofá em sofá e de homo
sapiens sapiens ao homo sapiens… Do general ao praça, até que sua volúpia se
esfume.
Para os pais, as filhas
fazem biscates de protocolo em eventos culturais.
- O emprego está
difícil. - Concluem.
Para as puritanas, elas
são a nova peste que arrasa a humanidade. As estraga lares e outros epítetos.
– É preciso tomar
medidas contundentes e urgentes, antes que o pântano nos engula. - Apregoam.
Para as mães libertárias,
elas são coitadas, invejadas pelas más-línguas.
– São trabalhadoras
honestas, submetidas a longas horas de labuta, sem tempo para descanso. –
Acodem.
Para os músicos da nova
vaga, elas são a razão de avultadas vendas, casas de espectáculos cheias e fonte de inspiração para
temas prolixos.
– Essas munzúbias me
‘arrebentam’. – Evocam no seu pobre vocabulário.
Texto publicado pelo Jornal de Angola de 10/09/2017
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