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quarta-feira, novembro 30, 2022

ATÉ QUE PONTO CRECHES PARA IDOSOS AUMENTARIAM LONGEVIDADE?

Phande-a-Umba tem a mãe viúva, idosa e invisual. Malocha viu o pai partir e tem a mãe, também idosa, a morar sozinha em uma casa, na cidade, fora do seu habitat.

Quer a mãe de Phande como a de Malocha viviam no interior do país, em comunidades cooperantes, diferente de Luanda, onde as idosas se sentem isoladas, pior ainda, com as limitações impostas pela covid-19.

Malocha e Phande têm experimentado juntar as duas mães em alguns fins-de-semana, para conversarem. As septuagenárias reclamam a ausência de coetâneas para conversar, contar os filmes de suas vidas e experimentarem novas coisas.

- Os filhos dão comida, empregada e assistência médica. Disso não podemos reclamar, mas será que a vida é só comer dormir e acordar? - Reclama a mãe de Phande.

- Sabemos cozinhar, lavrar, consertar e fazer outras coisas. Mas o quê que a pessoa faz se vive sozinha? - Reclama a mãe de Malocha.

Embora Phande tenha erguido uma casa adaptada às condições de mobilidade condicionada da sua progenitora, tem pensado que se existissem "creches" para os idosos passarem o dia e voltarem no final da tarde às suas residências, o tédio e solidão seriam menores e aumentaria o prazer pela vida. 

Argumenta que os idosos trocariam experiências, conversariam sobre suas vidas, suas afinidades,  dificuldades e anseios,  encontrariam aspectos comuns e, eventualmente, uns voltassem a se apaixonar e casar, como tem acontecido em alguns dos poucos lares de idosos em Angola.

Quer idosos, quanto idosas podem, num lar ou creche, praticar e ensinar artes e ofícios. As mulheres, por exemplo, podem atender encomendas de bolos, kizaka, nfúmbwa, kisângwa e outros, repartindo os proventos entre elas (colectividade da creche). Os homens podem consertar assentos, pintar jarros, etc., enquanto mantêm as conversas em dia e sem pressa.

Em tempos, alguns idosos no Rangel (Luanda) que viviam com suas famílias, preparavam-se, manhã cedo, para saírem em direcção ao bairro Palanca, como se fossem trabalhar. Uma antiga livraria e papelaria, na Rua E, tinha sido transformada em ponto de encontro de idosos reformados que jogavam às cartas e falavam de suas vidas.

- Até contar o número de netos e bisnetos é motivo de conversa, dizia António Kabanga, já finado. 

Em Portugal, conheci um idoso, também já finado que se ocupava a escrever as biografias de seus coetâneos à medida que fossem conversando no jardim sobre suas vidas. O velho "virou escritor biografista".

São essas experiências que fazem Malocha e Phande reflectirem sobre se "creches para idosos" não ajudariam a dar mais vida aos anciãos solitários.

- O que diz a legislação angolana sobre a criação de lares privados para acolher idosos?

- É possível explorar esse nicho, a exemplo das creches que cuidam dos menores durante o dia, devolvendo-os ao final da jornada aos seus pais?


Jovens hoje, idosos amanhã. Antes que a mesma desgraça não nos bata à porta, vamos reflectir juntos.


Texto publicado pelo Jornal de Angola, a 23.01.2022

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