O calendário corre. É Abril.
Os tugas que nos legaram a língua de que me sirvo para teclar e falar têm um marco em Abril chamado "abrilada". Está ligado à sublevação miguelista no período da monarquia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Abrilada).
Para nós angolanos, Abril nos leva à paz que perseguíamos havia séculos. Primeiro registamos lutas entre povos que habitavam o mesmo território, depois a colonização, expropriação, tráfico de escravos e os pseudo contratos que foi escravatura interna, seguiram-se a luta de resistência à ocupação colonial, a luta pela independência (14 anos), guerra civil pós-independência (17 anos) e finalmente a guerra pós-eleitoral (10 anos). Porém, pelo método menos esperado, a paz chegou e já leva 14 anos.
Os tugas que nos legaram a língua de que me sirvo para teclar e falar têm um marco em Abril chamado "abrilada". Está ligado à sublevação miguelista no período da monarquia (https://pt.wikipedia.org/wiki/Abrilada).
Para nós angolanos, Abril nos leva à paz que perseguíamos havia séculos. Primeiro registamos lutas entre povos que habitavam o mesmo território, depois a colonização, expropriação, tráfico de escravos e os pseudo contratos que foi escravatura interna, seguiram-se a luta de resistência à ocupação colonial, a luta pela independência (14 anos), guerra civil pós-independência (17 anos) e finalmente a guerra pós-eleitoral (10 anos). Porém, pelo método menos esperado, a paz chegou e já leva 14 anos.
É essa paz que todos queremos e precisamos manter que ocupa as palavras abaixo e vou recorrer às notas dispersas que conservo na memória.
Uma semana antes da assinatura do acordo formal em Luanda, estive no Luena ao serviço da LAC- Luanda Antena Comercial.
Dias antes, pela mesma emissora, tinha estado lá a Paula Simons que depois fez a cobertura magna da assinatura do "Memorando de Entendimento do Luena", no Palácio dos Congressos, em Luanda.
O Zé Rodrigues, Director de Informação, mandou-me num avião do PAM com carta de recomendação ao General Nunda que comandava o Estado Maior Avançado das FAA no Luena. Foi para mim um misto entre aventura e desejo de viver um dos momentos inolvidáveis da História do país.
Os homens da Unita estavam alojados, alguns, na Pensão Horizonte e outros no principal hotel da cidade, o Luso, sendo que as conferências de imprensa eram realizadas na sede do Governo Provincial Moxico. As conversas ou negociações essas decorriam noutro local, nas traseiras do edifício administrativo do Governo.
Vi e convivi com generais magros, desnutridos, com ossos desenhados, cabeludos, um pé na bota outro pé no chinelo, dormitando em beliches na Pensão Horizonte onde eu tomava refeições propositadamente para poder cair no seu engodo e chegar à palavra-testemunho aguardada pelos ouvintes da emissora.
Vi e entrevistei povos que chegavam todos os dias, heli-transportados pelas FAA, trazendo na bagagem apenas a vida e a esperança de uma vida melhor do que aquela animalesca a que haviam sido votados. Faltava-lhes tudo.
Conheci homens e mulheres cultos, bem falantes, com piolhos de roupa a percorrer-lhes o corpo.
Fiz quatro ou cinco dias no Luena e lembro-me de ter voltado a Luanda apenas com a roupa do corpo. Ofereci, peça a peça, o meu vestuário aos meus entrevistados no campo de deslocados que se erguera próximo do cemitério municipal e outros no edifício inacabado junto ao bispado.
Wambu Kalunga, S. Chiwale, M. Dachala, L. Gato e Kamorteiro são algumas das pessoas com quem falei no Luena, abordando a penúria dos dias de aperto, a magnanimidade do Presidente da República, a esperança de reerguer uma Angola em paz, curar as feridas e enterrar o machado da guerra. Pareciam todos bem animados: militares e populares vindos das matas.
Será que conservam o ânimo, o discurso e a mesma esperança?
"Um povo que ignore a sua História condena-se a repetir os erros do passado".
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