Aturei 'mbora bem o engarrafamento da “Bacia Come Cenoura”, que nos dias de
chuva engole o asfalto em vez da hortaliça de quem recebe o nome.
Três horas e
tal, a "caloriar" num carro com AC e tudo. Gasóleo agora é líquido
precioso que requer poupança. Luxo fica só pela metade. Quando estava mesmo já
no fim do sofrimento, um gajo a buzinar aos outros para terem mais atenção e
eles a me buzinarem de volta, uns só mesmo de pirraça para espantar os nervos que
tinham comido todas as unhas e quase a sangrar os dedos, estava já a entrar
para o asfalto, quando ouvi na minha traseira esquerda cru-cru-cru- buá.
Um Rav 4 antigo, todo desmazelado, raspou-se no meu carro, até se
estatelar no degrau que chamam de "pisa-pé": buá! E o homem não pára
já? Não! Continuou.
Estava, afinal a ser puxado com corda de aço por uma carrinha de uma
empresa. Saí foribundo da viatura, quase a lhe dar uns socos com a minha mão
aleijada, mas o polícia que estava por perto me contrariou:
Não lhe bate a frente d'atoridade.
Então, camarada autoridade, manda-lhe pagar estragos que causou, senão
vamos nos resolver mesmo já aqui. Esse carro tem nome da minha sofrida mãe. É
de sofrimento. Não me foi atribuído pelo Estado, nem o apanhei só assim...
Aí, o homem do acidente exibe as cadapla e confessa:
Sou de boa fé. Me desculpa só. Também sou polícia, dos que guardam as
empresas grande e o meu ganho é xis. Pior, acabei de enterrar a mãe. O meu
passe e a carta de condução podem ir contigo. Me dá o teu contacto e um dia te
procuro.
A Maria anda
agora arranhada, como se tivesse lutado com o António, seu finado marido de setenta e
três-oitenta e dois. Já leva tempo, o homem nada.
- Melaço, Mela?! Não é que descobri que aquele tipo que danificou a lateral da viatura não
é um gajo de boa fé, mas um morador da Boa Fé?
- Quem te disse, se não te vi a sair?
- Sonhei filha. Sonhei. Foi a reposição completa do filme...
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