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quinta-feira, fevereiro 08, 2018

CONTEMPLANDO A BAIA AZUL

 Aos meus olhos visitantes o céu e o mar se tinham casado em uma só cor. Nem brumas nem nuvens. Só azul límpido e silencioso num campo límpido, asseado.
À entrada e no percurso da rua que rasga o monte pela diagonal vão florescendo novas e belas edificações para turismo e habitação permanente. Mas é a antiga instância turística que se parece abandonada que mais desperta a curiosidade, dada a sua arquitectura ímpar.
- Uma antiga pescaria?
- Um antigo hotel?
- Uma obra inacabada por causa da crise financeira dos últimos anos?
Um mar de interrogações, ali mesmo, à beira-mar que é preciso saciar.
Os que se "apoderaram" dos pisos térreos dizem que "foi o Centro Turístico e Hoteleiro de Baía Azul, antes pertença de um 'senhor de cor' (branco) e depois tutelado pela EMPROTEL (empresa provincial de hotelaria) de Benguela".
Hoje, contam, "é de um general que faleceu recentemente" e a sua reabilitação e reaproveitamento esperados ficam, por isso, condicionados a "segundas ordens", porque o dono passou para a outra dimensão da vida.
Nataniel, um dos homem a residir num dos compartimentos do imóvel, quando convidado para passear pela história e pelo local, não se coibiu. Contou o que sabe e mostrou as antigas serventias. Esboçou também uma tênue esperança.
"Queríamos que a família do malogrado general viesse retomar o que está aqui. O mais importante é meter esse hotel como era no tempo do branco ou mesmo no tempo da EMPROTEL. Aqui enchia e as pessoas tinham trabalho". - Enfatizou.
Nataniel conta que o seu pai trabalhou ali como servente e ele correu várias vezes pelas escadas que levavam os banhistas à praia. Mostrou os antigos balneários. "Aqui é onde as pessoas tiravam o calor das caminhadas, antes de se jogarem ao mar, e onde retiravam a água salgada para voltar às mesas ou aos quartos", explicou. Hoje está tudo abandonado.
Há outros pontos turísticos na baía Azul, esplendorosos em qualidade e grandeza. Mas para a história, atesta Nataniel, "é mesmo esse que venderam ao finado general Matos".


Texto publicado no jornal Nova Gazeta, 2018.

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