Dançávamos ao Carnaval da Vitória com os grupos Atuzemba, União Estrela do Kaputu (Zona 15), entre outros que animavam o Rangel inteiro, antes e nos dias do desfile principal. Agradava-me assistir aos ensaios e ver aquela gente alegre. Alegria espontânea e não comprada ou a troco de alguma distinção à marginal. E dançávamos eufóricos ao som da ngoma de lata, reco-reco, puíta, chocalho, etc. O rei e a sua rainha vestiam-se à moda angolana e exibiam coroas feitas a base de ferros recortados e outros metais. Era tudo a base do improviso espontâneo.
Mas quem mais alegria dava aos munícipes todos e em especial às mamãs peixeiras e outras quitandeiras da praça das Corridas (hoje mais conhecida como praça do Tunga Ngó) e da Praça Nova (defronte a administração comunal do Rangel) e aos meninos e meninas da minha infância “rangelina” era o Man-Brás. Exímio vocalista de carnaval e tocador de ngoma, sofria de algum distúrbio mental que não cheguei a definir. Muitas crianças se perdiam por seguirem o Man-Brás que ia cantando, tocando e dançando. Que saudades dos seus toques ímpares!
Man-Brás foi um feitor e zelador do nosso carnaval de bairro. Carnaval alegre, sem preço, sem patrocínios, sem contrapartidas e que não era encomendado por ninguém. Man-Brás corporizava essa alegria de quem estava e sentia-se livre na sua terra.
O Man-Brás que vivia na rua do “ti Avelino” apesar, de sofrer de distúrbio mental, tinha o reconhecimento e respeito de todos. Era prendado pelas mamãs que gostavam do som do seu tambor, da voz do seu canto e dos toques da sua dança, quer na rua ou nos mercados onde preferencialmente se fazia exibir. Nada cobrava. Apenas recebia o que lhe era dado de oferta no momento da exibição e fazendo do seu carnaval, sem época, o seu ganha-pão.
Man-Brás, cujo batuque e canto ainda se fazem ecoar no meu ouvido era a nossa alegria de criança esboçada no refrão: Man-Bragéé-é, Man-Bragéé-é!, É o meu homenageado neste carnaval de 2017. Espero que um dia alguém da APROCAL se lembre dele.
Man-Bragéé-é!
Obs: publicado a 16.03.2017 pelo semanário Nova Gazeta
Obs: publicado a 16.03.2017 pelo semanário Nova Gazeta
Sem comentários:
Enviar um comentário