“Soberano Canhanga” como é conhecido pelo seu pseudônimo, nasceu em Libolo, em 1976. Reside em Luanda, a capital de Angola, e teve passagem de nove anos pelo nordeste do país. É formado em Comunicação Social e Pedagogia de História
Por Gilvaldo Quinzeiro
Estamos iniciando em “Perspectivas Interculturais”, como o próprio nome sugere, um diálogo com as diferentes culturas, estilos artísticos e gênero literário. Nesta edição queremos que o público caxiense, maranhense e brasileiro conheça o jornalista, cronista e poeta angolano Luciano Canhanga.
“Soberano Canhanga” como é conhecido pelo seu pseudônimo, nasceu em Libolo, em 1976. Reside em Luanda, a capital de Angola, e teve passagem de nove anos pelo nordeste do país. É formado em Comunicação Social e Pedagogia de História. Frequenta mestrado em Ciências Empresariais pela Universidade Fernando Pessoa, depois de frequentado o MBA em Gestão de Pessoas pela FAAG-Brasil. Luciano Canhanga é atualmente Gestor de RH no Ministério de Geologia e Minas. O que pensa este angolano sobre o Brasil? O que fala da cultura angolana? Quais são suas obras literárias? Leia a entrevista!
Gilvaldo Quinzeiro – Senhor Luciano Canhanga, muito prazer! Bem-vindo a Perspectivas Interculturais! Obrigado por nos conceder esta entrevista! Fale-nos da sua inserção cultural ai em Angola? Qual a sua produção cultural? Quantas e quais obras literárias publicadas?
Luciano Canhanga - Vivo a cultura angolana que sendo única não se dissocia da cultura e civilização universal. Como amante das letras, tenho cinco livros publicados entre 2010-2015, assinando com o pseudônimo Soberano Canhanga.
O sonho de Kauia, romance de estreia, em 2010; Manongo’Nongo, contos, 2012; 10 encantos, poesia, 2013; O relógio do Velho Trinta, romance, 2014 e O coleccionador de pirilampos, contos, 2014. Também sou bloguista desde 2005, escrevendo sobre aspectos antropológicos, sociais, históricos, comunicacionais, entre outros nos meus seis blogues, sendo o principal www.mesumajikuka.blogspot.com
Gilvaldo Quinzeiro – Qual o seu estilo literário? Que traços da cultura angolana está presente em seu trabalho?
Luciano Canhanga - Identifico-me mais com a prosa, sendo a crônica o género em que melhor exercito. Isso se deve à minha condição de jornalista há já vinte anos. Costumo mesmo dizer que não sou escritor. Apenas um contador de cenas, descrevendo a sociedade através da crônica ou da versificação. A minha escrita é vivencial embora pintada e repintada com o lado artístico.
Gilvaldo Quinzeiro – O Senhor além de ser colaborador da HLC, está lançando um livro bilíngue pela Editora Pim, da série Biblioteca Universal. Fale desse livro? O que é para o Senhor fazer parte desse projeto?
Luciano Canhanga - Conheci o Dragomirescu Daniel, editor do HLC, nas lides sociais, há já cinco anos depois de publicar o meu primeiro livro. É uma boa experiência partilhar com o mundo o fruto do nosso trabalho intelectual. Os angolanos são ainda pouco traduzidos e levar os meus textos à Europa e América é motivo de satisfação. Canções ao vento são poemas que retratam Angola nos seus mais variados contextos econômico, político e social. É obvio que não são crónicas versificadas, devendo exigir sempre uma segunda leitura, dada a polissemia do texto poético. Porém, quem ler as minhas canções, encontrará nelas, com certeza, um país que atende por Angola e um povo com dinâmica própria de vida.
Gilvaldo Quinzeiro - E com relação a literatura Angolana, o que o Senhor tem a nos dizer? Quais os autores mais lidos? Como é o público leitor angolano?
Luciano Canhanga - Os angolanos já começam a ler muito mais e temos leitores heterogéneos. Hoje não se leem apenas os nacionais, mas também os autores estrangeiros e, particularmente, brasileiros. As ferramentas digitais levam-nos a todos os recantos. Quanto aos nacionais, são incontornáveis nomes como Pepetela, Manuel Rui, Uanhenga Xitu, Alda Lara, Jofre Rocha, Roderick Nehone, Ismael Mateus, Luis Fernando, Lopito Feijó, Ondjaki, Cremilda de Lima, Maria Celestina Fernande, José Eduardo Águalusa, etc. Vai também surgindo um grupo de escritores da nova geração, como o Gociante Patissa, António Quino, Ras Nguimba Ngola, David Kapelenguela, e outros bastante promissores, segundo a crítica.
Gilvaldo Quinzeiro – Como o Senhor ver a relação Brasil/Angola? O que precisa melhorar nesta relação? Como o angolano ver o Brasil? Que autores brasileiros são lidos pelos angolanos?
Luciano Canhanga - Os novelistas e romancistas brasileiros como Jorge Amado são dos mais queridos em Angola. As telenovelas brasileiras são muito consumidas em Angola e a Tv acaba por nos levar ao texto que dá suporte às telenovelas. Isso faz com que se conheçam mais os actores e autores. Porém a falta de estudos e publicações regulares faz com que a minha apreciação seja apenas minha, sem exteriorizações. As relações históricas, políticas e económicas entre Angola e Brasil são das melhores que existem. Do ponto de vista cultural, assisto a um movimento unidirecional: vejo o Brasil mais na condição de produtor e exportador, sendo Angola mais consumidor de produtos culturais brasileiros. É aqui que as partes, sobretudo a angolana, precisa de trabalhar mais. Do outro lado há um grande mercado e uma ânsia por conhecimento de África que pode ser produzido e fornecido pela costa este do Atlântico. Precisam ser afinados os mecanismos de comunicação e intercambio para que a África vá mais à América, culturalmente falando. Não basta dizer que o Samba é filho do Semba (de Angola) ou que a capoeira foi levada por africanos. É necessário que haja um intercâmbio e conhecimentos permanentes.
Gilvaldo Quinzeiro – Como os autores angolanos estão utilizando as mídias atuais? No que a internet, as redes sociais têm contribuído na produção dos novos autores angolanos, e na sua em particular?
Luciano Canhanga - Os jovens, sobretudo, têm aproveitado as novas tendências da mídia para se mostrarem ao mundo. É o meu caso. Tenho três ebooks que me levam a um universo maior de leitores, aonde o livro físico não chegaria. Acredito que essa tendência venha a crescer cada vez mais e a quebrar barreiras e fronteiras. Há também uma crescente utilização de redes sociais o que, por si só, pluraliza a sociedade e torna a sociedade mais aberta ao mundo.
Gilvaldo Quinzeiro – Faça as suas considerações finais.
Luciano Canhanga - Sinto-me grato por ter merecido a vossa atenção e pela oportunidade que me concedem em exteriorizar algumas ideias. Espero que continuem nessa senda e que deem oportunidades a mais literatos angolanos para levarem ao mundo o que lhes vai na alma.
Obrigado.
1 comentário:
Excelente entrevista, parabéns Gilvaldo Quinzeiro, por nos tornar conheido o Poeta
Canhanga.
Enviar um comentário