Na áurea das independências, e influenciados pelos ventos
revolucionários e ideologia dos países do Leste europeu, dois Estados da
conhecida Região do Corno de África decidiram fundir as suas fronteiras num
acto que visava aproximar os dois povos que comungavam de culturas e valore
muito parecidos.
Essa visão política estendeu-se ao fórum empresarial e
económico. Algumas firmas do pais
Ericeira estabeleceram parcerias, face a existência de novas oportunidades
de mercado e possibilidades de expansão de negócios.
Tonka Incorporated, uma firma que dominava o segmento da
prestação de serviços de higiene e segurança em instituições públicas, bem como
a gestão e e aplicação de políticas de Recursos Humanos, tinha uma considerável
quota de mercado em Ericeira e um
excesso de liquidez que permitia a empresa explorar a oportunidade criada pela
conjuntura exógena, a fusão dos territórios entre Ericeira e Entropia.
Em viagem de serviço a capital de Entropia, que se tornou a segunda cidade mais importante do Estado
Unificado, Sir Kato Ndombele, o patrão da firma KatOn Service Incorporated, conheceu Hamed Tonka, o Presidente do
Conselho de Administraçao da firma Tonka Incorporated, e com ele decidiu
estabelecer uma parceria, criando uma fusão entre as duas empresas, tempos
depois, antecedida de aturadas negociações.
A KatOn era uma
empresa com reputação ao nível do continente africano e de alguns países do sul
da Europa em termos de gestão de Capital Humano e prestação de serviços. Porém,
as transformações políticas no país e as nacionalizaçoes ocorridas em Ericeira
não facilitaram uma expansão dos seus negócios, muito menos criar uma almofada
financeira que permitisse atacar o novo mercado que surgiu com a fusão dos dois
Estados vizinhos. Os quadros da KatOn tinham porém a fama de terem trabalhado
em grandes multinacionais, gozando, por isso, de grande reputação junto de
outros parceiros empresariais e organizações governamentais.
A Tonka, empresa da Entropia, viu nela uma parceira capaz de
agregar valor aos seus recursos financeiros excedentários.
Fundidas as empresas Tonka
e KatOn, a nova entidade jurídica
passou a designar-se Toka International, sendo grande parte da sua gerência
confiada aos executivos procedentes da KatOn, que era minúscula em termos de
estrutura, mas robusta em termos de know
how e qualidade do seu Capital Humano. A
sede da nova entidade empresarial, a operar no território unificado, passou a
ser a antiga Base Central da então Tonka Incorporated, o que levou os
funcionários mais antigos da Tonka a tratarem os seus novos colegas com os mais
variados epítetos depreciativos. Eram tratados como "estrangeiros,
invasores, usurpadores de cargos, etc.", situações que a juventude bem disposta,
comprometida e motivada, procedente da KatOn, geria com inteligência e postura
institucional.
- O nosso lema é trabalhar, fazer a nova empresa crescer e
crescer com ela. - Diziam os jovens executivos saídos da KatOn.
De simples alegações ciumentas, passou-se a confrontos
verbais mais acirrados que chegavam, em muito dos casos, a inviabilizar alguns
planos de crescimento da Toka International.
Como as lideranças estavam mais focadas na consolidação da
fusão e desenvolvimento da nova estratégia de negócios propiciada pelas razões
endógenas (excesso de liquidez e domínio de consideravel quota de mercado por
parte de Tonka e elevada preparação técnica dos quadros da KatOn) e pelas
razões exógenas (fusão dos dois países, crescimento económico e restruturação
das instituições públicas), preferiram tocar o negócio para a frente, buscando
apenas a participação daqueles que estavam interessados em trabalhar, fossem
quais fossem as suas funções hierárquicas nas equipas. As lideranças
intermédias rapidamente interpretaram o pensamento estratégico e começaram a trabalhar
com os quadros disponíveis, ficando sem trabalho aqueles que, a todo o custo,
puxavam a carroça para trás ou usavam a táctica
do caranguejo (não permitir que alguém trabalhe ou colabore). O curso dos
acontecimentos levou a que os quadros da Tonka que aderiram à nova filosofia de
trabalho aprendessem com os outros provenientes da KatOn e se especializassem
em distintos ramos do saber. Às cegas ficaram aqueles que desistiram de
trabalhar, procurando apenas conspirar contra as novas lideranças da Empresa
Unificada e os colegas que tinham aderido à nova fislosofia de trabalho.
Vinte anos depois, o Leste europeu conheceu outros
desenvolvimentos políticos, com maior realce para a queda do Muro de Berlim,
que levaram à desintegração de Estados em alguns continentes desanexações de territórios,
efeitos que se estenderam a países que orbitavam na esfera ideológica do Leste
europeu. Isso fez com que a integridade do Estado
Unificado de Ericeira-Entropia fosse afectada, repercutindo-se também em
alguns negócios empresariais, sobretudo os actores que trabalhavam com
instituições públicas.
Da Toka International ressurgiram duas novas entidades
empresariais que passaram a actuar com a mesma tecnologia e conhecimento nos
países (re)emancipados.
- Chegou a nossa hora de governar o país e a empresa,
terminada que está a ocupação ilegal dos nossos postos de trabalho e de chefia.
- Proclamou a velha guarda resistente da antiga Tonka de Ericeira.
Os jovens competentes, formados no tempo da fusão, foram
relegados para planos secundários na organização, sendo catalogados como "produto da colonização empresarial", ocupando a velha guarda os postos
de decisão na empresa.
Aqueles que, sendo da mesma geração que a velha guarda
tonkanense, tinham aderido às novas formas de trabalho, no tempo da gigante
Kato International do Estado Unificado, também foram ostracizados sob a
alegação de "se terem juntado ao colonizador".
- Quem se juntou ao opressor que invadiu a nossa empresa e
tomou os nossos lugares, agora que nos livramos deles, deve partir ou
sujeitar-se à nova ordem. – Apregoavam eufóricos.
O poder de transformar a empresa e seguir o seu percurso de
crescimento e expansão tinha-lhes sido entregue. Porém, os vinte anos de
defeso, sem trabalho e contacto com as novas ideias e novas tecnologias, fez
deles maus líderes e maus obreiros. De uma imponente empresa que foi antes e
depois da fusão, a Tonka não passa hoje de um impotente manto de retalhos, com
tecnologia e capital humano a reclamarem por uma reforma profunda.
Do outro lado, em Entropia, segue de vento em popa a KatOn
International que absorveu da sua antiga parceira o conhecimento de mercado,
capitalizou os investimentos herdados com a fusão e conta com os seus quadros
cada vez mais qualificados.
Quando se realizam fusões de organizações empresariais,
independentemente da procedência,
quantidade de quadros indicados para a gestão e do peso que tenham ou venham a
ter na organização, é importante que cada uma das partes fundidas ou
componentes das partes dêm o seu
máximo para a consolidação da nova entidade. Todos os integrantes devem
absorver as vantagens da fusão e da interação com os outros actores (que se
juntam à nova organização).
Ficar na sombra, a reclamar o declínio dos gestores no
activo, pode ser perigoso para quem arme este estratagema como forma de
reivindicar o poder, pois, uma vez no exercício do poder reclamado, pode ver-se
despido de ferramentas para a exercitação das funções que lhe foram confiadas.
Ficar na sombra, a torcer pelo descarrilamento do comboio, para depois tomar o
lugar do maquinista azarento, poder ser uma estratégia perigosa como se
verificou entre os integrantes da firma Tonka de Ericeira que deitaram a baixo
até o que de mais valioso tinham conseguido com muito labor: o supervait e considerável quota de mercado
ericeiriense no domínio da prestação de serviços de higiene e segurança em
instituições públicas, bem como a gestão e e aplicação de políticas de Recursos
Humanos.
Nota: a presente reflexão
é produto de criatividade aliada ao estudo de casos científicos no curso de MBA
realizado na FAAG, não se dirigindo a
pessoas e ou instituições concretas de nenhum Estado ou território.
Obs: Texto publicado no Semanário Angolense de 06.11.2015.
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