Oficialmente, faz-se hoje (15 de Maio)a transição da estação chuvosa e quente para a estação fria e seca, também conhecida em Angola pela designação de Cacimbo. Angola só tem duas estações.
No meu tempo de kandengue, no cacimbo as pessoas aproveitavam fazer a agricultura de regadio, junto aos ribeiros ou aproveitar a humidade dos vales e fazer as chamadas hortas. Havia milho fresco, couves e repolho, tomate, cebola, feijão, etc. Também durante o cacimbo, aconteciam as férias escolares, pois os nove meses do ano lectivo começavam em Setembro. Os "mancebos" eram circuncidados no tempo de cacimbo para se tornarem homens reconhecidos perante a sociedade. Ser circuncidado eram um estatuto... As caçadas também aconteciam no cacimbo e até a pesca com cestos ou substâncias entorpecentes nos pequenos cursos e depósitos de água.
Hoje, o que me alegra, quando o cacimbo chega, é apenas a ausência de chuva e das "lagoas" em Luanda. A vida dos adultos e das crianças continua na mesma rotina. A água nas rodovias é substituída pela poeira. O paludismo, abundante no tempo chuvoso, é substituído pelo katolotolo, essa terrível doença que grassa por Luanda, cujo tratamento, ao que se diz, ainda passa pelo tradicional alho e petróleo.
Lembro-me também, com alguma saudade, dos "mapas" que o cacimbo deixava em nossa pele. Com o frio, a pele ficava ressequida, sem lustro, e qualquer contacto mais apertado deixava um sinal, um risco, devido ao cieiro. E chamávamos a isso de mapas. E a luta pela manta (cobertor). O puxa-puxa entre manos ou manas de mesma família que dormitavam, habitualmente, no mesmo quarto?! Era uma gritaria no período mais apertado do frio, entre a 02h00 às 05h00.
Nas férias do cacimbo, os alunos mais crescidinhos participavam "das campanhas do povo" apanhando o café, ananases, ou de outra índole. Havia também visitas a fabricas e outras unidades de produção. Eram as chamadas "actividades produtivas em tempo de férias". Outros faziam-se à estrada, nos machimbombos da Viriatos, EVA, ETP ou ETIM, até Luanda e/ou outras urbes para se actualizarem em termos de moda e outros conhecimentos. Nas cidades frequentavam cinemas e praias e levavam novidades àqueles que tinham ficado ou que tinham passado as chamadas férias grandes noutras localidades.
Mais um detalhe: terminado o cacimbo, muitas manas e tias apresentavam-se grávidas. Obra do cacimbo. O frio faz procurar e juntar-se mais tempo ao (à) companheiro(a). Calculo que isso continue imutável, apesar de se poder inventar, nos tempos que correm, pequenos cacimbos em nossos quartos com a instalação de aparelhos de ar condicionado.
O que me contarão os meus netos sobre o cacimbo?
Eventualmente nada!
No meu tempo de kandengue, no cacimbo as pessoas aproveitavam fazer a agricultura de regadio, junto aos ribeiros ou aproveitar a humidade dos vales e fazer as chamadas hortas. Havia milho fresco, couves e repolho, tomate, cebola, feijão, etc. Também durante o cacimbo, aconteciam as férias escolares, pois os nove meses do ano lectivo começavam em Setembro. Os "mancebos" eram circuncidados no tempo de cacimbo para se tornarem homens reconhecidos perante a sociedade. Ser circuncidado eram um estatuto... As caçadas também aconteciam no cacimbo e até a pesca com cestos ou substâncias entorpecentes nos pequenos cursos e depósitos de água.
Hoje, o que me alegra, quando o cacimbo chega, é apenas a ausência de chuva e das "lagoas" em Luanda. A vida dos adultos e das crianças continua na mesma rotina. A água nas rodovias é substituída pela poeira. O paludismo, abundante no tempo chuvoso, é substituído pelo katolotolo, essa terrível doença que grassa por Luanda, cujo tratamento, ao que se diz, ainda passa pelo tradicional alho e petróleo.
Lembro-me também, com alguma saudade, dos "mapas" que o cacimbo deixava em nossa pele. Com o frio, a pele ficava ressequida, sem lustro, e qualquer contacto mais apertado deixava um sinal, um risco, devido ao cieiro. E chamávamos a isso de mapas. E a luta pela manta (cobertor). O puxa-puxa entre manos ou manas de mesma família que dormitavam, habitualmente, no mesmo quarto?! Era uma gritaria no período mais apertado do frio, entre a 02h00 às 05h00.
Nas férias do cacimbo, os alunos mais crescidinhos participavam "das campanhas do povo" apanhando o café, ananases, ou de outra índole. Havia também visitas a fabricas e outras unidades de produção. Eram as chamadas "actividades produtivas em tempo de férias". Outros faziam-se à estrada, nos machimbombos da Viriatos, EVA, ETP ou ETIM, até Luanda e/ou outras urbes para se actualizarem em termos de moda e outros conhecimentos. Nas cidades frequentavam cinemas e praias e levavam novidades àqueles que tinham ficado ou que tinham passado as chamadas férias grandes noutras localidades.
Mais um detalhe: terminado o cacimbo, muitas manas e tias apresentavam-se grávidas. Obra do cacimbo. O frio faz procurar e juntar-se mais tempo ao (à) companheiro(a). Calculo que isso continue imutável, apesar de se poder inventar, nos tempos que correm, pequenos cacimbos em nossos quartos com a instalação de aparelhos de ar condicionado.
O que me contarão os meus netos sobre o cacimbo?
Eventualmente nada!
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