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segunda-feira, agosto 08, 2022

MAN-BArTA DE REGRESSO À NGIMBI

"Muitos não voRtam é só vRegonha. Não têm nada fora"! O trecho da música de Dog Murras é, cada vez mais, verdade, quando se olha para a condição de vida de alguns emigrantes angolanos "nas Europas" e América do Sul.

Numa conversa com angolanos na capital lusa, foram marcantes e maioritariamente unânimes em discursos como o que se segue:
- Aqui, poupança que dê para construir casa, esquece. Todos os dias é trabalho duro. Salário é para comer e puder andar todos os dias nos transportes públicos. Até o deleite é controlo. Tomar café é controlar. Se gastas à toa, passas fome. Sair para férias é planificar: $50 vezes 12 meses dá $600. A pessoa ou a família já se diverte fora de casa. Se tivers muitos filhos e ganhas pouco, é roçar!
Baltazar, leva 24 anos de Portugal. Reconhece que não deixa a Tuga para ir reiniciar, mas "se tivesse saúde, educação e transportes como aqui não pestanejaria". Tal como cantou Dog Murras, Baltazar diz que "seria voRtar já-já!"
Na conversa com Baltazar, que mostrou maior disponibilidade à fala, ficamos a ensaiar como seria o seu primeiro contacto com a Ngimbi.
- Ó menino, vem cá.
- Mô nomi nê minino. Eu me chamam miúdo ou rapaz!
- Então vem cá, rapaz. Sabes onde fica a praça de taxi?
- Xê tio! Bebeste quê esta hora? Já viste táxi que vendem na praça?!
- Não, menino! Quero apenhar taxi, por favor, podes mostrar?
- Tio, aqui nuê taxi. É kandongeru! É ali. Xtás a marar aquela paragem? Yá, é memo ali.
- E aqueles todos vão um a um ou vão todos num só carro?
- Kota, simpurra memu c'os pipô, mas cuidado. Podem te tramancar co'esse tô Prutuguês tipo engoliste branco.
- Diz lá menino. Quê isso de tramancar?
- É ti dismontá todas coisa, tipo tô telefone e tua mochila. Vás vê lorota, kota.
- Ó menino, fala sério! E onde se apanha a camioneta?
- Ah! Agora quês í mbora no monagambê? Esse kota memu tipo se nganzou. É ali. Xtás a marar aquela bicha?
- Epá. Isso está...
- Xtá culi, kota! Num xtás a vê já temu wawa cumprido e bué de amarelinho? Na ngimbi xtá bater.
- Lá também há lúmpens desalmados a bater em pessoas desamparadas?
- Nê surra, papoite. Xtou te falá, Luanda xtá mais melhor bom qui ondi xtás a vi. O kota xtá então vir daondiê que num xtá entendé nada ki tô li falá?!
- Venho de Cacém, filho.
- Yá, kota. Vai só bem. Aqui é a banda e essa paragem é minha. Eu é que loto aqui. Mô nome é ndenge Kafriki.

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