Quando Phande e a mãe Katumbu chegaram a Luanda, em Maio de 1984, "recuados" da guerra no Lubolo, ela vendia fuba à porta de casa, na rua de Ambaca, no espaço conhecido como Kalisange. O produto tanto servia para confeccionar a janta, como dava o dinheiro para comprar peixe, conduto vendido na praça das Corridas e ou no Tunga Ngó. A primeira praça ficava no Rangel, junto ao Supermercado Nzala Ikola e a segunda em território doCazenga, pois encravava-se entre a linha férrea e o quintal das Oficinas Gerais, a espreitar a Escola nº 5. A praça do Tunga Ngó era informal, sem bancadas e com "gregos" à mão de semear.
Katumbu, a caminho dos quarenta anos, viúva refugiada, quatro filos menores, ia manhã cedo com as colegas depobreza a uns armazéns onde se vendia (desviava) milho e masa-a-mbala. Ao filho mais velho, Phande, cabia levar os grãos à moagem de onde vinha a confundir-se com a própria fuba.
Vezes tantas ele "aviava" também a negócio da mãe quando essa fosse comprar outros grãos e não fosse dia ou hora de escola. E quando os odepés e bepevês faziam as suas rusgas para levar o ganha funge da família, a astúcia de levantar a bacia e correr para o quintal estava-lhe nas pernas. Phande era como o sardão que não anda às voltas.
Aos sábados, dia de honga, caminhavam, mãe e filho, a pé. Rangel, Karyangu, Palanca, Sanatório, Kapolo, até chegarem à honga, campo agrícola, na zona militar do Kapolo, onde se cultivavam mandioca, batata-doce, abóboras, jinguba, kingombo (quiabos), makunde (feijão frade), feijão, jimboa, etc. Parte da colheita ia ao estómago e outra trocada por dinheiro.
A apanha de katatu (lagartas) em folhas de ditumbate era a brincadeira que Phande mais gostava nas idas à honga. Também escalou peixe e cuidou dele para que secasse e fosse enviado ao Libolo de origem onde era trocado com macroeira.
Fubeiras e peixeiras, grandes lutadoras doutro tempo contra a fome e a mendicidade, criaram filos e ergueram casas sem nunca vender o "templo sagrado da mulher". E eram tempos de aperto e muitas bichas nas lojas do povo, onde só se comprava o que havia e não o que se pretendia. Os empurrões e kisendes não escolhiam nem poupavam idosos, grávidas e crianças, confundindo-se homens e pedras que representavam homens nas longas filas nos "supermercados" de então.
Peixe sardinha frito no pão e um chafé? Bem-vindo ao estômago que não escolhia!
Com fuba e peixe frito também se fez Revolução(?)!
Publicado pelo jornal Nova gazeta, 22/06/17
Publicado pelo jornal Nova gazeta, 22/06/17
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