A
primeira vez que a guerra chegou aos meus ouvidos foi em 1983. Recuados da
Kisala e cercanias chegavam com manadas de bois. Descansaram dias ou mesmo
semanas na antiga Fazenda Israel onde havia tanques para abebeiramento e banho
dos bovídeos. Porém a devastação das lavras dos aldeões locais, inexistência de
pastos preparados para o efeito e a proximidade do asfalto os terá levado a
procurar por outra área que já teve mesma serventia. A caminho do Kuteka, entre
os rios Sangana e Bango, depois da9 Fazenda Costa Campos, estavam instalações
pecuárias abandonadas por Manuel Pires. Lá se instalaram mas tiveram avultadas
perdas. Cansaço do gado, falta de cuidados médicos, ausência de pastos, falta
de sal entre outras maleitas. Em pouco tempo as mandas ficaram reduzidas a nada
e os pastores tiveram de voltar às proximidade da Fazenda Israel, emprestando
sua força à lavoura.
Depois
começaram as implantações de minas na rodovia e ataques a viaturas.
O
primeiro veículo a accionar uma mina foi em 1983, junto à Fazenda Kangulu. Foi
numa tarde. O veículo procedente do Dondo fazia-se a caminho da Kibala. Nós
residentes no Limbe pernoitamos na mata, a caminho do rio Lyaha. Os zum-zum
sobre passagem da Unita e até mesmo reencontros fez-nos recuar pela primeira
vez para o Fuke, aldeia contígua à estância hoteleira de Ngana Mbundu (Walter
Kruk), onde ficamos uma semana. Regressados ao Limbe, os recuos se seguiriam
mês após mês ou mesmo semana sim, semana não.
O
segundo recúo deu-se no mesmo ano, 1983, depois do accionamento de nova mina no
mesmo local da primeira, próximo da Fazenda Kangulu. Caminhando pelo sertão,
chegamos a Kandemba, onde minha mãe tinha um tio, o velho Alfredo. Três dias
foi nossa permanência naquela aldeia. De Kandemba a Munenga foi um passo. Mas
as peripécias naquele ano e ano seguinte não mais parariam. Tempo depois, não
muito tempo, um tractor carregado de cerveja, procedente do Alto Dondo, com
destino ao Lususu acionaria uma mina, entre o rio Kazondo e a Bica d'Água.
Perdemos o Santos Kajamba e o Zé Manel, que vim a conhecer mais tarde em
Luanda, onde fomos vizinhos, perdia um dos pés. Primeiro recuo.
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