Nos anos 10 deste século XXI, conheci a Piscina de Saurimo, descrita em muitas crónicas do meu finado amigo Delfim Corral, um saurimuense que abandonou a terra por força das refregas pós-independência, mas que nunca alheou o seu inigualável amor à terra que o fez ser vivente, enquanto connosco respirou ar, nessa curta passagem à terra superficial. Os relatos de Delfim Corral foram tão nostálgicos e encantadores que me pus à "descoberta" da "bendita" piscina, antes mesmo do início da sua reparação, assumida financeiramente, ao que soube, por Catoca, no quadro da sua responsabilidade social. Chegou-me ao ouvido que, durante a elaboração do projecto ou sua execução, "terá havido um erro" na reabilitação e aquilo que se esperava ser "Piscina Olímpica de Saurimo" ficou (mais uma vez) pelo papel", dada a inadequação ao que os órgãos reitores da modalidade de natação exigem para a prática desportiva.
A segunda visita que fiz às instalações, acompanhando uma equipa da Federação Angolana de Natação, que recomendou correcções sobre a profundidade e outros aspectos técnicos, encontrei um tanque (novamente) habitado por batráquios. Constou-me que ela chegou a ser (re)inaugurada, ainda ao tempo da governadora Cândida Narciso, mas nunca reaberta ao público.
Há pessoas com muita sensibilidade, a quem doi ver piscinas
abandonadas, sobretudo em zonas interiores sem mar e sem adequadas e confiáveis praias fluviais.
O meu amigo Delfim deixou-nos sem receber notícias sobre a volta à serventia da piscina de sua infância. Os miúdos a quem esperávamos ensinar a nadar tornaram-se adultos e outra geração vai passar, desta vez, sem as praias fluviais do Rio Mwangeji e sem a esperada piscina.
Em Agosto2023, tive a sorte de adentrar o espaço que acolhe a antiga Piscina do Lubango (Nossa Senhora do Monte). Escrevo "antiga piscina", com todo o desdouro que isso me causa, dado o facto de "tanque sem água ser apenas uma construção e não, exactamente, uma piscina", como disse um septuagenário lubanguense, no auge da sua folga.
Calculo que, para além de a natação ser dos exercícios físicos mais completos e de lazer, os "mentecaptos" de então terão pensado na sua serventia, numa cidade interior, cujo clima e geologia se aproximam aos da Cidade do Cabo, mas com a desfeita divina de não ter mar à vista.
Sem o Atlântico por perto, sem rios com margens largas e enseadas, sem uma piscina que rivalize com as praias de água salgada, a vida do lubanguese de então teria, com certeza, tido menos qualidade e graça do que teve.
Moçâmedes, no Atlântico, seria o destino sabatino e dominical de muitas famílias locais e turistas, em busca de água, sol e sal, enfrentando, semanas sim e semanas também, os perigos e agruras da serpenteante rodovia que separa as duas cidades do Sul de Angola.
Em assomo à minha vergonha, a piscina erguida em Nossa Senhora do Monte continuava mero tanque que se estende seco, roto e cabisbaixo aos sóis vezeiros, contrariando os desejos e carências de gente bastante.
Enquanto ia pensando neste apontamento e a ver se encontro resposta à pergunta "que problemas temos contra a manutenção e construção de novas piscinas", eis que "caio" em Sea Point, África do Sul, onde, por possuírem uma costa escarpada e pedregosa, os munícipes e turistas são bafejados com largas e limpas piscinas à beira-mar, logrando dois momentos, duas serventias, em um mesmo lazer: ficam os olhos satisfeitos, a mente oxigenada e sadia e o corpo são (mente sã corpo são).
Aqui chegado, e com o respeito devido aos que pensam nessas questões, tidas por alguns como "periféricas", sem que lhes cheguem as cabimentações, volto à indagação primária: que problemas, afinal, temos com a água e as piscinas que tanto precisamos e não as construímos ou reparamos?
Sea Point, 27.08.2023.
Publicado pelo Jor. Angola a 10.09.23
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