Não é culpa de buracos que se contam pouquíssimos, nem do carro que se diz alto, potente e novíssimo.
Entre um hipotético desejo de se construir uma rodovia serpenteante e agradável, mas sem o apelo à contemplação, e uma aparente apatia que levou a encaixar o alcatrão no antigo trilho do cavalo, pode residir a culpa que ainda leva a percorrer 75 quilómetros em 120 minutos. Vamos aos factos.
Cayele Bango é uma aldeia interior de Seles a desfazer-se da zona escarpada para a planície atlântica, olhos mirados em Ngunza Kabolu ou Sumbe deste tempo. O que me chamou à atenção é a acentuação da curva, nunca ângulo inferior a 60°. Já vinha a "travar com o motor e primeira marcha", como recomendado na sinalização vertical, mesmo sendo carro automático.
Túneis e tabuleiros ajudariam a tornar o trânsito mais rápido, menos perigoso e mais económico do que fazer aquele "vai e volta ao mesmo sítio". A rodovia Seles-Sumbe tem outros detalhes que levam a pensar e que não se esgotam nesta prosa. Vejamos:
A desflorestação crescente, a eliminação dos sombreiros e dos cafezais, a atracção da erosão para a beira da estrada são aspectos que nos devem preocupar.
É que sem vegetação à beira da estrada, a terra fica exposta à erosão. Havendo erosão que a afecte o transito fica liminarmente cortado.
Sabe-se que o povo vive da agricultura, muitas vezes de subsistência, sendo obrigado a desbravar a floresta que abrigava os cafezais para aproveitar o húmus que faz crescer e produzir o milho e o feijão. Mas não nos faz falta a floresta?
Não nos prejudicará a curto prazo a sua eliminação?
Estas e outras perguntas perseguiram-me até cruzar a EN 100, levando-me ao segmento mais problemático, na cidade, que agora recebeu uma plataforma em betão. Está atractiva e aparenta durabilidade, mas o lodaçal, que as montanhas mandam anos sim e anos sempre cidade abaixo, pode ocupar o espaço da água nas valetas e fazê-las transbordar.
Sem boa largura e bom declive, a argila torna-se pesada e estanque e o rio Kambongo, embora se mostre de braços abertos para receber o que São Pedro larga e seus acompanhantes, ainda fica longe. Tal como Luanda que nos chamava!
Foram 36horas para percorrer territórios do Libolo, Kibala, Hebo, Amboim, Konda, Seles, Sumbe e Porto Amboim. Até à próxima!
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