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quarta-feira, dezembro 08, 2021

OFERTAS E CARÊNCIAS DE KALANDULA

Cascata encantadora!

O Lukala, nascido no Negaje, cai de uma elevação superior a cem metros, criando um cenário visual raro.

Enquanto a água enfeita de "branco" as paredes pedregosas, cá abaixo é o hongolo¹ que nos mostra "quantas cores tem o mundo"!
À chegada, os rapazes que se apresentam como "guias turísticos", uns maltrapilhos e outros exibindo t-shirts com essa inscrição, apontam três locais para contemplar a beleza ímpar: o miradouro, a parte baixa do rio, onde a água se reorganiza, após a quada, e a pousada do Sr. Faísca, única naquela instância, que se acha no lado oposto, sendo que a entrada é antes do desvio para Kakuzu.

João Domingos Manuel é guia. Tem 20 anos e estuda a décima segunda classe no institutos médio da igreja católica. Explicou o porquê da ausência de iluminação junto ao miradouro, "construído em 1927".
De sua voz, soube que "primeiro deixaram de pagar aos guardas e depois os populares de uma aldeia próxima roubaram as baterias e as placas solares".
Mesmo identificados, continuou, "não foram repostos os bens surripiados, pois as lâmpadas também reclamaram substituição".
O jovem explicou ainda que "não há taxa fixa" para o acesso ao local.
"O visitante paga o que puder/tiver", valores que "vão às mãos do soba".
- Ah! Não é a administração de Kangandala quem cobra e cuida do local? - tentamos ainda indagar.
- É com o soba que me divido o dinheiro. - rematou.

Havia outro infante que trajava uma camisola escura, já sem cor exacta, se foi preta ou castanha. Era um pouco veluda e trajada no avesso. Seus pés mostravam o quão ele e a água não se comunicam com frequência. Perdi-lhe o nome. Foi o primeiro a se apresentar como guia. Dizia-me que "o rio nasceu na província do Negaje, município do Uije" (inverteu). Não o dispensei, mesmo depois de encontrar o João Domingos Manuel, mais hábil e com conhecimentos melhor estruturados.

- Estuda, anda com os mais velhos para saberes e, quando fores grande, te tornares num bom guia. - Dei-lhe conselho e Kz 500, antes de deixar o recinto.

Naquele domingo, 31.10.2021, o local estava cheio. Viam-se até expatriados. Não vi apenas tonalidades de pele. Ouviam-se vozes em línguas europeias e asiáticas. A beleza e raridade do "acidente natural" são convidativos. Os filósofos deixaram escrito e clarificado que "o belo deve ser contemplado". Faltava, entretanto, algo que fizesse o visitante demorar: os serviços de restauração e toilette.
Tirando jinguba mal torrada com banana assada na brasa e umas kabwenyas fritas num óleo que nunca se deitava, nada mais havia. Nada mesmo!
- Que turismo é esse que apenas engorda o olho sem atender ao estômago e às necessidades da bexiga?


Do outro lado, na pousada que repousa majestosamente no morro, dizem que uma noite custa Kz 130 mil e paga-se também pelo acesso ao local e parqueamento da viatura.
- Come-se bem e há sono tranquilo. A vista também é maravilhosa! - Contou-me um mwadyakime² que agriculta pelos lados de Kakuzu.
Por isso, a Pousada de Kalandula será o próximo roteiro, ates de visitar outras quedas, menores, nomeadas Museleji que ficam a uns poucos quilómetros à jusante de Kalandula.
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¹ Arco-íris.
² Mais velho.
Obs: crónica publicada no Jornal de Angola, 14.11.2021

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