Um dia antes de me submeter ao júri, ordenei minhas duas irmãs:
- Vão à casa da mãe ou mandem vossas filhas para trançar o cabelo dela e arranjar as unhas. Imaginem que ela vai a um evento. Caso consinta, peçam a ela mesma que empreste o dinheiro necessário que pagarei quando voltar.
- Mano, ela tem o cabelo curto e não vai aceitar. - Disse uma delas.
- Vão e digam que eu é que vos mandei. - Ordenei sem mais detalhes.
- Mas eu, cega, sem mobilidade, estão a me preparar para ir aonde? - Dizem que questionou assim à neta que se fez presente.
- É o tio quem mandou. - Arguiu a Elizabeth Carina.
- Mas ele não viajou para o Putu?
- Sim. Mandou mensagem para traçar a avó.
Hoje, uma semana depois, encontrei-a sorridente. Bateu palmas quando me ouviu cumprimentá-la.
- É o papá? A viagem, correu bem?
Não tinha reparado o cabelo dela pois o cobria com um lenço. Quando perguntei se as netas haviam cumprido o que orientei, ela destapou o lenço e avançou:
- Estou bonita. Até pareço que vou à festa. Ninguém me disse por que me prepararam.
- Mãe, fui terminar um curso e por isso mandei preparar a mãe para que ficasse como se estivesse lá perto de mim.
- E o curso correu bem?
- Sim mãe. Correu bem. É pena que o banco não me tenha dado dinheiro para comprar uma lembrança para a mãe.
- Não há problema. Comida e medicamento aqui nunca faltou. E assim qual é o curso?
- É de mestrado, mãe.
- Agora és mestre Luciano Canhanga! É assim que te chamam?
- Sim, mãe.
- Então, não esquece papá. Manda mensagem ao tio Beto (irmão dela) e diz: agora sou mestre.
Fizemos as contas e parti para a fiscalização do estado da casa e de outras dependências.
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