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quarta-feira, maio 01, 2019

OS SINDICATOS E A ÁGUA PARA POUCOS

Conta-se que nos Congos (Belga e Leopoldoville), o MPLA, avisado que a luta sindical era uma poderosa arma para dignificar o trabalhador angolano e combater a exploração do homem pelo homem, "andou" sempre (desde 1963) de mãos dadas com a sua Unta do camarada Pascoal Luvualu, servindo para “mobilizar e organizar os trabalhadores nas zonas rurais e os refugiados nos Países limítrofes para apoio político e material à Luta Armada de Libertação Nacional”.

Chegada a independência e proclamada a República Popular de Angola, a Unta continuou a sua acção de força mobilizadora dos trabalhadores em prol do Partido e dos ideais políticos delineados por este para o novo país, pois, “no período de 1977 a 1991, UNTA e os Sindicatos nela filiadas afirmaram-se como uma organização de trabalhadores que, sob orientação do MPLA-PT, desempenhou um papel decisivo na construção das bases materiais e técnicas da sociedade, que acabava de surgir”.
 
Assim, com esse casamento "ideologico-trabalhista" alguma pequena burguesia terá ficado "sem alguns caninos ou mesmo molares" e as reivindicações confinaram-se aos apelos alegóricos, no primeiro de Maio, onde os "proletários" de todo o mundo (pessoas que nada mais podiam dar ao Estado senão a capacidade de procriar/prole) eram chamados a unir-se em prol de "um salário que já não comprava" ou uma causa que reclamava inovação.
Com o mono-partidarismo e mono-sindicalismo, chegámos a 31 de Maio de 1991, data em que foram assinados em Bicesse, Lisboa, os acordos que poriam fim à guerra civil e ao mono-partidarismo, acontecendo antes a revisão da então Lei Constitucional que respaldou tais mudanças.
Veio o cessar-fogo, pluripartidarismo, liberdade de pensamento, de expressão e de imprensa, liberdade sindical, etc. e mais alguma coisa. Se o Partido governante ganhou concorrência, também à Unta se juntou a CGSILA de Manuel Difuila, ex integrante da Unta, trazendo nova pulungunza ao campo das reclamações e exigências para uma vida menos indigente para os trabalhadores.
Os rótulos, quanto às aproximações politico-ideológicas, não faltaram e ainda vão surgindo aqui e acolá, tendo em contas as colagens e descolagens dos líderes sindicais e partidários. É a História com um pouco de estórias.
Quanto ao hoje importa reflectir, nesta nova era da “governação lourencista”, são as frequentes ameaçam paralisações, fundadas em exigências cabíveis ou descabidas no bolso do patrão que só (des)encaixa dividendos com o trabalho (não) realizado pelos trabalhadores reclamantes.
Ao que me vai chegando aos ouvidos, parece estarmos a voltar aos anos da abertura ao plurissindicalismo, em que, por tudo e nada, se partia para a "arma mais violenta do trabalhador", a greve. E, mais preocupante do que isso, a meu ver, são os relatos sobre a existência de duas a três comissões sindicais em algumas empresas, revezando-se na apresentação de pautas reivindicativas, sendo os mais extremistas aqueles sindicatos criados no “pós-cisão” da União Nacional dos Trabalhadores Angolanos. Há mesmo, segundo relatos que me chegam ao ouvido, empresas em que uma dada Comissão Sindical diz ao patrão que "estão cientes da fraca produção ou recolha de receitas" e, por isso, atestam continuar a trabalhar para fazer crescer a organização e, com ela crescerem juntos social e salarialmente, enquanto outra comissão sindical declara "guerra" ao empregador, sem saber se trabalham ou não o suficiente para que a empresa possa atender ao que se exige. Provavelmente, isso explique, por exemplo, que algumas cidades (como o KK) estejam divididas em "lado da UNTA e lado da CGSILA ou outra Central Sindical", a contar com o facto de algumas ruas possuírem água e outras enfrentarem uma seca prolongada.

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