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quarta-feira, maio 08, 2019

CONVERSA ENTRE VELHOS COLEGAS

 
Na Avenida Agostinho Neto, estendi o meu olhar à "Angolan House" com a sua bandeira baixada à meia-haste pela acção incessante do vento.
Sem paragem concreta, segui a Jan Jonker Street, passando pelo "Maerua Mall". Segui, sempre em frente, até encontrar a linha férrea e, com ela, continuei até ao cruzamento entre a Jonker e a Sam Nujoma Avenue. Já não havia cidade a Leste. Apenas montes recheados de arbustos espinhoso, como é natural por essas bandas.
O regalo foi mesmo ver uma cidade de 130 anos, projectada sobre colinas que drenam com imensa facilidade as águas pluviais. É como a nossa cidade do Dundo. É com ela que mais se parece/parecerá a cidade dos bravos (warriors). Vivendas, maioritariamente, e poucos edifícios a desafiarem os céus, contrariando as capitais costeiras que crescem em altitude. Aqui, dizem eles, "há terrenos bastantes para construir em extensão"
De volta ao centro da city, passei pelo National Botanic Garden, até cruzar com a Robert Mugabe Avenue. Mas não contente ainda, segui, um pouco mais a baixo, até encontrar a Avenida da Liberdade e inflectir para norte, até ao Ministério da Igualdade no Género e Proteção da Criança. É assim que se chama o MISFAMU deles. Estavam completados os 10 mil passos que são o propósito diário da caminhada.
Surgiu, então, um novo desafio que era o de elevar essa fasquia (10 mil passos/dia) como média semanal. Ora, no domingo e segunda-feira não tinha passado dos três mil passos. Precisava, por isso, de mais 5 mil passos. Olhando para o pôr-do-sol, marchei uns metros até à Avenida Mandume Ndemufayo (próximo do shoping Vernhill) e inverti para sul, fazendo mais 4 mil passos, até à Autoridade Rodoviária. Aqui, o "INEA deles" parece ter mesmo autoridade pois as vias estão bem conservadas. Pelo menos melhor do que as nossas.
A parte final foi marcha inversa, na mesma Mandume Ndemufayo, em direcção à baixa (Vernhil.). "Varridos" o norte, sul e leste da cidade,  restando-me apenas o pôr-do-sol, pus-me a pensar no que seria a conversa entre velhos amigos de escola.

- Quem me dera que pudesse também, com a mesma facilidade, percorrer as ruas da minha Luanda onde, nos dias que correm a conversa imaginária (tantas vezes real) pode ser essa:
. Epá, lembras-te daquele wi, com facas na cara, que foi nosso colega no IMEL?
. Yá,o Star.
• Star ou Kanyanga?
• É o mesmo wi. Chamávamo-lo por Star. Não é quele que amarrava bwé?
• Yá é o mesmo.
• Mas é o que então?
•Fogo, vi o gajo a andar bwé a pé e a "caloriar" p'ro caneco. Temos que "lhe" fazer uma kixikila. O mwadyé tipo está frustrado ou a sofrer. Tipo perdeu emprego ou coisa parecida.
•Mas, ó wi, estás mesmo a falar do Star? Só pode ser brincadeira. Ele gosta de caminhar. Deixa o popô na baixa para evitar que a barriga lhe roube os músculos das nádegas.
•Aié, então pensei a toa do brother. Mas que estava a caloriar, estava!
Em Luanda, seria essa a conversa de bar entre velhos colegas.

Publicado no Jornal de Angola de 02.06.19

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