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domingo, março 18, 2018

A MISSÃO CIVILIZADORA METODISTA EM CAXICANE


Frequentado o espaço e recuando no tempo, as conclusões, depois de visitas à memória, não são demoradas.
Quem vai a CAXICANE vê o delta do rio Kwanza, todo ele comprido, curvilíneo, majestoso e preguiçoso, e casotas que se escondem sobre o arvoredo ribeirinho. Encara ainda uma picada tangencial ao rio, inacessível no tempo chuvoso e que terá sido pior no início  do século XX, quando Agostinho Neto nasceu (Setembro de 1922) e seu pai Rev° Pedro Neto  pastoreava a igreja metodista local. Encontramos povos agricultores e pescadores espalhados pela planície longa e húmida que podiam "professar", para além do Nzambi, outras divindades ligadas à fertilidade do solo, à chuva e às enchentes que, anos sim, anos não,  visitam furiosas os campos e as habitações de pau-a-pique daquelas região.


Ruínas da casa pastoral da Igreja Metodista de Caxicane
E foi nesse cenário que a caravana metodista, procedente dos Estados Unidos da América, Marco de 1985, que trafegava sobre o Kwanza implantou a Igreja Metodista de CAXICANE, no Icolo e Bengo. Era preciso destapar as vendas, fazer daqueles povos cidadãos do mundo, conhecendo a sua cultura e geografia e descodificando o alfabeto para descobrirem que "havia mais muindo do que o horizonte de seus olhos" e tomarem conhecimento do que os outros povos haviam já inventado e comunicarem eficazmente com o passado e o futuro. E Pedro Neto, pastor ainda jovem, foi mandado ao local para dirigir a Igreja de Cristo imbuída da sua missão CIVILIZADORA, ensinando as crianças a ler e escrever e os adultos a conhecer a Deus único, verdadeiro e poderoso, sobre o qual gravita todo o ser, pensar e estar. Os bons costumes como a poupança, a monogamia, o desapego às práticas místicas e inibição da bebedice foram e ainda são outras das lições que os metodistas ensinam e conservam.
Quem vai a CAXICANE logo conclui que não podia ser outro o caminho. Apenas o Kwanza. Tal é a proximidade entre a igreja (a primeira já sem sinais, a segunda em ruínas e a terceira feita de blocos de cimento) e o rio, separada apenas por parcos quinze metros do leito, sendo que "quando as pessoas não falam é o Kwanza que conta estórias". E o mesmo Kwanza, bi-lateral, teria no seu silêncio milenar, apadrinhando o surgimento de outras "missões protestantes" no seu outro lado, o direito: Kisama, Lubolu, e terras além mar...

Texto publicado pelo jornal Nova Gazeta a 05/10/2017

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