A nova ponte sobre o rio Kwanza |
Entre
colinas, que se abrigam à sombra da montanha coberta de nevoeiro madrugador,
serpenteia preguiçosa a EN120. De longe, se parece a um riacho que penetra atrevido as duas cochas bafejadas de águas límpidas e refrescadas pela sombra
de árvores ribeirinhas. A localidade que já devolveu muitas vidas humanas ao
pó da terra responde pelo nome de Bica d´água, no trajecto entre o desvio de Kalulu à Kibala. A estrada, na EN120, é a mesma que nos leva ao Huambo, saídos
de Luanda, passando pelo Dondo. Bica d´água é um local da comuna da Munenga
(Libolo) em que foi erguido, no tempo colonial, um bebedouro (água bruta
captada dum riacho procedente da montanha). Era e ainda é um local para parar,
encher os reservatórios, os radiadores das Bedford e saciar a sede humana.
Dada a acentuada descida de 10%, acompanhada de curvas e humidade no pavimento, o local foi, desde sempre propício à ocorrência de sinistros que ceifaram muitas vidas. Basta ver as dezenas de carcaças de automóveis que repousam nas duas encostas ravinosas da estrada.
E sigo até
Kibala onde sou presenteado com os edifícios em escombro que se tornaram no
cartão de visita da "cidade" de Kibala (K-Sul). A guerra pós
independência pôs tudo abaixo e o que resta são escombros e edifícios
fortemente estropiados. Num "kaprédio" que ladeia a estrada funciona, na parte inferior,
o Restaurante Kandimba. Ao lado foram, felizmente, erguidas bombas de
combustíveis pertencentes à Sonangol que possuem uma loja de conveniência e um
restaurante, conferindo uma imagem modernizada ou no mínimo mais alegre à urbe.
Contou-me o meu amigo Pastor Vinte e Cinco que em 1974 foi atribuída a
categoria de cidade à vila de Kibala, feito publicado em uma portaria de então.
A ser verdade, tal facto só se podia justificar com a existência, já naquela
altura, de programas de desenvolvimento e crescimento da "cidadela",
embora tivesse apenas uma rua a cortá-la em dois blocos.
Terminado o flagelo, a reconstrução chegou a todo o lado e a antiga picada, elevada agora a EN 240, beneficia de serviços de alargamento da plataforma, construção de pontes e aquedutos, bem como a sua asfaltagem.
Mais de uma centena de quilómetros (Kibala-Kariago-Projecto Terra do Futuro e adiante) possuem já novas pontes dimensionadas ao novo padrão das Estradas Nacionais e asfalto de qualidade aceitável, restando cerca de metade da empreitada, até Mussende. Embora o trânsito automóvel no trajecto seja ainda de contar aos dedos de uma mão durante todo o dia, dado o facto de a estrada asfaltada ser ainda do desconhecimento de muita gente, aqueles que por lá transitam estão satisfeitos e "louvam a iniciativa" governamental que poupa tempo, esforço e muitas vidas.
Quando estiver terminada, a EN240 que se junta na vila da Kibala à EN120 (Alto-Fina-Huambo), vai ligar Kibala à vila do Mussende e, atravessando o rio Kwanza que já possui uma nova e enorme ponte, estender o trafego rodoviário até à província de Malanje e concomitantemente à zona Leste do país.
Já
de regresso a Luanda, ainda entre terras do Libolo e de Kambambe, cortadas pelo
caudaloso Kwanza que se estende do Citembu à foz, no Atlântico, estende-se um
novo tabuleiro sobre o rio. A obra ainda é pouco conhecida, pois não tem
merecido por parte da media a divulgação que se impõe, nesses dias em que se
mostram os ganhos da independência e da paz efectiva.
Quem
circula pela EN 120, do Dondo a Kibala, pode encontrar a obra a menos de um
quilómetro da actual (velha) ponte também conhecida como a do
"Kyamafulu", local em que se faz a dragagem das areias na zona que
serve de albufeira da alteada barragem hidro-eléctrica de Kambambe. Ama
construtora brasileira realiza a empreitada que vai conferir melhor fluidez ao
tráfego rodoviário sobre a ponte, uma vez que a actual não permite a passagem
simultânea, em segurança, de dois veículos pesados.
Um olhar atento ao que se desenvolve na região leva a inferir que quando estiver completamente cheia a albufeira do AH-Kambambe, cuja barragem foi alteada em mais trinta metros, a água poderá beijar a base do tabuleiro da ponte do Kyamafulu ou, não tocando a parte transversal da estrutura, estar muito próxima dela. Terá sido isso o que pesou na decisão de se erguer uma nova passagem que entrará em cena dentro de algum tempo, podendo ou não a sua inauguração coincidir com o advento da renovação do ciclo político em 2017.
Obs: texto publicado pelo Semanário Angolense a 20 de 11.2015
Dada a acentuada descida de 10%, acompanhada de curvas e humidade no pavimento, o local foi, desde sempre propício à ocorrência de sinistros que ceifaram muitas vidas. Basta ver as dezenas de carcaças de automóveis que repousam nas duas encostas ravinosas da estrada.
Pensando na
prevenção da vida, o Serviço nacional de protecção civil e bombeiros têm no
local um Posto de Apoio e Socorro aos Sinistrados. Nada melhor do que neste
local que fica a 50 quilómetros da ponte sobre o rio Kwanza e uns 25 da ponte sobre o Longa,
no itinerário Dondo-Kibala.
A presença da polícia de trânsito e bombeiros no local serve de elemento inibidor aos homens do volante, sobretudo aqueles que têm maior propensão a acelerar do que a travar.
A presença da polícia de trânsito e bombeiros no local serve de elemento inibidor aos homens do volante, sobretudo aqueles que têm maior propensão a acelerar do que a travar.
Juntando margens do Kwanza entre Lubolu e Ndondu |
Kibala é uma
bifurcação, agora em forma de X: à direita (sentido Luanda Huambo) está a
estrada que nos leva à Gabela-Sumbe. À esquerda a estrada que nos leva ao
Mussende-Malanje. Para norte segue a estrada que nos leva ao Dondo e Luanda,
sendo que para sul se estende a rodovia que nos leva ao Wako-Kungo e Huambo,
passando por Katofe que era, à época, uma mui crescente vila agrícola que estava
a ser erguida por camponeses madeirenses (Portugal) ali aportados em princípios
da década de 60 do século XX. Katofe fica a aproximadamente 10Km de
Kibala e está hoje em escombros que se tenta reerguer com muito custo. Quem
decretou a vila de Kibala como cidade em 1974 podia ter a sua razão de ser. Se
o país não tivesse mergulhado numa guerra destruidora, Kibala seria hoje uma
média ou mesmo uma grande cidade, pois já contava com indústria nascente como a
moageira CAIMA que transformava o milho em farinha, uma das principais culturas
da região. Lembro-me ainda que havia uma unidade de empacotamento de arroz que
era igualmente produzido na região, com destaque para a Fazenda América e
outras de que hoje só restam os nomes.
A energia
eléctrica era garantida pelas mini-hidrica
de Katofe (EN120) e a do Kariango (EN240) que tinham planos de ampliação. E,
como os tempos são de mudança, indo ao encontro daquilo que já devia ter
acontecido, o Pastor Vinte e Cinco, kibalista bastante respeitado na região e
em Luanda, contou-me ainda que tomou conhecimento de um plano director para o
desenvolvimento infra-estrutural da Kibala, de modo a resgatar o seu estatuto
de cidade atribuído ainda pelas autoridades coloniais. Segundo o reverendo
metodista, os ocupantes dos imóveis estropiados têm um tempo para os reabilitar
ou o Estado os vai deitar a baixo para nos espaços serem erguidas outras
infra-estruturas. Bem pensado! Auguro que da visão à acção não haja um
grande defeso.
Virando para
o lado em que nasce o sol, está a Estrada Nacional 240 na província do
Kwanza-Sul. Embora o traçado fosse pré-independência, nunca a rodovia chegou a
ser asfaltada, não passando de uma picada sofrível nos anos passados, com
enormes buracos e lamaçal a que se juntaram dezenas de pontes danificadas por
acção humana e do desgaste natural.
A guerra
civil (1975-2002), que quase tudo dizimou, impossibilitou até as intervenções
paliativas e, pior ainda, porque a zona esteve sempre sob domínio dos
guerrilheiros rebeldes que mesmo se servindo de meios rodantes, nos últimos dez
anos do conflito, nunca poupou as infraestruturas, para não falar da destruição de
novas rodovias nas zonas onde era influente e até explorava recursos naturais
estratégicos.
Terminado o flagelo, a reconstrução chegou a todo o lado e a antiga picada, elevada agora a EN 240, beneficia de serviços de alargamento da plataforma, construção de pontes e aquedutos, bem como a sua asfaltagem.
Mais de uma centena de quilómetros (Kibala-Kariago-Projecto Terra do Futuro e adiante) possuem já novas pontes dimensionadas ao novo padrão das Estradas Nacionais e asfalto de qualidade aceitável, restando cerca de metade da empreitada, até Mussende. Embora o trânsito automóvel no trajecto seja ainda de contar aos dedos de uma mão durante todo o dia, dado o facto de a estrada asfaltada ser ainda do desconhecimento de muita gente, aqueles que por lá transitam estão satisfeitos e "louvam a iniciativa" governamental que poupa tempo, esforço e muitas vidas.
Quando estiver terminada, a EN240 que se junta na vila da Kibala à EN120 (Alto-Fina-Huambo), vai ligar Kibala à vila do Mussende e, atravessando o rio Kwanza que já possui uma nova e enorme ponte, estender o trafego rodoviário até à província de Malanje e concomitantemente à zona Leste do país.
Fortaleza de Kalulu |
Um olhar atento ao que se desenvolve na região leva a inferir que quando estiver completamente cheia a albufeira do AH-Kambambe, cuja barragem foi alteada em mais trinta metros, a água poderá beijar a base do tabuleiro da ponte do Kyamafulu ou, não tocando a parte transversal da estrutura, estar muito próxima dela. Terá sido isso o que pesou na decisão de se erguer uma nova passagem que entrará em cena dentro de algum tempo, podendo ou não a sua inauguração coincidir com o advento da renovação do ciclo político em 2017.
Obs: texto publicado pelo Semanário Angolense a 20 de 11.2015
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