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quarta-feira, novembro 11, 2015

MARCHAR PELA INDEPENDÊNCIA

 
Foto de Elizabeth Carvalho
Repousavam à sombra da árvore do velho Samanjata, onde habitualmente os jovens da aldeia iam beber conhecimentos. Gaspar e Rafael falavam sobre o país que caminhava para os 40 anos de independência.

- Ó Gaspar, apelou Rafael. Doutra vez, na igreja, te vi a marchar como se estivesses a ir para os céus. Caminhavas quase a deslizar como se fosses ser arrebatado e via-se a alegria na forma como entoavas o hino de marcha.

- Sim, Man Rafa, é verdade. Gosto de cantar o "okulonda osikata yenda kilu" (subir à escada que nos conduz aos céus) e sinto-me entre a terra e os céus. Respondeu Gaspar, um conhecido corista da igreja.

- Pois é Gaspar. Comigo acontece, sobretudo quando entoo Hino da República. Sinto-me como se fosse o dono do país. Aliás, o país é mesmo nosso!

Não tinham terminado os argumentos quando se abriu a porta do velho Samanjata, o coordenador da comissão de moradores, que lhes falou sobre o desfile cívico no dia da Independência.

- Bom dia meninos. Ouvi conversa boa sobre a igreja e o país. Ainda estava a me preparar, mas como coisa boa é para ser partilhada, acabei saindo já para não perder as vossas ideias. Menino bom é quem fala sobre religião e patriotismo. - Disse o idoso.

- Sim avô Samanjata. O Man Rafa disse que vai haver ensaio para marchar no dia da independência. Como ainda não ouvimos na Rádio, por isso mesmo é que passamos aqui para colher explicação do mais velho. - Expôs Gaspar, o mais novo entre os dois adolescentes.

- Pois é, meninos. O Camarada Presidente é quem orientou. Todos os angolanos que se sentem patriotas, todos os que gostam do nosso país e que estimam o sacrifício e luta dos que tombaram para que fossemos independentes, foram convidados a participar dos ensaios e do desfile cívico que acontece na Praça da República em Luanda. Vai haver muitos blocos. Nas aldeias que fazem mineração o povo vai fazer parte do bloco de Mineração. Nas aldeias que fazem agricultura e pesca, as pessoas vão desfilar no bloco correspondente, onde ficam todos os funcionários públicos de cada área.. Os polícias e os militares também vão desfilar.

- É verdade, avô?  Então faça já a inscrição dos nossos nomes. Também queremos participar dos ensaios e desfilar na Praça da República para homenagear o "tunda mindele". - Disseram os adolescentes emotivos, anunciando depois a noticia do dia de porta em porta.

E não foi em vão. A aldeia de Kindongo, no município de Kissama, esteve totalmente engajada nos ensaios que aconteceram no Estádio dos Coqueiros, em Luanda, e todos, incluindo o soba e o coordenador da comissão de moradores, estiveram prontos ao Desfile Cívico, ora caminhando, ora dançando, ora marchando com mão no peito, entoando o Hino da República. Até hoje, o assunto ainda é tema de conversas entre crianças jovens e adultos. Mesmo as crianças que ainda mamam também já vão recitando o "Angola Avante" para cantar e Desfilar nos cinquenta anos da Independência de Angola.

OBS: texto publicado na pág. 04 da edição do Jornal Cultura referente a 21 de Nov. 2015

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