Foto de Elizabeth Carvalho |
- Ó Gaspar, apelou Rafael. Doutra vez, na igreja, te vi a
marchar como se estivesses a ir para os céus. Caminhavas quase a deslizar como
se fosses ser arrebatado e via-se a alegria na forma como entoavas o hino de
marcha.
- Sim, Man Rafa, é verdade. Gosto de cantar o "okulonda
osikata yenda kilu" (subir à escada que nos conduz aos céus) e sinto-me
entre a terra e os céus. Respondeu Gaspar, um conhecido corista da igreja.
- Pois é Gaspar. Comigo acontece, sobretudo quando entoo Hino
da República. Sinto-me como se fosse o dono do país. Aliás, o país é mesmo
nosso!
Não tinham terminado os argumentos quando se abriu a porta do
velho Samanjata, o coordenador da comissão de moradores, que lhes falou sobre o
desfile cívico no dia da Independência.
- Bom dia meninos. Ouvi conversa boa sobre a igreja e o país.
Ainda estava a me preparar, mas como coisa boa é para ser partilhada, acabei
saindo já para não perder as vossas ideias. Menino bom é quem fala sobre
religião e patriotismo. - Disse o idoso.
- Sim avô Samanjata. O Man Rafa disse que vai haver ensaio
para marchar no dia da independência. Como ainda não ouvimos na Rádio, por isso
mesmo é que passamos aqui para colher explicação do mais velho. - Expôs Gaspar,
o mais novo entre os dois adolescentes.
- Pois é, meninos. O Camarada Presidente é quem orientou.
Todos os angolanos que se sentem patriotas, todos os que gostam do nosso país e
que estimam o sacrifício e luta dos que tombaram para que fossemos
independentes, foram convidados a participar dos ensaios e do desfile cívico
que acontece na Praça da República em Luanda. Vai haver muitos blocos. Nas
aldeias que fazem mineração o povo vai fazer parte do bloco de Mineração. Nas
aldeias que fazem agricultura e pesca, as pessoas vão desfilar no bloco
correspondente, onde ficam todos os funcionários públicos de cada área.. Os
polícias e os militares também vão desfilar.
- É verdade, avô?
Então faça já a inscrição dos nossos nomes. Também queremos participar
dos ensaios e desfilar na Praça da República para homenagear o "tunda mindele". - Disseram os adolescentes emotivos,
anunciando depois a noticia do dia de porta em porta.
E não foi em vão. A aldeia de Kindongo, no município de
Kissama, esteve totalmente engajada nos ensaios que aconteceram no Estádio dos
Coqueiros, em Luanda, e todos, incluindo o soba e o coordenador da comissão de
moradores, estiveram prontos ao Desfile Cívico, ora caminhando, ora dançando,
ora marchando com mão no peito, entoando o Hino da República. Até hoje, o
assunto ainda é tema de conversas entre crianças jovens e adultos. Mesmo as
crianças que ainda mamam também já vão recitando o "Angola Avante"
para cantar e Desfilar nos cinquenta anos da Independência de Angola.
OBS: texto publicado na pág. 04 da edição do Jornal Cultura referente a 21 de Nov. 2015
OBS: texto publicado na pág. 04 da edição do Jornal Cultura referente a 21 de Nov. 2015
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