Numa dessas raiv´s que os novos fidalgos vão organizando aos fins-de-semana, tentando impor uma vida importada, perante os olhares furtivos dos país que tudo podem e fazem, dançava-se e bebia-se perdidamente.
As cerca de cem almas que trocavam salivas e sêmenes naquela cave insonorizada pareciam ter recomposto e trazido à terra de Ngola as famigeradas cidades de Sodoma e Gomorra dos imemoriais tempos babilónicos.
“Me esfrega, possui-me toda.” Gritava a música, ao que as miúdas acompanhavam em gestos grotescos e animalescos, ora com pares, ora com o pilar másculo de betão que suporta a laje do edifício de catorze andares pós-chão.
Tocou-se depois o “me lambe” e trocaram salivas. Literalmente.
Quando a festa parecia ter atingido o auge, já na habitual hora do banho e da eleição da “mais recortada”, o organizador lembrou-se da ausência do trio convidado para júri.
Já meio mundo estava em peças minúsculas. Era, afinal de contas, a noite do tira tudo. A festa estava repleta de filhos de quem conjugava os verbos ter e poder.
- DJ, pára a música, por favor. Só meio minuto. – Falou alto ao microfone, o organizador da raiv.
- Alguém viu os membros do júri? – Questionou, meio preocupado.
O tom, meio aflito teve interpretações várias. Uns pensaram que não haveria o desfile da "mais recortada" que habitualmente é posta a leilão quando não é a própria que sobre à montra para a “noite do forever”. Outros pensaram ser mais uma brincadeira do Man-Nelito, o organizador, que voltou a servir-se do microfone.
- Cadê o júri, people?
- Bokwaram.- Respondeu um dos assistentes escondido à porta de escape.
O som "bo-kw-a-ram", ressonado em eco, trouxe-lhes á memória um grupo que espalha terror por um apaís da África subsariana, exportador de petróleo.
- Bo-ku-a-ram?! Foda-se! - Lengwenu!
E foi debandada. Ninguém mais se lembrou das roupas, inicialmente curtas, curtinhas, íntimas e posteriormente inexistentes nos corpos ciciosos. O entornar dos candelabros e copos de whisky fez do espaço um autêntico campo de pólvora. Tudo foi aos ares.
Quando a polícia e os bombeiros chegaram ao local para confirmar o mujimbo e apagar as cinzas, só encontraram gente nua, cá fora, e fogo consumindo odores orgiásticos, lá dentro.
- Quê que foi então?- Indagou o chefe da patrulha, perante aquele estranho ambiente encontrado ao redor do edifício em chamas.
- Bokwaram, kota. Bokwaram! - Respondeu Man-Nelito, ainda assustado e desolado.
- Boko Haram? Merda, pá! Cava daqui!- Ordenou o intendente à sua tropa.
O wion, wion, das patrulhas bateu em retirada, enquanto as chamas lavravam a cave e o edifício acima.
E, fez-se silêncio na capital que parecia correr apressadamente para o século XXIII!
Obs: texto adaptado e publicado no Semanário Angolense, 07.02.2015
As cerca de cem almas que trocavam salivas e sêmenes naquela cave insonorizada pareciam ter recomposto e trazido à terra de Ngola as famigeradas cidades de Sodoma e Gomorra dos imemoriais tempos babilónicos.
“Me esfrega, possui-me toda.” Gritava a música, ao que as miúdas acompanhavam em gestos grotescos e animalescos, ora com pares, ora com o pilar másculo de betão que suporta a laje do edifício de catorze andares pós-chão.
Tocou-se depois o “me lambe” e trocaram salivas. Literalmente.
Quando a festa parecia ter atingido o auge, já na habitual hora do banho e da eleição da “mais recortada”, o organizador lembrou-se da ausência do trio convidado para júri.
Já meio mundo estava em peças minúsculas. Era, afinal de contas, a noite do tira tudo. A festa estava repleta de filhos de quem conjugava os verbos ter e poder.
- DJ, pára a música, por favor. Só meio minuto. – Falou alto ao microfone, o organizador da raiv.
- Alguém viu os membros do júri? – Questionou, meio preocupado.
O tom, meio aflito teve interpretações várias. Uns pensaram que não haveria o desfile da "mais recortada" que habitualmente é posta a leilão quando não é a própria que sobre à montra para a “noite do forever”. Outros pensaram ser mais uma brincadeira do Man-Nelito, o organizador, que voltou a servir-se do microfone.
- Cadê o júri, people?
- Bokwaram.- Respondeu um dos assistentes escondido à porta de escape.
O som "bo-kw-a-ram", ressonado em eco, trouxe-lhes á memória um grupo que espalha terror por um apaís da África subsariana, exportador de petróleo.
- Bo-ku-a-ram?! Foda-se! - Lengwenu!
E foi debandada. Ninguém mais se lembrou das roupas, inicialmente curtas, curtinhas, íntimas e posteriormente inexistentes nos corpos ciciosos. O entornar dos candelabros e copos de whisky fez do espaço um autêntico campo de pólvora. Tudo foi aos ares.
Quando a polícia e os bombeiros chegaram ao local para confirmar o mujimbo e apagar as cinzas, só encontraram gente nua, cá fora, e fogo consumindo odores orgiásticos, lá dentro.
- Quê que foi então?- Indagou o chefe da patrulha, perante aquele estranho ambiente encontrado ao redor do edifício em chamas.
- Bokwaram, kota. Bokwaram! - Respondeu Man-Nelito, ainda assustado e desolado.
- Boko Haram? Merda, pá! Cava daqui!- Ordenou o intendente à sua tropa.
O wion, wion, das patrulhas bateu em retirada, enquanto as chamas lavravam a cave e o edifício acima.
E, fez-se silêncio na capital que parecia correr apressadamente para o século XXIII!
Obs: texto adaptado e publicado no Semanário Angolense, 07.02.2015
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