Translate (tradução)

segunda-feira, dezembro 15, 2014

OS PENSAMENTOS DE VHM EM SAURIMO


Os corredores apresentavam uma correria e uma enchente que seria anormal noutros dias de aulas ou provas de conhecimentos. Não era só na Pública, mas também na privada. Parecia um que haveria um teste para emprego em toda a cidade. O branco das tshirts predominava e as conversas eram sobre o jovem do Janela aberta.

Se fosse num ambiente de manjares, comícios e “bebícios” diria que o jovem jornalista Victor Hugo Mendes juntou à fome a vontade de comer.
Tratando-se de livro e leitura, digo que o autor de "Meu livro de pensamentos" juntou a fama que tem, enquanto rosto de TV, (que lhe proporciona muitos admiradores e seguidores) à sede de leitura que aos poucos vai crescendo na Lunda Sul.

Ao assistir às longas filas de estudantes da Escola Superior da Universidade Lweji A Nkonde e Instituto Superior Politécnico da Universidade Lusíada, ambos na capital da Lunda Sul, só me devo sentir feliz e orgulhoso. Tem sido nestas duas instituições de ensino universitário em que "prego", há já três anos, "a necessidade de as crianças, adolescentes e jovens, sobretudo os estudantes, lerem cada vez mais".

A minha alegria aumenta também por ter notado que mais de 75% dos que se fizeram às filas são meus estudantes de Língua Portuguesa ou o foram nos dois últimos anos.

Sempre pensei que seria possível haver leitores na Lunda e noutros pontos da Angola distanciada do mar, desde que alguém tocasse o clarim do despertar intelectual. Já há um Núcleo de Amigos da Leitura e Literatura na Lunda Sul que se reúne, todos os domingos, para troca de saberes, numa micro-imitação às quintas da União dos Escritores.

Victor Hugo Mendes, ou simplesmente VHM, fez-se à estrada, na primeira semana de Novembro, o mês da independência, percorrendo milhares de quilómetros, num itinerário que o levou de Luanda a Malanje, por sinal sua terra umbilical, Lunda Sul, Moxico e Lunda Norte, deixando palavras, sorrisos e algum conforto.

Que venham outros escribas e tantos outros fazedores de arte e animem conversas com os leitores e apreciadores de coisas belas e originais, como fez VHM na Escola Superior Politécnica e no Instituto Politécnico Lusíadas da Lunda Sul.
Saurimo agradece e eu também.

Ainda sobre VHM e o seu “Livro de Pensamentos”, não sendo normal em Angola que um escritor, mesmo aqueles do quilate de Pepetela, José Eduardo Àgua Lusa, Manuel Rui Monteiro, Uanhenga Xito, Roderick Nehone, Jacinto de Lemos, Jofre Rocha e equiparados, venderem mais de vinte mil exemplares de um livro em apenas um ano, os “Pensamentos” de VHM são para mim um “study case” que já reclama, há muito, pela incursão crítica dos especialistas em literatura e vendas.

Quanto a mim, um leigo nessas andanças, ocorre-me apenas levantar algumas questões que podem servir de pano de fundo para uma apreciação mais aturada por parte de quem tenha créditos firmados para a crítica literária e análise do comportamento do mercado.

  1. O que faz VHM vender tanto, sendo mais estreante na arte da escrita?

  1. Carisma?
  2. O facto de ser figura de Tv?
  3. Qualidade (estética e conteúdo) do livro?
  4. Publicitação e fácil acesso aos media?
  5. Preço acessível?

Como disse atras, só o facto de VHM ter vendido em um ano tanto, mais do que muitos veteranos juntos e em muitos anos, já é motivo de satisfação visto que o meu pregão tem sido para o aumento de leitores. É preciso buscar a quantidade (leitores e obras para leitura) para se chegar à qualidade do texto e dos consumidores de produtos gráficos ficcionados ou não.

  1.             E, pensando nos consumidores e no seu comportamento após usufruto do produto, outra bateria de perguntas me invade, porque gostaria de saber com que ideia se fica depois da leitura da última página do tão cobiçado “Livro de Pensamentos” de VHM:

  1. Um romance ficcionado?
  2. Um livro de auto-ajuda?
  3. Um livro auto-biográfico?

 

Cada um dos leitores desta prosa e da prosa de VHM terá, com certeza, as suas respostas, ou pelo menos algumas. Porém, caberá, sobretudo, aos críticos da arte literária (ao que se diz mais propensos a elogios do que à análise aturada com aplausos e ou apupos), e aos especialistas em vendas esclarecer aos milhares de leitores o tipo de texto que VHM nos apresenta e as razões das longas filas para se ganhar um autógrafo do autor que é, sublinhe-se, meu “amigo de peito”.
NOTA: texto publicado no Semanário Angolense a 08.11.2014

Sem comentários: