Numa "conversa", comunicação virtual (teclagem), o meu amigo Tazuary Nkeita depois de uma estupenda entrevista que concedeu à ANGOP: (http://ads.portalangop.co.ao, 07 Dezembro de
2014, 11h42 - Lazer e Cultura), que considerei "digna de ser levada aos estudantes e jornalistas juniores, colocou-me algumas perguntas/provocações que, no seu entender, deviam ser objecto de uma discussão profunda antes de as levar aos estudantes.
Reproduzo-as com as minhas respostas:
Jornalismo em Angola
- Que jornalismo temos?
LC:
O possível. O que se deixa fazer.
- Somos jornalistas ou somos
assessores deste e daquele?
LC:
Mais assessores do que jornalistas. Os jornalistas contam-se aos dedos. O jornalismo bem elaborado também se conta. A assessoria é mais presente.
- Somos equidistantes e podemos
sê-lo no dia a dia? Porquê?
LC: A equidistância está por ser conseguida.
Somente quando
houver mais jornalistas do que assessores ou a clara distinção entre assessoria
e jornalismo puro.
Não tem havido
equidistância porque a propaganda e propagandear acções institucionais se
confunde ainda com a informação objectiva e isenta de "maquilhagem"
jornalística.
- Que diferenças existem entre
imprensa estatal/pública e imprensa privada e porquê?
LC: Uma é, por via de norma, a tutelada pelo
Estado.
É pública e patrocinada com o dinheiro de todos. Outra é fruto de
iniciativa privada para diversificar a informação e, como empresas, lucrarem
tratando informação que é acompanhada de propaganda publicitária (paga). Noutro
prisma, uma publicita os órgãos do poder e outra (entre noticias) publicitam as
empresas.
Há muito que se diga sobre esse tema.
- Há fosso? Como reduzir esse
fosso?
LC: O fosso se pode reduzir
através de formação e acções de credibilização da media quer pública quer
privada (com ou sem objectivo indirecto de alcançar ou manter os poderes
instituídos). A autorregulação também pode contribuir para um jornalismo mais
responsável (com cassação de carteira, caso houvesse, etc.). Ainda vamos longe
e temos de labutar arduamente para que tenhamos um jornalismo ideal. Ou
ficaremos apenas pelo "jornalismo angolano/à moda angolana".
- Devemos imitar ou assimilar e
processar os conhecimentos?
LC: Sou pela absorção e
processamento de conhecimentos universais. Jornalismo puro será como a
arquitectura, economia ou sociologia pura (ajusta-se aos aspectos particulares
do país, mas não perde a essência).
- Os jovens (jornalistas ou não)
têm futuro em Angola?
LC: Os jovens terão o futuro
que nós os mais velhos lhes permitirem ter. Têm as oportunidades (não tantas)
que também lhes permitimos ter. Ontem fui jovem e hoje adulto, um pai de jovem,
mas vou ainda reclamando as oportunidades que não tive. Se isso vai melhorar ou
piorar, não sei. Houve um tempo que as lojas não tinham nada mas todos tinham
emprego na função pública e na tropa. Hoje para se ir à tropa já se diz que é
preciso cunha. Os empregos dependem ainda do desenvolvimento da indústria, da
agricultura e dos serviços (isso abrirá oportunidades aos jovens). A função
pública vai "desengordando", o que é bom mas há ainda instalações e
instituições sem quadros qualificados. E que tal reflectir também sobre o tipo de
educação e ensino que temos? Isso fará nos próximos anos a diferença.
- Têm oportunidades?
LC: Muitos terão diplomas
sem conhecimentos. Outros (poucos) terão conhecimentos sólidos e esses
disputarão as poucas oportunidades que surgirem. Os demais ficarão a
lamentar-se com os diplomas vazios de conhecimentos na mão.
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