A conversa foi curta mas não deixou de despertar a atenção
aos compradores e vendedores de “mabobo”.
Terra é terra. Ar é ar. O título é súmula de uma áspera
resposta recebida por um viajante por parte de uma “aero-dama”.
Marisa é mulher bem prendada em termos de atributos físicos,
com as carnes a procurarem evadir-se das apertadíssimas vestes que faziam dela
uma estátua concorrente àquela implantada no jardim bieno da pouca vergonha,
porém mal “enxovalhada” em termos de SAC- Serviço de atendimento ao cliente.
A abordagem foi sobre a constatação do passageiro que todas
as revistas de bordo colocadas nas bolsas traseiras dos assentos estavam
rasgadas, sendo necessário trocá-las por outras mais decentes ou, inexistindo
novas folhas com letras e fotografias, recolher aqueles deselegantes bocados
que muito beliscavam a imagem da empresa detentora da aeronave e da Revista.
- Bom dia, o que o senhor vai beber?
- Vou tomar um café. A propósito, posso fazer-lhe um pedido?
- Sim. - Respondeu lacónica e já com o sobrolho carregado.
O passageiro sacou da bolsa da cadeira do avião pedaços da
revista e colocou-os por cima da mesa.
- Pois é. Noto que em quase todos os assentos a situação é
essa. É possível trocá-las?
- eu senhor, são crianças que viajam no avião quem fazem
isso. - O tom de Marisa subia à medida que o semblante viajava do desanimado
para preocupante.
O passageiro procura identificar-se como funcionário sénior
da empresa dona do avião operado pela companhia em que Marisa trabalha.
-Já dei instruções aos meus colegas para vos fornecer mais
material de leitura a bordo. Bastará pedir ao nosso departamento
administrativo, vosso interlocutor na gestão da aeronave. É possível retirar
esses pedaços e depois colocar novas revistas? – Emendou.
- Meu senhor, isso é com o pessoal de terra.
Nem mais nem menos, a jovem mulher, indelicadamente
destrancou o carrinho com sumos, refrigerantes, água e cafés e pôs-se a fresco.
“Terra é terra. Aqui é ar. Nossa empresa é assim”, pus-me a
pensar na resposta recebida, tentando digeri-la com dois goles de água que
ganharam um sabor envinagrado.
- E como encontrar o pessoal de terra se são as moças aéreas
que me atendem sempre que entro no avião?
Senti vontade de inverter os papéis e dar-lhe resposta
homóloga e ver se a engoliria com a mesma facilidade como ma impôs.
Não sendo essa a minha escola, preferi descontar no papel a
incómoda resposta e recomendar às aeromoças do meus pais mais formação sobre
atendimento e satisfação do cliente. “Um bom ouvido e uma boa resposta, ainda
que vazia de conteúdo prático, acalentam almas”- lembrei-me das lições da
professora Lozano. Um mau serviço afecta negativamente o produto que vem
agregado ao serviço, mesmo que o primeiro seja processado com a mais incomum
das perícias e tecnologias.
Acordei do sono e do sonho. Era já hora de poiso.
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