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quarta-feira, outubro 01, 2014

A BANHEIRA E A BACIA

- Amiga chega na minha banheira. Tem feijão, tem vassoura, tem chouriço, tem jimboa, tem alho, tem tudo.
A zungueira percorre Luanda de lês a lês com o megafone que manda para os ventos soltos o pregão do costume. E correm as donas de casa, correm as empregadas domésticas para Pará-la e comprar o que interessa.

- Joana, enche a banheira para lavar os pratos. – Berta ordenou, já noite, à filha.
Quer o recipiente em que ela carrega os produtos que vende, quer o recipiente em que se lava a loiça (onde não haja lavatório ou pia para os brasileiros) são bacias e não banheira.

- Jojó, me dá o “barde” e o “apá” do lixo. – Pediu Isabel ao filho para acrescentar: - "Quando estávamos a vir, “se demos encontro” com a prima Maria que foi “na” praça do “Adorfo” vender makayabu. Se estás a ir "no" rio Luzia,  pega "na" Jaja e “lhe traz” já na mãe dela que foi lavar roupa".
- Mamã, "mi" dá só aquela mochila. É muita coisa à frete de "me".- Respondeu o filho.
 Variadíssimas vezes ouvimos expressões como essas. Alguns dos oradores ou redactores são universitários que não deixam de receber críticas pela forma como "vilipendiam" a oratória e a escrita da Língua Portuguesa. Às vezes, fico com a sensação de que desaprendi a escrever. É tanta "bujarda" que me chega aos olhos e outras tantas vezes aos ouvidos.
 "Os médicos enterram seus erros. Os juízes aprisionam-nos. Os que escrevem expõem-nos", dizia um filósofo clássico.
Pior ainda quando o conteúdo que se quer transmitir, sobretudo nas redes sociais, vale menos do que o texto. Para quê se expor e "manchar" a banga toda? Por que não colocar apenas um  "like" nos textos encontrados nos murais do face book, a atrever-se a escrever palavras cuja ortografia não domina?
 “Se uns exibem as barrigas, há os que exibem os narizes e outros mambos. Outros ainda decidem exibir os seus ‘descompassos’ com a língua escrita. Esses precisam de exercícios. Os da barriga fazem abdominais e talvez lá cheguem. Os dos narizes fazem cirurgias e talvez fiquem menos narigudos. Os dos textos que revelam o seu questionável nível de instrução (não estou a falar de diplomas, porque estes até no Pau Grande tiram-se), devem mesmo voltar à escola para aprender a não ferir sensibilidades alheias. É tanta pedrada junta que um dia desarrumam o mundo!”
Escrever bem é difícil mas aprende-se. Leia muito. Pratique  a escrita normativa (fora dos clichés e abreviaturas do face book), faça cópias de livros bem escritos. Só quem lê passa a conhecer as palavras e a escrevê-las correctamente.
Não será bom que o seu empregador se aperceba de lacunas graves em questões básicas de escrita, interpretação e expressão oral.
É a falar que se aprende a falar. Leia sempre em voz alta para aperfeiçoar esse lado.

Obs: Texto publicado no Semanário Angolense.

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