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terça-feira, junho 24, 2014

"ANGOLÊS": NOVA LÍNGUA OU VARIAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA?

Dou continuidade ao debate iniciado na Universidade Lusíada, Instituto Superior da Lunda Sul, onde ministro como convidado a cadeira de LP I e II, sobre as tendências da Língua Portuguesa.

Partindo de estudos sincrónicos e diacrónicos (evolução histórica) das línguas, atentos às tendências, autores como Francisco Edmundo,  G. Bender, Amélia Mingas, entre outros, apontam os desvios visíveis na utilização da Língua Portuguesa em Angola como propiciadores do surgimento de uma "nova" língua a que designam por "Angolês, Português Angolano, Angolanos", etc.
Atendendo que as línguas têm sempre diferentes níveis de utilização (vulgar/popular, padrão/norma e erudito/científico) qual acha que será o desfecho?
 
a) Os desvios à norma (uso popular/vulgar da língua) coabitarão com o uso sincrónico/normativo, sem que para tal surja uma nova língua motivada pelos excessivos desvios à norma.
b)  Os excessivos desvios, os empréstimos/importações de outras línguas africanas (angolanas) e o génio criador/inventivo de novos vocábulos (neologismos) levarão ao surgimento do "Angolês".
c) Pode ser que haja, em Angola, dentro de séculos, uma língua distinta do português, mas ela só será autónoma quando tiver uma norma própria (léxico próprio e normas gramaticais) que a diferenciarão do simples desvio à norma da L. Portuguesa.
 
Está convidado (a) a seguir os comentários debitados no face book e deixar aqui os seus argumentos.
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Armando Graça: Já temos um exemplo concreto dessa evolução em Cabo Verde. O português continua a ser a língua oficial, mas o Criolo cada vez mais se afirma como idioma local.
Os puristas da linguística só têm mesmo que reconhecer o facto. E os puristas (nacionalistas) portugueses só têm de se orgulhar com as várias evoluções do idioma inicial.
Não lhe chamo "original" porque, bem vistas as coisas o idioma Português não é mais que a evolução de um conjunto de idiomas que parte dos Celta, do Latim, do Castelhano, etc. etc. etc.
Portanto, Um viva a todos os povos capazes que "criar" novos idiomas, Angolanos incluídos!!!

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Domingos Manjolo BomAno:  É muito difícil manter a unidade de uma língua que é falada por muitos milhões de pessoas. Assim o português será diverso na unidade.

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Victorino Tchikunda: Caro Luciano Canhanga, tendo em atenção a esses itens avançados, sou de opinião que o "Angolês" é uma necessidade imperiosa, visto que ele está aí nos nossos bairros, na musicalidade do " Kuduro" e na literatura, onde o nosso kota Jacinto de Lemos é dos maiores incentivadores desta corrente ou forma nova de falar-se o portugues, ou melhor pretuguês, " angolês", nos seus livros "Undengue" e o mais recente " Chico Nhô", do qual meu caro LC, vais beber algumas coisas, em outras manifestações sociais, concretamente no meu Sambila e no teu Rangu. É uma realidade. Se efectivamente existir vontade e interesse o "Angolês" irá vingar.
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Luciano Canhanga: Amigo Victorino Tchikunda, nas falas dos meus personagens já há manifestação de "uma língua" distinta do Português "original". Como monitor dessa cadeira sou suspeita em ditar caminhos, mas vou apelando à reflexão. Aliás, é esse o propósito da Academia: levar o estudantes a pensar e agir.
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Victorino Tchikunda: Correcto! Lançar as bases para os futuros linguístas agirem.
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KBgala Gala: Acho que terá vocabulário próprio com a mesma norma. Bom debate Luciano Canhanga.
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Alberto Baião Bebeckson: Se todo povo tem a sua filosofia, o angolano é um povo. Por que não ter também o seu idioma. Mestre Luciano Canhanga, basta olhar-mos para as colónias britânicas e francesas em Áfrika em termos de expressões, difere muito dos seus colonizadores! E o povo angolano é aquele que sempre procurou exprimir a sua linguagem na forma mais aberta de se compreender, isto engendra até o próprio sotaque e a influência das línguas regionais. O Angolês pode ser uma nova viragem na montanha lusófona!
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KBgala Gala: Ontem apanhei uma torra de katrungungu. Hoje estou bem malaique.
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Alberto Baião Bebeckson: Isto também, merece um olhar sumo do ponto de vista social até mesmo literário. Também há que se indagar muito sobre as gramáticas e os dicionários de Língua- Portuguesa totalmente angolano! Ora vejamos a mesma língua também está concebida de muitos vocábulos angolanos que durante a época colonial a enriqueceram para melhor facilitar a comunicação com o povo local... Tudo temos para reflectirmos perante este debate tão alto que ajudará muito na organização sócio-cultural e político em Angola.
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Isaías João: Pra frente que eu sei que não vais desconseguir.
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Luciano Canhanga: Kota KBgala Gala, no caso "Ontem apanhei uma torra de katrungungu. Hoje estou malaique" é um desvio ou importação de vocábulos Kimbundu para o léxico português?
Quando chegar o "Angolense", com nome, baptismo e cédula (norma) terão os estudiosos de definir como se deverão escrever as palavras (léxico próprio). Pois, pelo contrário, cada vai redigir de sua forma. Veja as variações caso se escreva a pronúncia sem regra ortográfica: catrungungo/katrungungu; malaike/malayke/malaique).
Que venha o "Angolês", mas com instrumentos próprios de regulação/modelação para que não surja depois "Vianês, Sambilês, Rangelês, Kazengwês" e outros "eses" linguísticos. Quanto aos níveis de fala ou utilização oral da língua os autores que tenho consultado não convergem. Eu aponto tês níveis sendo um abaixo da norma, a norma e outro acima da norma ou mais rebuscado (uso vulgar ou popular da língua sem recurso/apego à norma; uso da língua normativa ou falar como se escreveria; uso rebuscado e erudito da língua).
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Armando Graça: Não haja dúvidas! Este Facebook é fenomenal para debates sérios como este.
Claro que há por aí muito lixo, mas a esse, a gente não liga e não dá troco!
Parabéns, Luciano Canhanga!
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KBgala Gala: Luciano Canhanga bem colocada a questão. ..o vocabulário é o inventário das palavras e o dicionário o dos seus sifnificados.a norma e os níveis de linguagem já os enumeraste com propriedade. p.e. (por exemplo) "kupapata", em todos níveis será assim dito por nós angolanos. Quem dirá que “estive em Benguela e andei de taxi de motorizada”?
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Carlos Figueiredo: Amigo Luciano Canhanga, discordo radicalmente quando diz que os desvios e empréstimos levarão ao aparecimento do Angolense. De facto, ele já existe e só os conservadores que continuam presos à norma europeia é que não querem admitir isso. A confirmação científica do uso de determinado desvio (a variação) que se fixa definitivamente na língua (a mudança) só pode ser constatado com recurso a estudos que incidem sobre dados de fala. A disciplina que faz estes estudos é a sociolinguística quantitativa, que, com recurso a métodos apropriados, analisa o comportamento diacrónico dos dados de fala e observa como os fenómenos se encaixam na gramática inata do falante e da sociedade em que ele está inserido. Este é o único método que nos permite garantir, sem margem para dúvidas, que um determinado fenómeno deixou de ser pontual para passar a ser sistemático. Para tanto, é também preciso observar como factores linguísticos e sociais exercem pressão sobre o fenómeno, levando a que ele se implante na comunidade. Tanto quanto sei, apenas existe um trabalho com base nesses métodos sobre o português de Angola: é o extenso artigo que produzi no ano passado, em parceria com a colega Márcia Oliveira, da Universidade de São Paulo, sobre o sistema dos pronomes pessoais do português de Angola, e que já tive o privilégio de enviar ao meu amigo. Observe como foi feito diacronicamente esse estudo sobre o uso dos pronomes no português de Angola. G. Bender, Amélia Mingas e outros colegas, apenas têm apontado alguns fenómenos que apresentam variação, sem produzirem prova científica de que eles já fazem parte da gramática inata dos angolanos, pois não trabalham com sociolinguística quantitativa. Neste momento, tenho mais 3 artigos inéditos no prelo sobre o português de Angola, individualmente ou em parceria com os colegas que fazem parte da minha equipa de pesquisas do "Projeto Libolo". No início de Agosto estaremos num Congresso em Aruba, Caraíbas, apresentando o projecto e mais 3 artigos inéditos. Seguem-se depois Congressos em Brasília, ainda no mês de Agosto, Bahia, em Novembro, e Macau, em Dezembro, sempre com trabalhos sobre o "Projeto Libolo"/Português de Angola. Um abraço.
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Luciano Canhanga: Carlos Figueiredo, aprecio suas aparições e seus estudos socio-linguísticos que muito gostaria de ler na totalidade. Ir à Universidade angolana, dizer que já temos uma nova língua (ainda não pautada/normatizada) é um pouco arriscado. O melhor caminho é ir alertando (gradualismo). Quando tivermos estudos suficientes e um quórum que permita a apresentação do paradigma, ai sim. Mas devo confessar-vos que estou a viver bons momentos de debate com estudantes. Ontem, tive apenas aulas até às 20h mas permaneci nas instalações pois um grupo que vai debater hoje convidou-me para presenciar a sua preparação. E lá fiquei mais uma hora e meia. Noto que os estudantes estão a gostar, pois ensinar língua deve ir para além do já "corriqueiro" sujeito-predicado-complemento.
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Carlos Figueiredo: Amigos, podem fazer o download do artigo em: http://revistas.fflch.usp.br/papia/article/view/2078
revistas.fflch.usp.br
Português do Libolo, Angola, e português afro-indígena de Jurussaca, Brasil: cot...ejando os sistemas de pronominalização // The Portuguese spoken in Libolo, Angola, and the Portuguese spoken in Jurussaca community, Brazil: comparing the pronominalization... Ver mais
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KBgala Gala: Destrinçar entre a valorização e aceitação de uma nova língua ou que já é resultado das contribuições de palavras e expressões de que nos apropriamos e incorporamos ao léxico corrente e até são aceites em textos de várias latitudes: literatura, ciência, história... isso não pode significar escrever mal... sem estrutura normativa e regras. Nós não falamos angolense, (porém) nem temos uma escrita angolese... (por isso) continuamos a falar e escrever português que, entretanto, sempre recebeu e continua a receber das várias línguas angolanas alguns contributos. E não nos precipitemos a proclamar o nascimento de uma nova língua. O que se passa é na literatura (onde são) são admissíveis a criatividade e a invenção ou incorporação de vocabulários que resultam da linguagem popular, mas já não se poderia dar o caso no direito.  Na verdade, tal como dizemos que há 1 Português do Brasil, também temos um português de Angola, com normas do português de Portugal.
Todas as línguas, o sânscrito, latim, as línguas indo europeias foram dinamizadas pela linguagem popular. Assim, na Península Ibérica, do romano ou latim rudimentar deu lugar a línguas como o português, que como lembrava o meu mestre. E,(assinale-se) não é uma língua romântica.É uma língua românica.
Um dia quando o volume de palavras de cunho popular for de tal forma usadas em grande escala seremos obrigados a sentar numa grande conferência linguista para normatizar a nossas falas ou a corrente que defende a pureza normativa prevalecerá. E ai entram os bastidores da política.
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Luciano Canhanga: KBgala, concordo com seus comentários e faço delas minhas palavras.
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Carlos Figueiredo: O volume das palavras não é problema para a linguística, amigo KBgla Gala, já que a incorporação de novas palavras é absolutamente normal em todas as línguas, por condicionantes várias. A morfossintaxe e a fonologia é que são o cerne da questão. O que é mais correcto dizer: "Eu dei-lhe um livro" ou "Eu lhe dei um livro"? Para os europeus, a segunda forma é um desvio. No tempo colonial, essas construções eram pejorativamente apelidadas de "pretoguês". Mas preste atenção na forma mais generalizada em Angola. Veja a colocação do pronome pessoal. Isso impede a função primeira da língua, isto é, comunicar, passar a mensagem? A segunda frase é incompreensível? Não sei se o meu amigo fala kimbundu ou umbundu. Mas se fala, pense agora na língua africana e veja como é a colocação do mesmo pronome nessa língua. Isso é desvio? Claro que não. Mas é identidade! O que é que os angolanos querem no futuro? Seguirem fielmente a norma europeia, porque durante centenas de anos os portugueses lhes incutiram a ideia de que as línguas africanas eram sinónimo de desprestígio social? Ou marcarem a sua identidade milenar na língua oficial que falam, sem subverter a sua função? Os brasileiros já deram o passo em frente, vincando a sua identidade na língua, pois ganharam consciência que é essa que reflecte os verdadeiros usos de fala de milhões de pessoas. Identidade essa que, afinal, reflecte também a sua africanidade, que tarda a ser reconhecida pelos próprios africanos. Um mestiço pode renegar o seu sangue africano? E pode renegar o seu sangue europeu? As palavras da frases que apontei são o sangue europeu. A estrutura gramatical da segunda frase é o sangue africano. Qual é o problema de assumir isso? Como se diz em Portugal: Os parentes vão cair na lama por isso? Muito pelo contrário, amigo Kbgala Gala: essa é a heranças dos nossos antepassados africanos, que foi maltratada, vilependiada e subvertida durante séculos. Essa é a homenagem que todos nós lhes devemos.
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Horácio Cambole: Fala quem sabe. Grande remate final. Gostei do didactismo. Afinal a língua portuguesa também é nossa. Conquistamo-la com a independência. Agora pergunto o que falta para que Angola e Moçambique adiram ao novo acordo ortográfico? É o lado politico a que te referes, grande kbgagala. É que, as tantas, não me dou conta se estou a escrever bem o Português e penso que tenho de começar tudo de novo para reaprender. Ou seja tenho que ir novamente frequentar o ensino primário?!
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Carlos Figueiredo: A ortografia é simplesmente a tentativa de tentar transpor para o papel a forma como se pronunciam as palavras.
Há dias, o nosso amigo Luciano Canhanga perguntava, e muito bem, como se deviam grafar certas palavras do kimbundu. Essa é a questão, amigo Horácio Cambole. Devemos simplesmente grafar Pungo Andongo, por adaptação fonética ao português europeu por este não possuir certos sons do kimbundu e a antiga administração colonial portuguesa assim o ter determinado, ou devemos respeitar a verdadeira identidade da língua nativa, grafando Pungu a Ndongo?
Devemos renegar a existência do antigo reino do Ndongo, do qual as pedras em questão eram parte integrante? As coisas não são tão lineares como às vezes parecem, pois perda de identidade significa aculturação ou, pior ainda, desaculturação.
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Horácio Cambole:  Claro português falado em Angola. Com identidade própria. É nosso (angolano). O João lhe bateram na mãe dele.
Em kimbundo: Zwa a m'beta kwa ma'nha. (Nzwa a mubeta kwa ma’nha). Em Português de Portugal: O João foi batido pela mãe.
Na primeira frase há sim interferência da minha língua materna o kimbundu. As línguas nacionais interferem sim na fonologia da língua portuguesa em Angola e porque não? As diferenças fonológicas também existem em Portugal. Os do norte tem pronunciam diferente dos do sul. Vinho é binho. Os erres e os ierres, enfim. Creio ser fundamental criarmos primeiro uma identidade linguística tendo o nosso calão, a gíria as línguas nacionais e só depois o acordo.
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KBgala Gala: Amigos Carlos Figueiredo e Horácio Cambole, Os amigos acrescentaram ao sumário do debate muitos outros tópicos. Todos eles chaves da mesma questão. A questão da fonética é levantada frequentes vezes pela Dra. (Amélia) Mingas. O aspecto antropológico aqui colocado pela CF. Não respeitá-la ou mesmo denegri-la resultará na inquinação da nossa africanidade. Subscrevo, portando. No vou tanto pela grafia normativa mas acreditou que as duas fórmulas não conflituam. No Brasil raramente os textos não adoptam a norma corrente em oposição às (grafia) consciente de académicos e escritores. Os portugueses puritanos querem a pureza “camoniana” e os puritanos brasileiros querem a pureza da (sua) grafia. (Quanto ao AOLP) Angola pediu uma moratória. Entretanto em Portugal e no Brasil o acordo foi abalado nas suas estruturas de barro e isto fortaleceu a convicção dos oposicionistas. Mais não posso adiantar, amigos, porque tive domínio da matéria na qualidade de membro representante da CS dentro do mecanismo angolano que estudou o acordo. Mas, Luciano Canhanga e Gociante Patissa, só por mera distracção nossa não criamos ainda aqui no FB o Clube das Línguas Nacionais, Circuito Fechado. Neste momento estou a aprender lingala a partir da música de Franklin Boukaka. É que este formato aqui é muito apertado para esgrimir argumentos.
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KBgala Gala: Perdão. Não raramente escritores e académicos desprezam a norma autêntica para adoptar a norma coloquial: "lhe disseram tunda", "disseram-lhe...vá-se embora."
Meus amigos, até as implicações biológicas dos falantes devem ser observadas. A cadência fonética brasileira e angolana já é diferente da portuguesa..."ta bala!"..."ta bom!"..."muito bem!"...essa nossa urgência decorre de uma realidade sociológica, que produziu falantes que situados as margens da norma objectiva da gramática portuguesa, por exclusão social e económica, vão criando um vocabulário próprio para expressar as suas vivências.
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Horácio Cambole: Amigo Carlos, Angola não o corre o risco de ficar ultrapassada (quanto ao AOLP)? Angola e os nossos irmãos do Índico africano (Moçambique) por não subscreverem o acordo. É     que  Portugal avançou e pronto. É só ver as obras que estão produzidas ao abrigo do acordo… dicionários, gramáticas. A própria RTP e as lições do Bom Português, (baseadas) no novo acordo. Nós corremos o risco de sermos ultrapassados. Os nossos putos (filhos), nas nossas escolas, estão a aprender com a nova gramática ou não? É que, reparem Carlos e KBgala, há aqui uma disparidade pela não assumpção do acordo. Para os dois gigantes, Portugal e Brasil, a língua é dinâmica… Que se lixem os pretos e que estes venham a reboque.
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Luciano Canhanga: Temos tantas razões para assumirmos uma variante angolana da LP que incorpore, de facto, a génese do discurso africano/angolano com as incrustações das línguas africanas bantu e não bantu. Temos também razões para pensar num alinhamento com a norma internacional(?) da LP e abordarmos a questão do alinhamento ou desalinhamento com o AOLP. Se calhar, alguém pense que fiquei esvaziado nos meus argumentos. Não. Todos os argumentos aqui apresentados têm a sua validade. Li (parcialmente ainda) o estudo do Dr. Carlos Figueiredo (Figueredo no meu kimbundu do Libolo) e o mesmo é bastante realista quanto as construções frásicas e uso dos pronomes primeiros, etc.
Quo vadis LP em Angola? Vamos a tempo de escolarizar todos os angolanos ao ponto de falarem o Português "camoniano" como lhe chamou KBGala? Teremos cada vez mais angolanos (escolarizados ou não) a falarem a LP com laivos de africanimo?
Vão existir os que tenderão para o "Português Europeu" e tantos outros (maioria, se calhar) a marcarem a sua identidade milenar na língua oficial que falam, imposta pelo antigo colonizador.
Por outro lado, vejo, hoje mais do que antes a preocupação dos escritores angolanos levarem de forma explícita para o discurso escrito essa identidade (antes representada apenas nas falas dos personagens) de modo a marcar um ponto de ruptura (?) ou anunciação de uma nova realidade tangível e inexpurgável. Há hoje a preocupação de alguns escritores em não só escreverem as pronúncias (redacção difusa), mas atentos à grafia correcta, de acordo aos idiomas bantu e à semântica que encerra. Basta ver por exemplo que Kanjala e Canjala dizem coisas diferentes (fome pequena no primeiro caso e relativo à fome, faminto no segundo caso). Lopito ou Upito é uma coisa (passagem/porta) e Lubito não existirá no vocabulário ovimbundu. Chamo o Gociante Patissa ao debate.
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Gociante Patissa: Mano Canhanga, seria "Upito", creio. Lupito é o que mais se divulga. Confrade KBgala Gala, precisaríamos de um distribuidor de jogadas, alguém que coordenasse os contributos e gerisse o espaço a criar no FB sobre línguas nacionais.
Lauriano Tchoia: Aula grande e parabéns por termos pessoas "assuntosas" como Luciano Canhanga. Tornar possível a existência actual de uma língua angolana, remete-me a reflexão e análise das diversas formas da expressão da língua inglesa onde as influências das diversas línguas interferem e distorcem a essência.
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KBgala Gala: Espero, meus amigos e em especial ao meu mano Luciano Canhanga, que o conteúdo desta conversa na vá para o lixo. Que se faça um arquivo. Abraço a todos.
 

 
 

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