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sexta-feira, março 28, 2014
OS CINEMAS DOS MEUS MATINÉES
sexta-feira, março 21, 2014
AS QUESTÕES "POLÍTICAS" DO MAN-TONY
Simples, apesar de ser doutor e bem posicionado social e economicamente, Man-Tony construiu a sua humilde casa no bairro Precol onde nos recebia a todos como irmãos. Não distinguia os irmãos dos amigos destes. Era, por isso, o nosso kota, o Man-Tony.
Sempre que, por razões por nós desconhecidas fossemos mal recebidos pela esposa, Man- Tony dizia-nos: "não linguem, môs kandengues, são questões políticas".
Hoje, crescidos e amancebados, compreendemos o que ele nos estava a transmitir, o que considerava serem "questões políticas". Na verdade, eram assuntos que a nossa idade e estado civil não permitiam entender. Questões difíceis de gerir que obrigavam-no à gestão política da situação. Man-Tony não era homem de entrar em gritaria com a parceira aos nossos olhos, por mais coberto de razão que estivesse. E geria tudo de forma política, a arte do equilíbrio, do win-win. Pura verdade!
E, dizia-nos mais: "Môs kandengues, não se apressem em ter dama. Casa temos, mas o pitéu é complicado". Na nossa inocência sempre pensávamos que fosse mais difícil ter-se casa do que comida. Vemos hoje que, embora cerca de metade do que se cozinha vá ao lixo do que ao estómago, é por causa da comida que mais se encontram clivagens entre parentes.
Oiço, vezes sem conta, que o fulano não dá assistência alimentar, deixou o filho e não deixou a comida, etc. Coisas sem cabimento. Mas, mais uma vez dou razão ao Man-Tony.
sexta-feira, março 14, 2014
OS POLÍCIAS E FISCAIS QUE “ENVENENAM” A REPUTAÇÃO DE DIRIGENTES
sábado, março 08, 2014
O ÍNTIMO DE BRIGITTE E O SORRISO A ANGOLANA
No consagrado teu dia
Percorre-me a memória
Os sorrisos mais luminosos que me brindaste
Mesmo multi-atarefada
Mesmo preocupada
Entre emprego e família dividida
TEU SORRISO SEMPRE PRESENTE
De dor gemendo, aflita,
Sonolenta,
De noite mal dormida
Do mona adoentado
Moída pelo trabalho
Pelas lidas caseiras
Cuidando marido ressacado
Ou desviando patrão mal-intencionado
TEU SORRISO SEMPRE PRESENTE!”
Ø A minha saudação especial às nossas mães, razão da nossa existência.
Ø Vénia redobrada à Dra. Cândida Narciso que nunca deixou de estar presente num acto de lançamento de livros em Saurimo, dando assim exemplo de que a sociedade só cresce com conhecimento.
A nossa escritora tem como nome artístico Brigitte Caferro, sendo de nome próprio Brigite Causse Caferro. Nascida aqui mesmo em Saurimo, em meados da década de 80 do século passado, é formada em Administração pela Universidade Federal de Paraná, no Brasil. É cantora, artesã e escultora da palavra, sendo este “do meu íntimo mais íntimo” o seu primeiro “artefacto” literário. Brigitte Caferro também pode ser lida na antologia “Amores diversos”, publicada no Brasil, em 2012, bem como na “Folha Carioca” onde ilustrou com um poema a matéria “literotismo”.
O meu primeiro contacto com Brigitte foi pela via do FB, e já quando tinha terminado de ler o seu livro que me fora enviado para essa empreitada difícil que é apresentar o livro às senhoras e senhores aqui presentes.
Um estudo realizado recentemente
pelo investigador Tomás Lima Coelho, sobre a literatura angolana e feita
pelos angolanos, actualizada nesta última quinta-feira, aponta que, de 1849
(ano em que foi publicada a primeira obra de um angolano), a esta parte, o
número de escritores nascidos na Lunda Sul ainda NÃO CHEGA A DEZ. São apenas
SETE, contando já com a nossa caçula Brigitte Caferro, Sendo que o primeiro
lundasulino a publicar um livro em Angola foi o Professor Dr.
Vítor Kajibanga com “A alma sociológica
na ensaística de Mário Pinto de Andrade, em 2000”. A ele se seguiram Bula Mbungue, Elias Chinguli de Oliveira, Fonseca Sousa, Raul Luís
Fernandes Júnior e Valter Hugo Mãe (este último nasceu aqui em Saurimo mas vive em
Portugal desde 1976). Brigitte é, portanto a primeira lundasulina a
publicar um livro, já que, dos SETE naturais desta província, seis são homens.
Preocupados, vamos fazendo apelos
e vamos tomando iniciativas como a criação do Núcleo de Leitura e Literatura, na
Escola Superior Politécnica da Lunda Sul, que, desde já, convido todos os
jovens a frequentá-lo.Ø Ilustres senhoras e senhores,
Já vai sendo tempo de começarem a surgir novos valores na Literatura da Lunda Sul. Precisamos que surjam mais Brigitte Caferro. Pessoas que façam da escrita “a fotografia do coração”, conforme nos recomenda a nossa autora no seu poema ARTISTA (pág. 81). “Solte-se a palavra, por meio da escrita. Escreva-se, reescreva-se”.
Nos seus 76 poemas, Brigite apregoa, acima de tudo, o amor, o ser e a sociedade. A escrita de Brigitte é, sobretudo, intimista. É o seu grito ao encontro do “nós” social. A fotografia desta poesia intimista pode ser encontrada na pág. 17 “Dois corpos e uma paixão” ou ainda na pág. 21 “Vem amor/com teu fogo/causar-me curto circuito… /com teu cabo de alta tensão/ fazer-me conexão…”.
Nos “amores de Brigitte” encontramos também dilemas. A antagonia entre o estar juntos e compreender/enfrentar a separação. A ansiedade, o desejo de regressar e de reconquistar colos… Próprio de quem se encontre distante dos seus. Próprio dos migrantes.
Precisamos que surjam mais jovens como Brigitte Caferro. Pessoas que façam da escrita a fotografia do coração. “Solte-se a palavra, por meio da escrita. Escreva-se, reescreva-se”.
quarta-feira, março 05, 2014
O CARNAVAL DO RANGEL E A HOMENAGEM QUE FALTA A MAN-BRÁS
"Mamá, atuzemba. Atuzemba, atuzembel´anyi?! (Mamã, não gostam de nós. Por que não gostam de nós?!) Quando vai aí, Atuzemba está com o povo. Quando vem aqui, Atuzemba está com todos"
O refrão que já leva muitas décadas pertence ao grupo carnavalesco ATUZEMBA, do distrito urbano do Rangel, em Luanda. Não venceu o desfile central enem sei se desceu à nova marginal para dançar sob os olhares silenciosos (sob olhos secos) do Camarada Manguxi que repousa ali no seu mausoléu...
A coroa do carnaval de Luanda voltou, em 2014, ao Rangel, mercê da soberba actuação do União Sagrada Esperança, do bairro (agora distrito urbano) que me viu crescer e fazer-me homem. Foi no Rangel, entre a Rua da Ambaca, da Saúde, Comandante Cantiga, Rua do Paraná, Rua da Mão e rua do Povo, entre outras, que tomei contacto com o carnaval luandense, ainda no tempo do já finado “carnaval da vitória” que se realizava em Março para assinalar a saída do último “carcamano sul-africano-racista” do solo pátrio, a 27 de Março de 1976, depois da invasão estrangeira que visava inviabilizar a proclamação da independência de Angla pelo MPLA.
No Rangel, dançávamos ao carnaval da vitória com o Grupo Atuzemba, União Estrela do Kaputu (Zona 15), União Mãe Ya Ndengue, Andorinhas, União Povo do Rangel, União Juventude, e tantos outros que animavam o município inteiro, antes e nos dias do desfile. Agradava-me assistir aos ensaios e ver aquela gente alegre. Alegria espontânea e não comprada ou a troco de alguma distinção à marginal. E dançávamos eufóricos ao som da ngoma de lata, reco-reco, pwíta, chocalho, etc. O rei e sua rainha vestiam-se à moda angolana e exibiam coroas feitas a base de ferros recortados e outros metais. Era tudo a base do improviso e da espontaneidade. A criatividade também morava connosco e já se dizia que corria no sangue.
Mas quem mais alegria dava aos munícipes todos, em
especial às mamãs peixeiras e outras quitandeiras da praça das Corridas (hoje
mais conhecida como praça do Tunga Ngó) e da Praça Nova (defronte a
administração comunal do Rangel) e aos meninos e meninas da minha infância
“rangelina”, era o Man-Brás, exímio vocalista de carnaval, dançarino e tocador
de ngoma e pwita. Man-Brás sofria de algum distúrbio mental que não cheguei a
definir e alimentava-se frequentemente de carne que lhe era ofertada pelas
kintandeiras que apreciavam os seus toques e retoques de dança carnavalesca.
Depois da exibição, perguntava sempre: - Há uma gordurinha? - O homem referia-se a miudezas que voluntariamente lhe eram ofertadas.
Seguindo o som do seu batuque, muitas crianças chegavam a se perder, dando lugar a outro tocar de lata, desta vez, por parte das famílias cujos petizes se perdiam no rasto da ngoma do Man-Braz que continua o seu percurso.
- Nanyi wa ngi bongela kamona ka dyal'ê?! (Quem terá encontrado uma criança de sexo masculino?!)
Fruto disso, muitas mães preferiam mandar parar o Mam-Brás e tocar por alguns minutos à porta de casa, oferecendo-lhe depois aquilo que houvesse. Assim, as crianças deixavam de o acompanhar. Mas não era a mesma coisa ver o Mam-Braz tocar à porta de nossa casa e vê-lo exibir-se em rua livre ou na Praça das Corridas.
Mam-Brás foi um feitor e zelador do nosso carnaval de bairro. Carnaval alegre, sem preço, sem patrocínios, sem contrapartidas e que não era encomendado por ninguém. Man-Brás corporizava essa alegria de quem estava e sentia-se livre na sua terra.
O Man-Brás vivia na Rua Pernanbuco, também conhecida nos últimos
tempos por rua do “ti Avelino dos Santos”. Pernambuco, a Joana, era uma exímia
dançarina cuja história não me atrevo relatar por falta e precisão de dados.
Mas que foi tão boa a dançar ao ponto de ganhar o nome de uma das ruas do
Rangel, isso ela foi.
Apesar de sofrer de distúrbio mental, Man-Brás tinha o reconhecimento e respeito
de todos. Era prendado pelas mamãs que gostavam do som do seu tambor, da voz do
seu canto e dos toques da sua dança, quer na rua ou nos mercados onde
preferencialmente se fazia exibir. Nada cobrava. Apenas recebia o que lhe era
dado de oferta no momento da exibição e fazendo do seu carnaval, sem época, o
seu ganha-pão.
Man-Brás que, ainda faz ecoar no meu ouvido a nossa alegria de criança esboçada com o refrão: Man-Bragéé-é, Man-Bragéé-é! é o meu homenageado neste carnaval de 2014, cujo vencedor, em Luanda foi o União Sagrada Esperança do Rangel que homenageou os traços identitários da cidade capital angolana.
Que o próximo homenageado do carnaval seja o Man-Bragéé-é, Man-Bragéé-é!sábado, março 01, 2014
CUIDEM DE VÓS E CUIDEM DA VOSSA ALDEIA!
Segunda é uma das mães de Saypupu. Dança embriagada com a filha às costas. A menina, com um ano e meio de vida aproximadamente, está acometida de um furúnculo na genitália. A mãe, há pouco saída da adolescência, mostra-se menos preocupada com o que se passa com a filha. Ensaia toques de cyanda, a dança local, ao som alto espalhado por colunas montadas a propósito da campanha de sensibilização sobre as doenças provocadas pelo lixo nas comunidades. Segunda dança. Nas costas, a criança geme de dor.