Até 1984 inexistia a aldeia de Pedra Escrita. Vamos à origem do topónimo. O penedo acomodava uma frase publicitária da Estalagem Boa Viagem, pertença da família Olímpio, também conhecida por "Bar do Olímpio", no Lus(s)us(s)o, e foi apelidado pelos populares locais e outros que por lá foram passando como "a pedra escrita".
O surgimento da guerrilha, por volta de 1983 e o recrudescimento de ataques às aldeias e viaturas, acções de implantação de minas terrestres na rodoviária, em 1984 e anos subsequentes, fez parar os trabalhos na Fazenda Hoji ya Henda (antiga Fazenda Israel) e desapareceu o acampamento que albergava os trabalhadores de origem ovimbundu.
Já os trabalhadores locais (a exemplo de meus pais) tinham abandonado a fazenda em 1979/80 e construído suas aldeias e aldeolas fundadas por laços de parentesco, no Limbe que fica a 2 quilómetros a oeste de Pedra Escrita (estrada Kibala-Dondo).
Entre 1984 e 1985, grande parte da família Trinta, descendente de Katoto e fundadora do Limbe, regressou à procedência. A aldeia de Katoto migrava das margens do Rio Ryaha à Sangwisa (antes de se desdobrar nas actuais três aldeias que se estendem ao longo da EN 120).
Os ovimbundu que habitavam na Fazenda Hoji ya Henda, alguns locais descendentes de Kalombo e Tumba Grande, assim como a família "Xika Yango" (Raimundo Carlos), essa última oriunda do Mbangu-yo'Teka e que se haviam fixado na aldeola no Limbe juntaram-se em pequenos "songo" (pequenos aglomerados ou quarteirões) na zona de Pedra Escrita.
Outros continuaram dispersos em suas lavras e pequenas aldeolas familiares até que o Comandante António Infeliz João proibiu que houvesse pessoas a viverem nas lavras ou dispersas, aglomerando-as todas na aldeia de Pedra Escrita que se agigantou. Já no ano de 1993 contava com os aglomerados (songo) da Igreja Cheia da Palavra de Deus, os do Sétimo Dia, os do Kuteka (família Raimundo Carlos e Maria Canhanga) os de Kalombo e Tumba Grande, os "Mbalundu" oriundos e descendentes de ovimbundu que tinham trabalhado na fazenda e os antigos "recuas" da Kis(s)ala, Lwaty e indivíduos de outras proveniências que, não podendo constituir um aglomerado, se foram acomodando em outros, de acordo às afinidades que foram criando. A família Napoleão dos Santos, por exemplo, oriundos do Longolo (Lwati), sendo primos de Maria Canhanga (Kilombo Ky'Etinu), fixaram-se no "songo" dos de Kuteka. Este conglomerado recebeu, anos depois, outros oriundos do Kuteka, Hombo, Mbanze de Kuteka e Kiphela, aldeias que se acham longe do asfalto, nas proximidades dos rios Longa e Muxixe (antes de este afluir ao Longa).
Estima-se que a aldeia de Pedra Escrita tenha mais de 500 famílias o que "obrigou" a administração do Estado a implantar equipamentos sociais como: njango comunitário (inoperante há década), escola primária com 3 salas e 2 wc (estes ocupados pelos professores por falta de dormitório), início da construção de um posto médico (obra inacabada e abandonada que se acha perto da escola), implantação de uma linha de transporte de água bruta da montanha a oeste até à aldeia e, finalmente, a construção de outro posto médico que se acha junto à EN120. O fontanário, apesar da falta que faz aos aldeões, deixou de jorrar água há mais de seis anos.
Conta-se que "um agricultor esquartejou a tubagem com a grade do seu tractor e não repôs a tubagem até hoje". Os aldeões informam ainda que o assunto foi levado à administração, "mas o homem tem costas largas" e não dá importância aos apelos do povo que voltou a abastecer-se da "ndunga" (poço) situada na zona baixa aonde confluem, no tempo chuvoso, todos os resíduos fecais animais e humanos.
As consequências disso não são difíceis de adivinhar: propagação de doenças, enchentes no posto médico, mais despesas com medicamentos, aumento de mortes, etc.
Conhecendo o dinamismo da nova governação do Kwanza-Sul e adivinhando-se novas rotinas e orientações de trabalho a vir de Mara Quiosa (sem que se substituam necessariamente os inquilinos dos "palácios" da Munenga e de Kalulu) pede-se-lhe que se mande repor a água na aldeia de Pedra Escrita e que se busquem sinergias para a construção da casa dos professores e enfermeiros (exemplos que traz de Cabinda), podendo contar com a parceria do autor desta prosa e de outros que se venham a interessar pela causa.
A referida aldeia contará nos próximos tempos com uma biblioteca que é obra benemérita de um cidadão bem identificado, nascido na aldeia de Bangu-yo'Teka, cujos pais foram pioneiros na constituição do actual conglomerado.
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