Parece asneira, se a expressão for jogada com carga pejorativa por cima de uma mulher. Lá chegaremos.
Sabalu Lumbu, 60 anos, natural e residente em Ndalambiri, Ebo, é um tio que, até hoje, ainda não sabemos quem adoptou quem.
Nutrimos uma estima recíproca, sendo ele irmão mais novo da mãe do meu compadre João Martins. Conhecemo-nos na CADA. aonde, em 2018, fomos visitar a irmã do compadre João Martins que se encontrava internada no dispensário de TB. Falámos sobre uns assuntos circunstanciais. e, sem demora, nasceu uma empatia de tio para sobrinho. A finada tia Mariana Almeida, irmã mais velha de Sabalu Lumbu, é que já me conhecia.
Posto na sede do Ebo, a 12.02.2022, decidi que não sairia de lá sem o ver. Já lhe tinha ofertado um facto, em Novembro de 2021, quando fomos ao óbito da tia Mariana, o que o deixou maravilhado.
- Nessa aldeia, e mesmo na vila, ninguém tem fato como o meu! - Gabava-se de pessoas a ventos.
Desta vez, levei um presentinho para ele, mas me tinha esquecido do mesmo no albergue em que estava alojado. Saído do rio (do banho), Sabalu Lumbu, encontrou-nos já sentados em sua casa, pondo a prosa em dia (mahezu) com a esposa e a irmã que saíra de sua aldeia (próxima) para visita-lo.
Mal chegou, como que procurando cumprir uma promessa antiga, meteu-se a rondar o matagal à volta de casa, intentando procurar por algo que somente ele sabia.
- Ti Sabalu, não está a sentar. É o quê então? Será que já deixou de beber? - Provoquei-o.
- Não meu sobrinho. Isso não se deixa. Se trouxe uma garrafita, pode tirar. - Respondeu.
Enfiei os dedos na algibeira e de lá saíram mil Kwanzas que ele recebeu com vênia. Porém, não se assentou. Transpôs uma esquina e desfez-se de nosso horizonte visual, voltando momentos depois ofegante.
- Já bebeu! - Pensamos todos sem o verbalizar.
A conversa seguiu rumo, intensificando-se à medida que fossem chegando pessoas a quem João Martins brindava com recordações dos anos 80 e 90 do século findo, antes de deixar Ndalambiri para instalar-se na Cela e depois em Luanda.
Depois da despedida, e já junto ao carro encontrámos um saco contendo batata-doce e uma cabra amarrada que seria transportada no SUV, o que me levou a perguntar atónito:
- Sua cabra! - Respondeu, sem mais acrescentar.
A LuSa, assim baptizada em alusão às iniciais de nossos nomes (Luciano e Sabalu), ficou no Ebo a fazer companhia ao cabrito do João Martins, contando que dentro de dois anos me venha a dar um bode.
Por coincidência, na mesma noite, navegando pelas redes sociais, chegou-me uma estória sobre dois rapazes a quem foi dado dinheiro para a compra de tênis. Um comprou um par de tênis que perfilava na primeira linha da moda. O outro comprou uma cabra. Passados dois anos, o primeiro tinha os tênis rotos e andar quase descalço, ao passo que o segundo tinha já sete cabritos, podendo comprar igual número de tênis.
Fiquei a reflectir, para além do alcance simbólico e da consideração que se tem por quem recebe de oferta uma cabra, no valor comercial e multiplicador daquele presente do ti Sabalu Lumbu. Foi mais do que um simples caprino!
Publicado pelo Jornal de Angola, 06.03.22
1 comentário:
E a cabra morreu!
Que pena.
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