Já havia "descoberto" e relatado como decorria o "negócio dos borderaux" que se desenvolve dentro ou próximo de algumas repartições públicas que têm o utente como foco. Na altura em que publicámos o texto nessa coluna, o nosso apelo foi para que houvesse terminais de pagamento nas lojas de registo civil e similares, para que se pusesse cobro ao "negócio dos borderaux". Incógnito restava ainda "o negócio dos tpa" que descrevemos abaixo.
A fome, quando aperta, é como a chuva que não avisa nem escolhe quem molhar, quando ela "decide" cair. Basta estar desprevenido.
O local de concentração predileta desse novo negócio são aos mercados paralelos, oficiais e semi-oficias, onde existam vendedeiras de comida feita e algo para saciar afugentar a sede. Muitos são os cidadãos que, famintos ou acossados pela sede, se dirigem às barracas para atender a necessidade fisiológica sem que tenham as cédulas físicas, exibindo, para o efeito, o cartão de débito, também conhecido como cartão multicaixa ou multibanco. Em presença de negócio formal, nada haveria de especial, senão o acto de "riscar" o cartão na maquineta, descontar o valor correspondente e cada um seguir o seu propósito.
Porém, tratando-se de mercado muitas vezes informal, é aqui que se juntam o empresário "falido" ou aquele que tenha invertido o cor business e aqueles que apenas querem satisfazer a necessidade do momento e partir para a vida que resta viver.
Na ilha de Luanda, por exemplo, encontramos em vários locais portadores de tpa que nada vendem. Servem apenas de facilitadores, possuindo um terminal automático de pagamento (tpa) e algumas reservas em dinheiro físico. Como funcionam as operações?
Quando o comprador de produto ou serviço não tenha dinheiro físico e o fornecedor de produto ou prestador de serviço não possua terminal de pagamento, surgem os "negociantes dos tpa". Estes prestam-se em autorizar o desconto por via da sua "maquineta, obtendo uma comissão do comprador e outra do fornecedor, embora a factura total, quase recaia exclusivamente a quem esteja forçado pela necessidade de compra.
Por exemplo, numa barraca de venda de peixe, à Chicala, o individuo pede uma refeição ao custo de Kz 2500. Não tendo ele dinheiro físico, nem a vendedora um terminal de pagamento automático, o proprietário do mecanismo cobra Kz 500 pela operação, valor que pode ou não ser partilhado pelo comprador e fornecedor do produto.
Ao que pude apurar, esse negócio não se fica por aí. "Há zungueiros que já usam tpa nas suas transações, assim como meretrizes que também usam esse sistema de pagamento", disse Manuel Kissari frequentador da chamada praça do peixe, à Chicala.
Quando a necessidade se junta ao engenho, uns ganham mais e outros não permitem que a fome se acerque deles.
Quando a necessidade se junta ao engenho, uns ganham mais e outros não permitem que a fome se acerque deles.
Publicado pelo jornal Nova Gazeta de 07.06.2018
Sem comentários:
Enviar um comentário