Dois ataques
principais levaram-me a procurar refúgio em Luanda.
Primeiro em 1984,
quando me encontrava na sede comunal da Munenga. Fiquei na capital do país até
1987, saindo daí para a sede municipal do Libolo, Kalulu, onde permaneci até
Junho de 1990.
Em 1992, fruto do
cessar-fogo e a sua "mini paz", que era tanta para a nossa vida de
guerras sem fim, desloquei-me, em férias intermédias, à Pedra Escrita (Libolo)
e depois à aldeia de Kizowo, Kibala, onde residia Luciano Fernando Dambi, irmão
do meu pai. Eu gostava de bicicletas. Pegava em quadros simples e, peça a peça,
fazia daquele esqueleto emergir uma "Bina". Peguei um quadro e, de
regresso à Pedra Escrita, pendurei-a no ombro. A mochila repousava nas costas,
assim como caminham os militares. Era adolescente pleno a espreitar a
juventude. Corpo sarado e bem estruturado, 1,74m de altura.
Caminhava sozinho
perto de 25 quilómetros. Carros não havia. Muitas pontes ainda partidas por
reconstruir. A descer a aldeia de Kasanji (Lususu-Muxixi) Kalumbungu, chefe da
UNITA e sua tropa, fazem-me uma emboscada. À distância terão enxergado "um
militar com mochila às costas e PKM nas mãos". Cinco homens de farda verde
oliva a mostrar o desenho dos genitais, barba por arranjar, irromperam sobre a
estrada manipulando em simultâneo. Não entrei em desespero. Entrevistaram-me e
expliquei de onde vinha e para aonde ia. Conheciam meu padrasto que era soba da
Pedra Escrita. Minha permanência na Pedra Escrita foi apenas de um dia pois,
tinha certeza que os tipos, que andavam desconfiados que eu era anti-motim, lá
iriam para me incomodar. E a minha mãe informou-me, tempos depois, que mal me
retirei os homens apareceram perguntando onde me encontrava.
Publicado pelo jornal Nova Gazeta de 28/08/2018
Publicado pelo jornal Nova Gazeta de 28/08/2018
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